Peruano que conduz flamenguistas também sonha: filho deficiente é seu motor
Na tela do celular, o motorista William Guerra leva uma singela mensagem que o ajuda a seguir em frente na difícil rotina: "Willito", meu motor e meu motivo". A frase traduz o sentimento de pai para filho. Na estrada, o peruano busca dar melhores condições de vida para seu caçula, que é deficiente.
William, 52 anos, é um dos responsáveis por conduzir o sonho de 19 torcedores do Flamengo rumo à capital do Peru, palco da final da Libertadores. Alheio à busca do time pelo título continental, o peruano também carrega sonhos pelo longo caminho entre o Rio de Janeiro e Lima.
Willito, como é chamado carinhosamente pelo pai, enfrenta problemas para ter uma vida normal em Chincha, cidade a 200 quilômetros de Lima. Ele nasceu com baixo indice glicêmico no sangue e isso o deixou com severa defasagem de aprendizagem. "É como se ele tivesse um ano", conta o motorista de ônibus.
"Ele nasceu com baixo índice de açúcar no sangue e começou a ter muitas convulsões quando era pequeno. Ninguém encontrava o diagnóstico. Aos oito anos, descobriram o que o deixava assim", completou.
A evolução é lenta, mas possível. E isso move William a seguir trabalhando duro na estrada mesmo depois de 25 anos de profissão. Ele dirige cerca de dez horas diárias e passa apenas quatro dias por mês em casa.
No trajeto Rio-Lima, reveza a direção do ônibus com o companheiro Victor Quintana —são cinco horas no volante e outras cinco em um cubículo atrás da cabine, onde há uma cama.
O salário, entretanto, não é suficiente para o tratamento completo do filho. Willito precisa fazer sete sessões de fisioterapia todos os dias. Cada uma custa 22 soles (R$ 35). Dessa forma, o custo mensal é de aproximadamente R$ 7 mil, muito acima do salário do motorista. Muitas vezes, o garoto faz somente duas sessões, fato que dificulta a rotina.
"Meu sonho é que ele tenha uma maior qualidade de vida. A fisioterapia ajuda a melhorar a concentração, a ter estabilidade, a falar, a comer sozinho. Mas é muito caro, meu salário não é suficiente", disse William, que tem outros três filhos, todos adultos.
Como ele passa muito tempo na estrada, sua esposa, Nely Vitória, dedica-se exclusivamente a Willito. Nos dois dias que passa em casa a cada quinzena, William sacia a saudade que carrega nas estradas da América do Sul. Embora o trabalho seja pesado - são 25 anos de profissão -, o motorista é feliz assim.
"Via meu pai dirigindo, via o sacríficio que ele fazia. Eu gostava disso. Cada um nasce com um dom. E eu nasci para ser motorista, gosto disso, de conhecer lugares e pessoas", afirmou, com um sorriso de esperança nos lábios.
#UOLrumoaLima
A final da Libertadores entre Flamengo e River Plate está marcada para o próximo dia 23. Uma semana antes de a bola rolar no Estádio Monumental de Lima, no Peru, o UOL Esporte partiu rumo à capital peruana ao lado de torcedores rubro-negros. A viagem, entretanto, não será comum. O trajeto de pouco mais de seis mil quilômetros será feito de ônibus. Durante estimadas 116 horas, o ônibus passará por seis estados brasileiros (Rio, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre), incluindo parte do Pantanal e da Amazônia, além das capitais Cuiabá, Porto Velho e Rio Branco.
Já em território peruano, a caravana vai passar por Puerto Maldonado, Cusco e, enfim, Lima. No total, serão quase cinco dias de viagem, do Atlântico ao Pacífico, com dez paradas previstas. A chegada, portanto, deve acontecer na quinta-feira, dois dias antes da decisão entre Flamengo e River.
Confira o que os ocupantes do ônibus já viveram até agora:
- Ônibus de torcida do Fla cruza fronteira no limite e chega ao Peru após 92 horas
- Ônibus Rio-Lima sofre com alagamento antes de driblar buracos rumo ao Acre
- Ônibus de flamenguistas gasta R$ 10 mil em combustível para ir até Lima
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- Além de flamenguistas, ônibus Rio-Lima carrega história de amor de peruanos
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- Sem ingresso, flamenguista vende TV no Recife e viaja por 16 dias até Lima
- Do Rio até Lima: UOL Esporte embarca em ônibus da torcida do Flamengo
A empresa responsável pelo deslocamento é a peruana Ormeño, que realiza o trajeto uma vez por semana, mas, por causa da mudança de sede da final de Santiago para Lima, decidiu colocar um ônibus extra destinado aos torcedores.
A viagem pode ser acompanhada pelas redes sociais do UOL Esporte, com #UOLrumoaLima. O repórter Diego Salgado foi o escolhido para a missão. Nos últimos dois anos, ele se especializou em viagens longas de bicicleta. Em 2018, atravessou a América do Sul, de Porto Alegre a Santiago, no Chile (1.939 km em 27 dias). Há três meses, o trajeto escolhido foi na Europa, de Barcelona, na Espanha, a Amsterdã, na Holanda. Na ocasião, ele pedalou por 2.028 km em 29 dias e passou por seis países.
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