Herdeiro das Casas Bahia inicia ações na Ferroviária com "modelo Red Bull"
Conforme adiantado pelo UOL na última terça-feira (12), a Ferroviária S.A. anunciou a chegada da "MS Sports", um braço de administração esportiva do empresário Saul Klein, herdeiro das Casas Bahia, como sua nova controladora. Klein terá a companhia de Giuliano Bertolucci, um dos mais influentes agentes de atletas do país, que vai administrar as categorias de base.
Os valores da negociação são guardados a sete chaves, mas a reportagem apurou que o novo grupo adquiriu 50% do clube-empresa de Araraquara que pertenciam ao grupo Know How, que investia no projeto desde 2012.
Os novos donos já têm seus homens de confiança envolvidos com a operação do clube, seja na cidade do interior paulista ou na região metropolitana de São Paulo. Os primeiros passos dessa transição indicam que o modelo a ser seguido será semelhante ao que a Red Bull botou em prática em sua escalada no futebol paulista e nacional. Um investimento de médio a longo prazo que acabou acelerado neste ano com a compra do Bragantino, a subida à elite nacional e a conquista da Série B.
A ideia é dobrar o orçamento do clube para o ano que vem, ao menos para a disputa do Campeonato Paulista, mas concentrar investimentos principalmente em jovens atletas, tal como a Red Bull priorizou em seu projeto. Para 2020, a ideia da empresa austríaca é chegar ao mercado com um orçamento de até R$ 200 milhões, que pode incomodar alguns pesos pesados do país. A Ferroviária, que jogará a Série D no ano que vem, vai trabalhar com quantias menores.
De forma oficial, a diretoria da Ferroviária se limitou a apresentar uma nota, assinada pelos novos investidores, afirmando que o grupo optou pela Ferroviária e por Araraquara por causa do projeto institucional construído em anos recentes, que tem fortes marcas de planejamento e transparência administrativa.
"Sabemos que a Ferroviária é o símbolo de um povo, da cultura de uma comunidade e carrega a história do desenvolvimento da Morada do Sol. Estamos chegando para amplificar toda essa simbologia. A Ferroviária pode ser maior e 'o apito da locomotiva' pode e deve ecoar mais alto, além das fronteiras do solo paulista. Queremos a Ferrinha ocupando seu espaço no Brasil", diz um trecho da nota.
Uma questão que ficou evidente no comunicado foi a preocupação com o vínculo do time com a cidade. Há, em Araraquara, uma apreensão da possibilidade da Ferroviária, após a concretização do negócio, ser levada para outro destino, como já aconteceu em outras parcerias entre clubes e empresas. Um interlocutor ligado à atual diretoria afirma que há uma cláusula contratual para manter o clube na mesma sede. O novo acionista também não poderá mudar as cores do time, nem o escudo. O investimento engloba também o futebol feminino, categoria na qual a Ferrinha é a atual campeã brasileira.
Nesse sentido, já se replica a parceria entre Red Bull e o Bragantino. A marca de energéticos, que inicialmente administrava sua equipe em Campinas, manteve na presidência do clube de Bragança Marquinhos Chedid, da família que foi sinônimo de sua administração nas últimas décadas. Ainda não está definido quem presidirá a nova Ferroviária, mas a ideia é que um nome da cidade seja apontado como o gestor.
Roque Júnior fica
O ex-zagueiro Roque Júnior, campeão do mundo pela seleção em 2002 e atual diretor de futebol da Ferroviária, vai permanecer no clube. O mesmo deve acontecer com o técnico Vinícius Munhoz. "A empresa aglutinará ao projeto da Ferroviária para somar forças aos profissionais que já se dedicam aos objetivos do clube, gestores que também carregam currículos vitoriosos", disse o comunicado divulgado pelos novos acionistas.
A reportagem apurou que, alheio às movimentações dos bastidores, o novo departamento de futebol já está trabalhando: 14 jogadores que disputaram a última Copa Paulista já foram dispensados oficialmente. "Montaremos uma equipe nova", garante uma fonte da diretoria.
Na última quinta-feira (14), Roque Júnior esteve em São Paulo com Júlio Taran e Marcelo Teixeira, executivos da parceria, numa reunião de planejamento para o próximo Paulista. A ideia inicial é que a Ferroviária contrate de três a cinco jogadores com média de faixa salarial de 100 mil reais. Que se juntariam a uma base já cultivada pelo clube. O experiente atacante Rafael Marques, ex-Palmeiras, hoje no Figueirense, é um dos cogitados.
Nove jogadores que foram titulares na última temporada vão retornar ao time, entre eles o lateral Diogo Mateus, hoje no Coritiba, o zagueiro Ryan, do próprio RB Bragantino, e Felipe Ferreira, que vem sendo bastante utilizado por Vanderlei Luxemburgo no Vasco.
Há quem sonhe mais alto e vislumbre que a Ferroviária possa contar com jogadores "europeus" como Dentinho e Taison, que foram vítimas de racismo no Campeonato Ucraniano e estariam dispostos a voltar ao Brasil. Os dois são agenciados por Giuliano Bertolucci, parceiro do negócio.
Mas isso não vai acontecer. A empresa de Bertolucci ficará responsável pelas categorias de base, realizando transações de jogadores que não forem aproveitados na equipe profissional, para o exterior.
Oficialmente, o negócio vai ser assinado terça-feira, quando o conselho de acionistas se reúne. Mas a ousada parceria já está fechada. "A meta central, o foco, é, em 2025, a Ferroviária estar na elite do futebol nacional", diz seu comunicado.
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