Craque do Sub-17 "venceu" peneira de 300 garotos e deu Mundial ao Palmeiras
Resumo da notícia
- Gabriel Veron, do Palmeiras, foi eleito melhor jogador do Mundial Sub-17
- Brasil venceu o torneio após bater o México, de virada, na grande decisão
- UOL Esporte conversou com a mãe de Veron e outras pessoas ligadas ao jogador
- Veron passou por peneira com 300 jogadores antes de iniciar no Santa Cruz-RN
- Palmeiras teve Inter, Bahia e Athletico como concorrentes para levar Veron
O nome remete ao grande craque argentino, ex-volante da seleção albiceleste, mas as semelhanças param por aí. Gabriel Veron, de 17 anos, é atacante, nasceu no Brasil e, fisicamente, não tem nada a ver com La Brujita, que já pendurou as chuteiras e hoje é presidente do Estudiantes-ARG, clube pelo qual conquistou a Copa Libertadores de 2009 já na reta final de sua carreira.
Juan Sebastian Verón se despediu do futebol em maio de 2017. A data coincide com a chegada de Gabriel ao Palmeiras, após dois anos atuando pelo Santa Cruz-RN, clube que o descobriu em uma peneira com 300 jogadores. Apenas 45 dias após a sua chegada ao Alviverde, Veron foi convocado, pela primeira vez, para a base da seleção brasileira. E de lá não saiu mais.
Gabriel Veron Fonseca de Souza acaba de ser eleito o melhor jogador da Copa do Mundo Sub-17, vencida pelo Brasil no último domingo (17) após vitória por 2 a 1, de virada, sobre o México. Foi ele, aliás, quem sofreu o pênalti que resultou no gol de empate da seleção brasileira. Antes disso, havia sido o destaque da conquista do Mundial de Clubes sub-17, pelo Palmeiras, em 2018. Veron começa, até a passos largos, a realizar o sonho que tem desde criança, revelado por sua mãe, Graciele Fonseca da Silva, de 33 anos, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
"Virar ídolo, conquistando muitos títulos importantes e fazendo muitos gols com a camisa do Palmeiras", conta a mãe, ao ser questionada pela reportagem sobre o maior sonho do filho. A saudade pela distância de Gabriel já está mais controlada do que quando ele deixou o Rio Grande do Norte rumo à capital paulista para iniciar os trabalhos na base do Palmeiras.
"Chorei muito, porque não queria ficar tão longe do meu filho, mas, mesmo assim, eu o apoiei muito, pois ele estava indo em busca de um sonho que é se tornar um grande jogador", diz a mãe, que brinca ao recordar o momento da primeira convocação para a seleção. "Ele tinha 45 dias de Palmeiras, e foi uma grata surpresa, aconteceu muito rápido. Ele mandou o link da convocação e depois fez uma chamada de vídeo dizendo 'mãeeee fui convocado'", lembra.
Um em 300 e 'subida' ao profissional logo aos 14
Natural de Assú (RN), Gabriel Veron foi descoberto em uma peneira que o Santa Cruz-RN fez pelo interior do Estado. De 300 jogadores, ele foi o único selecionado, já apresentando as características que o fizeram ser eleito o melhor jogador do Mundial Sub-17 - como conta Lupércio Segundo, ex-presidente do clube potiguar e hoje um dos sócios da empresa que administra a carreira de uma das grandes promessas da base do Palmeiras.
"O Veron foi descoberto por uma peneira que nós fazemos pelo interior. Isso aconteceu de 2015 para 2016, o Gabriel tinha 13 anos. Nós recebemos o convite de um parceiro nosso, o Gilson, que é da cidade de Assú, onde ele residia, e falou dele. E numa peneira de aproximadamente 300 jogadores, escolhemos somente ele. Aí o levamos para Natal, temos uma estrutura do clube, e ele acabou disputando competições pelo Santa Cruz, sub-15, torneios locais e regionais", diz.
Com apenas 14 anos, Veron passou a conviver com os profissionais do Santa Cruz-RN, num trabalho que até hoje é feito pelo clube com o intuito de dar mais experiência aos meninos. "Quando ele completou 14, fizemos um trabalho que aplicamos até hoje: inserir garotos novos no grupo profissional. Embora soubéssemos que ele não ia disputar competição de profissional, ele passaria a vivenciar uma realidade de futebol profissional, de maturidade", analisa.
