Topo

Santos

Polêmicas com Peres geram instabilidade no Santos desde início da gestão

José Carlos Peres, presidente do Santos - Ivan Storti/Santos FC
José Carlos Peres, presidente do Santos Imagem: Ivan Storti/Santos FC

Eder Traskini

Colaboração para o UOL, em Santos

21/11/2019 04h00

A gestão do presidente José Carlos Peres no Santos já ficou conhecida pelo enorme número de conflitos entre mandatário e cartolas contratado ou técnicos. Não à toa, mais de 15 "homens fortes" já foram contratados pelo Peixe no período e deixaram o clube: alguns com direito a declarações polêmicas sobre a gestão.

O último foi o superintendente de futebol Paulo Autuori, contratado ao final de julho. Com menos de quatro meses no cargo, o cartola se irritou com declarações do presidente na mídia, principalmente sobre Cueva, e com o número de vezes que precisou ir até a sala de coletivas para "apagar incêndios".

Antes dele, passaram no cargo máximo do departamento de futebol, ainda que com outra nomenclatura, outros três nomes: Gustavo Vieira de Oliveira, que ficou 45 dias, Ricardo Gomes, que permaneceu pouco mais de dois meses, e Renato. O ex-volante assumiu ao final da última temporada e ficou até o final de fevereiro no cargo, quando se afastou por problemas pessoais, retornando após a chegada de Autuori para outra função.

E não foi só o departamento de futebol que sofreu perdas. Desde que Peres assumiu, o Santos já teve três executivos jurídicos (Daniel Bykoff, Rodrigo Gama e Pedro Felipe), três de comunicação e marketing (Vinicius Lordello, Paulo Verardi e Marcelo Frazão), dois administrativos (Ricardo Feijoo e Fernando Volpato) e três gerentes de futebol (William Machado, Sérgio Dimas e Gabriel Andreata).

Além desses, o Comitê de Gestão, formado por sete membros indicados pela chapa eleita (presidente José Carlos Peres e vice-presidente Orlando Rollo), sofreu quatro perdas por renúncia. Tempos depois, alguns deles criticaram duramente o mandatário em reunião do Conselho Deliberativo.

As críticas do CGs vão ao encontro do que muitos dos diretores que passaram pelos altos cargos do Santos durante a gestão Peres afirmam: há um enorme ruído de comunicação. Decisões são mudadas repentinamente e, às vezes, sem explicações.

Base e profissionalização

Outros três nomes foram recentemente desligados no Departamento de Base: Marco Maturana, executivo, Carlos Muñiz, supervisor, e Reginaldo Lima, diretor do departamento de captação. Para o lugar deles, com o cargo de gerente, foi contratado Jorge Andrade, ex-Internacional, Figueirense e Athletico-PR.

Apesar das várias críticas recebidas, o presidente José Carlos Peres vem promovendo uma espécie de profissionalização interna, que era encabeçada atualmente pelo Superintendente Paulo Autuori. Com o dedo dele, o Peixe trouxe William Thomas, diretor técnico de futebol, e Everson Rocha, analista de mercado, ambos profissionais conceituados no mercado e com passagem pelo Athletico-PR.

A mesma lógica valeu para as contratações de nomes como Rodrigo Gama e Fernando Volpato, ex-Athletico, Marcelo Frazão, ex-Flamengo, e os próprios executivos Gustavo Vieira, ex-São Paulo, Ricardo Gomes, ex-técnico bastante conceituado. Ainda assim, ao menos metade dos profissionais criteriosamente contratados não suportaram os bastidores da Vila Belmiro e deixaram os cargos.

Técnicos também entram em conflito

Com exceção de Jair Ventura, que por perfil não entrou em polêmica direta com o presidente José Carlos Peres, os outros dois comandantes que passaram pelo clube não pouparam críticas à gestão e, além disso, não gostaram nada de declarações do mandatário sobre decisões tomadas por eles dentro de campo: casos de Bryan Ruiz, com Cuca, e Cueva, com Sampaoli.

O UOL Esporte separou declarações do presidente José Carlos Peres e de cartolas, técnicos e até jogadores que passaram pelo clube nos últimos dois anos e não gostaram do que viram.

Defesa de Peres sobre ser de difícil relacionamento

"Briga do Peres é uma lenda. Ficou 45 dias o diretor de futebol e a decisão não foi minha. Foi colegiada. Estava em experiência e foi demitido. Tivemos o Ricardo Gomes que é uma pessoa maravilhosa. Recebeu proposta maravilhosa e deixou saudade. Paga multa ao clube. Acima de qualquer coisa fez uma dobradinha comigo e falávamos a mesma língua. Briga existe com quem quer muito poder ou não aceita determinação. Não é nariz empinado. Trato funcionários como eu gosto de ser tratado. Somos uma família. Todo mundo é unido, é difícil de acontecer. Volpato fez trabalho maravilhoso no estádio, ajuda em tudo. Merece nossos elogios. Nosso jurídico é maravilhoso, difícil montar uma equipe assim. Equipe muito boa no marketing, Frazão e companhia", afirmou em entrevista coletiva após Rollo dizer que o mandatário era "unanimidade".

