Flu precisou dobrar valor em venda de atletas para fechar orçamento de 2019
Resumo da notícia
- Orçamento "otimista" exagerou em previsões de receita para 2019
- Sem patrocínio master, Fluminense abriu buraco nas finanças e recorreu a permutas
- Sócio-torcedor, que será remodelado, não decolou apesar de mobilização da torcida
- Tricolor também tem déficits em bilheteria, processos judiciais e esportes olímpicos
- Penhoras "comem" parte do dinheiro, e fluxo de caixa segue instável
- Assim, Flu precisou arrecadar R$ 85,5 milhões em vendas, mais que o dobro dos R$ 40 milhões previstos
Se previu apenas R$ 40 milhões em negociações para 2019, o Fluminense conseguiu R$ 85,5 milhões (contando com os bônus do negócio já sacramentado de João Pedro com o Watford). O problema é que um orçamento "otimista demais" fez o Tricolor precisar arrecadar mais que o dobro com venda de jogadores para fechar a conta em 2019.
Ainda que o Campeonato Brasileiro não tenha chegado ao fim, o clube não alcançará os valores orçados na soma de direitos de transmissão, marketing e comercial, clube social e premiação, o que fez com que as transações virassem necessidade, e não fôlego para os cofres.
Após consultoria da Ernst & Young em 2016, o Fluminense mudou o jeito de fazer seu orçamento anual. Houve um consenso no clube de que a previsão de receitas e despesas passou a retratar melhor a realidade e, em alguns casos, ficou mais conservadora. Exceto para 2019, quando o Tricolor exagerou um pouco em áreas como marketing, bilheteria e premiações.
Sem um patrocinador master e recorrendo a permutas em propriedades comerciais de seu uniforme, o Flu nem de perto conseguiu chegar aos R$ 36 milhões estimados pela gestão Pedro Abad no orçamento para 2019.
Na camisa atual, o peito campanha do Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT/RJ) e serviu para desonerar dívidas do Tricolor, os patrocínios da Forteviron (costas) e Doce Rio (barra frontal) serviram para que o clube deixasse de gastar com suplementação e aluguel de ônibus. Apenas a Kashbet (ombros), a Azeite Royal (barra traseira), a Auto Visa Rio ("selo peito" e calção) e a Tim (números), pagam valores para o clube. Juntando tudo e diminuindo os gastos das permutas, o Tricolor alcança cerca de R$ 8 milhões.
Outro ponto ficou longe do esperado: calculando as premiações de Campeonato Carioca, Copa Sul-Americana e Copa do Brasil, o Tricolor arrecadou cerca de R$ 16 milhões. O orçamento previa R$ 25,4 milhões. A premiação do Brasileirão pela colocação está, em tese, na parte de direitos de transmissão, onde o Flu deve alcançar os R$ 91,9 milhões previstos. Caso termine a competição na posição atual, o Fluminense deve receber, ao todo, R$ 91,6 milhões.
Os demais valores como bilheteria e sócios são mais difíceis de calcular. Ainda assim, o Tricolor estimou arrecadar R$ 18,5 milhões. Os jogos no Maracanã têm contabilizado seguidos prejuízos. O programa de sócio-torcedor, que a gestão Mario Bittencourt prometeu remodelar para 2020, por outro lado, evoluiu nos últimos meses, mas o Flu não deve receber mais de R$ 7 milhões no ano apesar da mobilização da torcida.
Por outro lado, os custos também envolvem os esportes olímpicos, motivo de diversas críticas de torcedores e conselheiros, devem alcançar déficit de R$ 30 milhões até o fim de 2019 de acordo com os balancetes disponíveis no site oficial do clube.
Recentemente, o conselheiro Marcelo Souto abriu campanha nas redes sociais para recolher assinaturas e requerer a suspensão dos esportes olímpicos no Fluminense. Seus colegas no poder independente do clube, entretanto, não se somaram a ponto de ser possível enviar o requerimento ao presidente do Conselho Deliberativo, Fernando Cezar Leite. O advogado foi pré-candidato à presidência do clube e prometia encerrar as atividades olímpicas do clube caso fosse eleito. Ele não conseguiu, entretanto, as 200 assinaturas necessárias para concorrer no pleito.
Isso tudo sem contar penhoras e processos judiciais já em execução, onde o Fluminense, apesar dos esforços, segue acumulando dívidas e perdendo cerca de 30% do que recebe, principalmente da televisão. O Tricolor orçou apenas R$ 6 milhões de despesas processuais, mas só os gastos com o Caso Wellington Nem e com a Unimed já somaram mais que o quádruplo da conta.
Em coletiva, recente, o presidente Mario Bittencourt lembrou que, apesar de ruins para o fluxo de caixa, as penhoras geram pagamento de dívidas. O mandatário afirmou que nos seus cinco meses de gestão, o clube pagou R$ 24 milhões. Mas ainda possui mais de R$ 300 milhões não parcelados a pagar nos próximos 24 meses, como as dispensas feitas pelo WhatsApp por Marcelo Teixeira na gestão Abad, responsáveis por R$ 26 milhões.
De acordo com Mario, o clube arrecada mais do que gasta operacionalmente, só que as dívidas impedem o Tricolor de manter um fluxo de caixa previsível, constante e crescente.
"Todos os nossos acordos estão sendo cumpridos desde que eu cheguei. Porque há essa comunicação com o credor. Assim, a gente vai se acertando. A gente ainda vai passar por muita dificuldade nesse sentido, por uns bons anos. Porque o volume de receitas é maior que o despesa operacional. O clube, inteiro, se paga. O futebol fatura mais do que gasta. Mas, o que come o nosso dinheiro é a dívida. Só da venda do Pedro, foram mais de R$ 7 milhões. Isso são duas folhas do futebol. Se não acontece isso, estaríamos com salário em dia", declarou.
Apesar de todo o descompasso contábil, jurídico e financeiro, o Conselho Fiscal deu parecer positivo para as contas e o Conselho Deliberativo as aprovou, em reunião esvaziada no Salão Nobre de Laranjeiras. Voz dissonante entre os conselheiros, Sergio Poggi previu em seu perfil no Twitter os problemas nos números.
Procurado pelo UOL Esporte, ele resumiu sua opinião sobre os números em uma frase:
"Eu não sou mágico nem vidente... apenas se trata de questão de lógica", disse.
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