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Francês - 2019/2020

Tuchel abandona "mimos" a Neymar e ganha apoio do vestiário do PSG

Neymar deixa jogo do PSG direto para o vestiário, passando ao lado do técnico Thomas Tuchel - FRANCK FIFE / AFP
Neymar deixa jogo do PSG direto para o vestiário, passando ao lado do técnico Thomas Tuchel Imagem: FRANCK FIFE / AFP

João Henrique Marques

Colaboração para o UOL, em Paris (França)

23/11/2019 04h00

Thomas Tuchel passou um ano e meio elevando Neymar e contribuindo para que o brasileiro tivesse tratamento privilegiado no clube francês. Só que a crítica pela viagem do camisa 10 a Madrid para acompanhar a disputa da Copa Davis de tênis na noite de quarta-feira é vista internamente como uma mudança no relacionamento entre técnico e jogador. Segundo apurou o UOL Esporte, o conflito surpreendeu parte do vestiário do PSG, mas foi considerado necessário para que fique evidenciado o fim de um protecionismo a Neymar. Na troca de alfinetadas, o comandante alemão foi considerado como o dono da razão pelos líderes do time.

Tuchel foi sútil. Destacou que Neymar teve comprometimento em treinos fortes durante uma semana marcada pela pausa em datas Fifa —com a obrigação da liberação dos jogadores para compromissos por suas seleções—, mas se posicionou: "O que eu posso fazer? Não sou pai dele, não sou a polícia, sou só um treinador. Como treinador, eu fiquei feliz com essa viagem? Claro que não gostei. É o momento de ficar chateado? Não, não é o momento", disse Tuchel na quinta-feira.

O problema na avaliação do treinador é que Neymar está em processo de recondicionamento físico após 40 dias sem entrar em campo, por conta da recuperação de uma lesão na coxa esquerda. Isso foi o que levou Tuchel a substituir o brasileiro em seu retorno ao PSG. A alteração aconteceu aos 20 minutos do segundo tempo na vitória por 2 a 0 diante do Lille, na noite de sexta-feira, pelo Campeonato Francês, e teve como reação por parte do camisa 10 a caminhada direta ao vestiário. Ele decidiu não acompanhar o jogo no banco de reservas.

"Muitos jogadores partem direto ao vestiário, outros ficam no banco. Eu nem vi, pois estava concentrado em uma mudança tática do time. Nós devemos discutir essas coisas internamente depois", destacou Tuchel.

"Não conversei com o Neymar depois do jogo. Cheguei ao vestiário, e estava um grupo conversando e outro de outro lado. Depois do jogo falamos muito pouco sobre o que aconteceu em campo. Cada um tem uma reação diferente, e é mais do que normal ele não conseguir jogar os 90 minutos pelo tempo que esteve parado. Até falei com ele no intervalo do jogo perguntando se estava bem e ele disse que sim, mas é algo natural a substituição. A gente quer é que ele esteja bem na fase para nos ajudar. Agora ainda é recomeço para ele", comentou o capitão do PSG, Thiago Silva.

Neymar tem até a vaga ameaçada

Tuchel sempre se referiu a Neymar como "nosso jogador-chave". No entanto, na nova postura até mesmo a vaga de titular foi colocada como mistério. Para o próximo duelo do PSG, contra o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, terça-feira (26), pela Liga dos Campeões, o treinador avisou que um, entre quatro os jogadores do ataque, Neymar, Di Maria, Mbappé e Icardi, vai estar no banco de reservas.

"Sim, todas as coisas são possíveis, porque isso não?",perguntou Tuchel quando perguntado se Neymar pode começar a partida no banco de reservas em Madrid.

A discussão em torno da vaga de Neymar foi criada por conta do sucesso do PSG em seu período de ausência. Ele ainda não atuou na Liga dos Campeões tendo o time vencido os 4 jogos realizados (3 a 0 diante do Real Madrid, 1 a 0 contra o Galatasaray e 1 a 0 e 5 a 0 contra o Brugge).

"Sinceramente, ainda não decidi. Preciso dormir, refletir e preparar bem o time nesses dias que antecedem o jogo. Vamos com calma, pois é como eu disse: tudo é possível", insistiu Tuchel.

A mudança no trato a Neymar

Tuchel se acostumou a defender Neymar no PSG. A polêmica viagem ao Carnaval do Brasil na temporada passada, as festas em Paris, e o esforço para transferência ao Barcelona: nada foi criticado abertamente pelo treinador. A declaração padrão era a de que o brasileiro era julgado sem que as pessoas realmente o conhecessem.

O trato diferenciado de Tuchel a Neymar incomodava alguns jogadores do PSG. O camisa 10 chegou a ter folgas extra na temporada passada por avaliação de cansaço. Nos treinos, outra postura do treinador que desagradava parte do elenco era a de transformar o brasileiro em um coringa, com um colete que o permitia jogar para os dois times, variando entre eles de acordo com a obtenção da posse de bola.

O excesso de enaltecimento ao atacante ainda gerou revolta no vestiário no início da atual temporada quando Tuchel declarou não ter no elenco jogadores capazes de realizar a função de armação como Neymar. Na ocasião, Di Maria e Draxler foram citados nominalmente como exemplos de tentativas de insucesso de substituição ao brasileiro.

A partir deste conflito, Tuchel passou a tratar Neymar como um "jogador importante" do elenco e frisou não ter mais interesse em responder questionamentos sobre o brasileiro até que a continuação dele no Paris Saint-Germain fosse confirmada: "Falo sobre os jogadores que tenho a disposição", insistia o treinador alemão.