"A gente entende que, se ele estiver no profissional, vivenciando isso, quando chegar [a outro grupo] estará pelo menos no mesmo nível de competitividade, e se for um jogador diferenciado pode estar acima dos outros. E foi isso que aconteceu com o Veron; ele fez um trabalho de três meses junto ao grupo de profissional e foi para o Palmeiras fazer uma avaliação, e já ficou. E em 45 dias de Palmeiras ele foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira", acrescenta.
Eugênio Gomes, primeiro treinador de Veron no Santa Cruz-RN, reforça o trabalho feito pelo clube: "É bem integrado com o profissional. Nós colocamos o Veron no profissional para ir criando experiência. Por exemplo: eu estou de auxiliar no profissional justamente para integralizar; claro que os tiros de carga são diferentes de um profissional, é uma questão de maturação, mas o Veron participava do aquecimento, estava no dia a dia para ver como as coisas funcionavam, e acabou criando uma maturidade acima dos outros. Participava, por exemplo, de uma roda de bobinho, então conseguia trabalhar melhor o passe. Em alguns momentos dos treinos ele ficava fora, mas estava sempre trabalhando com os jogadores profissionais".
"Ele veio como jogador de meio-campo, e aí, com o tempo, foi se adaptando com velocidade, força, porque ele sempre foi acima da média neste sentido. E como garoto de grupo, ele foi muito bom para trabalhar, sempre me escutou e foi muito tranquilo", acrescenta.
Primo ajudou a acalmar Veron no início da carreira
Ficar longe de casa com apenas 13 anos foi algo difícil para Gabriel, ao menos no começo. Tanto é que um primo seu também deixou Assú rumo à Natal-RN para passar um tempo com o ainda menino e futuro jogador. O plano deu certo, e Veron seguiu o processo de evolução no Santa.
"No início ele ficou meio nervoso. Estava longe de casa e não tinha costume; aí o presidente do clube, o João Quebra Osso [João Batista Nobre], para fazê-lo ficar no clube, já que estava vendo potencial, trouxe até o primo dele para acalmá-lo, para dar tranquilidade para ele trabalhar, porque ele não queria perder o garoto. Só que depois de algum tempo o Veron foi se acostumando, tanto é que o primo não ficou, voltou para o interior, e ele continuou firme e forte treinando, esperando o momento certo para poder aparecer a oportunidade", conta o técnico que trabalha como auxiliar da equipe profissional há cinco anos e é treinador da base há quatro.
Palmeiras superou concorrentes para levar Veron
As boas atuações de Veron pelo Santa Cruz-RN abriram os olhos de vários outros clubes do Brasil, entre eles o Palmeiras. De acordo com o técnico de apenas 26 anos, Inter, Athletico-PR e Bahia também tentaram a contratação do atacante. Mas foi o Alviverde quem levou a melhor.
"Tinha muita gente fazendo pressão, muitos clubes atrás dele. Só que o João Quebra Osso segurou e disse: 'no momento certo a gente vai mandar você'. Teve o Athletico-PR, Bahia, Internacional, vários times atrás dele. Aí ele foi e me desejou boa sorte, e eu falei: 'arrebenta lá, faz o que você sempre fez'; tanto que ele nunca mudou, é a mesma pessoa. É por isso que achamos que ele vai dar certo: é humilde do mesmo jeito, e sempre teve potencial", afirma.
Na chegada ao Palmeiras, Paulo Victor, ex-técnico do sub-15 do Palmeiras, precisou de pouco tempo para perceber que Gabriel Veron tinha algo diferente. Em poucos dias, ele já foi puxado para o time alviverde para disputar as competições, entre elas a Copa Nike.
"É um menino de poucas palavras, mas de muita atitude no dia a dia, no trabalho dentro de campo. Ele chegou ao sub-15 em abril de 2017, a gente estava se preparando para uma competição na Itália e também para a Copa Nike. E ele chegou com um grupo de avaliação no começo da semana, e eu me recordo que segurei o grupo para trabalhar no fim das atividades, e separei uma de confrontos individuais; sempre gosto de iniciar as avaliações pelos trabalhos de um contra um, e ele chamou muita atenção, com algumas características difíceis de se encontrar nos jogadores: uma associação de força e velocidade, boa qualidade técnica", diz.
