Por que monitor do VAR ainda não foi usado em 120 jogos na Premier League
Resumo da notícia
- Em 120 jogos do Campeonato Inglês, monitor do VAR não foi usado nenhuma vez
- Interpretação literal do protocolo e preocupação com demora estão por trás da orientação
- Uso do árbitro de vídeo tem causado reclamações; 29 decisões já foram revertidas
- Premier League estuda mudanças e deve passar a encorajar o uso dos monitores
"Mínimo de interferência, máximo de benefício": esse foi o lema pensado pela Premier League para a temporada de estreia do VAR (árbitro assistente de vídeo) na liga nacional que, hoje, é a mais valiosa do mundo. Mas o modo como essa visão tem sido colocada em prática, aliado a uma interpretação "ao pé da letra" do protocolo, gerou uma situação inusitada: em 120 jogos do Inglês, até agora o monitor à beira do gramado não foi usado nenhuma vez pelo árbitro para rever um lance, o que tem gerado muitas críticas na imprensa local. É o inverso do que vemos pelo Brasileirão.
A orientação para os árbitros ingleses é que o monitor deve ser usado com parcimônia, apenas em casos imprescindíveis, em que o VAR discorde de uma interpretação do árbitro de campo. O problema é que, segundo o protocolo, o árbitro de vídeo deve interferir somente em "erros claros e óbvios". O sarrafo para definir o que é um "erro claro e óbvio" em um lance interpretativo tem sido tão alto que os responsáveis pelo vídeo simplesmente não interferiram em várias decisões de campo, mesmo quando as imagens mostravam que o juiz pudesse ter errado.
Outro motivo para a tela à beira do campo não ser usada é o tempo que costuma ser consumido para as checagens - justamente um dos principais motivos de reclamação no Brasil. Na Inglaterra, berço do futebol, a preocupação foi grande para que a inovação do VAR não cortasse o ritmo natural de um jogo de futebol. E mesmo com os tempos de revisão, em média, sendo menores que os daqui, as pausas também têm gerado críticas de imprensa, jogadores e clubes.
Segundo dados oficiais da liga, até agora houve cerca de 800 checagens do VAR em 120 jogos, com 29 decisões do árbitro de campo revertidas - em nenhuma delas, o juiz foi até o monitor à beira do campo para rever a jogada. A demora média para reverter uma decisão do árbitro é de um minuto e 15 segundos, e uma checagem silenciosa na cabine leva em torno de 30 segundos.
É importante notar que já houve uma mudança no modo de operar do VAR na Inglaterra. Nas primeiras nove rodadas (90 jogos), nenhum pênalti ou cartão vermelho foi assinalado com a ajuda do árbitro de vídeo. Já na décima rodada as revisões do VAR foram responsáveis por quatro pênaltis e uma expulsão. O sarrafo para o que é considerado um "erro claro e óbvio" já baixou um pouco, mas ainda assim os árbitros não estão revendo as jogadas na tela.
Com uma avalanche recente de críticas - muitos comentaristas se perguntam por que ter um monitor à beira do campo se os árbitros não o usam -, a Premier League já estuda mudar essa política em breve. Neil Swarbrick, responsável pelo sistema do VAR no campeonato, afirmou que os juízes devem passar a rever os lances nos monitores, mesmo que isso signifique uma demora maior para decidir os lances, desde que os clubes façam essa exigência para "melhorar o processo". Outra possível novidade seria mostrar as checagens ao vivo nos telões dos estádios.
Das principais ligas que usam o VAR, apenas a Premier League opera dessa maneira, desencorajando que os árbitros revejam as jogadas no monitor. Na Liga dos Campeões, por exemplo, é comum a checagem no campo. Segundo o protocolo da Fifa, a tela à beira do gramado serve para o árbitro checar lances subjetivos em que o VAR tenha discordado da decisão de campo. Em casos objetivos, como lances de impedimento ou de falta fora ou dentro da área, a revisão no monitor não é necessária.
As polêmicas levantadas por uma inovação tão radical como o VAR em um esporte notadamente conservador para mudar suas regras, portanto, também têm movimentado o Campeonato Inglês. Se no Brasil muitas vezes a reclamação é que o árbitro de vídeo interfere demais, lá o caso pode ser o oposto: o recurso do vídeo não está sendo usado em sua total capacidade. Por isso é provável que, nas próximas rodadas, o uso do monitor faça sua estreia na Premier League.
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