Peres sobre Bryan Ruiz

"Bryan, no meu entendimento, é excelente jogador. Acredito que se ele jogar na posição dele, ele engrena. Já ouvi gente falando que não tem explosão, mas Lucas Lima não tem e é de referência. A não ser que o técnico queira alguém de explosão. Se pegar um cara de referência... não entrou nunca assim, sempre esquerda ou direita, e não é assim. Achei que jogou bem assim, mas rende bastante como meia. Eu acho que mais um 10 seria interessante", disse Peres, irritando o então técnico Cuca.

Peres sobre Cueva

"Cueva está treinando, esperamos que haja o bom senso de ele jogar. Jogador do nível dele não pode ficar na reserva. Tem que valorizar o produto para poder negociar, se for o caso", afirmou Peres à "TV Gazeta", entrando em conflito com o Superintendente de Futebol Paulo Autuori e também o técnico Jorge Sampaoli.

Gustavo Vieira sobre gestão do Santos

"Futebol tem que ter uma linha de comando muito clara, evidente e forte, para se ter respeitado o ambiente interno, como também no ambiente externo, você tem que ter premissas que hoje em dia são aceitas, como: um comando unificado, uma palavra dada sendo respeitada, decisões encadeadas estrategicamente. Quando essa interlocução com o ambiente de decisão tem uma certa poluição ou insegurança, isso cria uma perturbação em todo o sistema. Quando um grupo político entra, há um assentamento entre eles, uma certa disputa por poder e cobiça por espaços. Isso gera distúrbios por questões de protagonismo", disse o ex-diretor executivo do Peixe à "ESPN".

Cuca sobre gestão do Santos

"Pode até amanhã me mandarem embora. O Santos tem de melhorar muito profissionalmente, melhorar muito internamente. E não é pouca coisa. Isso que ocorreu (caso Sánchez) é um erro muito grande, muito grave. É o "bê-a-bá" de situações que não podem ocorrer. Isso resulta em tudo o que aconteceu hoje (confusão com a torcida). O torcedor já vem louco da vida. Eu quero poder ajudar o Santos com a experiência que tenho vivida em outros clubes recentes, até da própria capital, e mostrar um caminho. Mas o pessoal tem de abrir os braços e querer melhorar juntos. Quero o bem do Santos, e precisamos melhorar muito", disse o ex-técnico em coletiva após o 'caso Sánchez'.

Sampaoli sobre promessas feitas pela gestão

"Não estava sabendo da situação financeira do Santos. Estamos esperando que as promessas sejam cumpridas. Equipe que terminou na 10ª posição (do Brasileiro), sabendo da saída desses, e de um estilo distinto de treinador, há a necessidade de potencializar com novos jogadores. Houve a promessa de contemplar essa realidade. Se o clube tivesse me dito que não estava bem, impossível. A realidade seria outra. Vim para fazer uma equipe forte. E espero que isso aconteça", confessou em entrevista no CT Rei Pelé.

Gustavo Henrique sobre renovação

"Sobre o contrato, vim para esclarecer algumas coisas. No final do ano passado, estava querendo renovar e não obtive respostas, comecei o ano na incerteza sobre ficar. Esperava a procura pela renovação do contrato, faltavam sete meses e não fui chamado. Creio que estou fazendo um ano, um dos melhores, talvez o melhor da minha vida. Só eu sei o que sofri para superar as lesões. Minha família sabe. Esperava o reconhecimento de me chamar antes, fui chamado faltando dois meses para poder assinar um pré-contrato", disse em coletiva.

Autuori sobre motivo da saída

"Eu me propus vir aqui (sala de coletiva) poucas vezes e já vim três. Não quero vir mais. Minha decisão é até em dezembro. Nenhuma possibilidade de ficar. Tenho minhas ideias e opiniões. Tenho uma imagem que carrego com muito orgulho na minha carreira, não de vitórias ou títulos. Eu costumo dar minha opinião sobre temas ligados ao futebol e quando sinto que esses temas são colocados pela figura máxima da instituição de uma maneira com a qual eu não concordo, porque tem uma visão completamente distinta, desculpem-me voltar ao meu último papo, eu disse que estava incomodado", disse em coletiva.

Orlando Rollo sobre Peres

"Presidente afastado Peres consegue ser unanimidade. Não tem ninguém que se dê bem com ele. Todo mundo que aporta no Santos Futebol Clube, seja no Departamento de Futebol ou na gestão administrativa, se indispõe com ele, um absurdo. O problema não é meu, me dou bem com todos, são amigos. O problema é que todo mundo briga com o Peres e ele com todo mundo. Sou apenas mais uma das vítimas do temperamento dele", disse na última semana quando declarava ser "presidente em exercício" diante da suspensão de Peres.

Santos