"No segundo dia de treino, já o aprovei e, a partir daí, começou a utilizá-lo nas competições. Dentro de dez dias, após ser aprovado, estava jogando a Copa Nike, e teve um excelente desempenho que acabou chamando muita atenção da seleção brasileira, e começou a ter as oportunidades. Por fim, acabamos nos cruzando novamente na seleção sub-15, a qual assumi em agosto de 2017, e fizemos o Sul-Americano sub-15 juntos", completa o treinador.
Uma das principais promessas da base do Palmeiras, Veron foi destaque do título do Mundial de Clubes conquistado pelo sub-17 no ano passado, quando foi o artilheiro e melhor jogador da competição, com um gol e uma assistência na final contra o Real Madrid. Mesmo com idade de juvenil, já disputou torneios pela equipe sub-20 do Verdão.
"O Veron não mudou em nada"
Eugênio Gomes conta que Gabriel Veron segue o mesmo de quando o conhece aos apenas 13 anos. Segundo o treinador, ele, sempre que pode, volta ao RN para visitar família e amigos: "Ele está vindo várias vezes para Natal. Ele pede ou pra mim ou pro João Quebra Osso buscá-lo no aeroporto. Não mudou em nada. A gente tem uma amizade muito grande com a família".
Ídolo e inspiração
De acordo com a mãe Graciele, Veron tem Cristiano Ronaldo como grande ídolo no futebol. "Ele sempre falou que o profissionalismo, a vontade de vencer, a confiança que ele tem em si próprio, o fator decisivo, tudo isso o deixa encantado", diz. Fora de campo, a grande inspiração de Gabriel é o já falecido avô, José Nazareno da Silva, o Sr. Zeca. "Ele tenta se espelhar no avô, meu pai. Infelizmente ele não está mais aqui conosco, mas, enquanto esteve sempre foi um exemplo".
O que Veron tem de diferente?
Eugênio Gomes, primeiro treinador de Veron
Ele sempre treinou mais forte que os outros meninos, isso é fato. Ele treina mais que os outros têm uma coisa que acho que é diferente dos outros garotos, isso é dele. Por exemplo: vai começar um treino, um jogo, e a fisionomia dele muda, a cara dele fecha, ele se transforma. Ele tem o espírito campeão que você não vê em todos os garotos, e ele é diferente nisso, é concentrado. Penso que essa é a maior qualidade dele. Ele é acima dos outros, é fora do normal, e graças a Deus nunca mudou. Outro detalhe: o Veron teve acompanhamento de trabalho na academia. Sempre levei ele e os outros meninos pra fazer trabalho, claro, com carga moderada, mas ele sempre fez trabalho de força. É por isso que o Veron, quando chegou ao Palmeiras, chegou com o corpo bom. Tanto é que, em um mês de Palmeiras, pegou seleção brasileira.
Lupércio Segundo, ex-presidente do Santa Cruz-RN e responsável pela carreira de Veron
Além do diferencial técnico dele, a maturidade e o foco em pensar numa carreira, numa progressão, em conquistar... É o que faz ele ser diferente. Desde que ele chegou no Palmeiras, ele nunca se deslumbrou com situações acima do projeto, da carreira, e hoje, no mundo que vivemos de futebol, jogador que joga uma ou duas partidas já se acha. Então isso acaba sendo um diferencial do Veron, e a gente acredita nesta continuidade da evolução dele.
Paulo Victor, ex-técnico da base do Palmeiras, hoje na seleção brasileira
As conversas com o Veron sempre foram muito positivas. É um menino muito disposto, que segue à risca as informações passadas, que cumpre todos seus compromissos, e que também tem uma boa capacidade de decisão, uma autonomia, uma capacidade de improviso bastante interessante. As conversas também eram no sentido de vida, de educação, de propósito... Tenho certeza que ele vai ter uma carreira de muito sucesso, sempre com os pés no chão, com muita humildade, muito trabalho, que é da pessoa, da essência dele. Não tenho dúvida que ele tem um futuro brilhante a seguir, primeiro dentro do clube, na seleção brasileira, e alçar voos cada vez maiores.
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