Incêndio no CT faz 10 meses, e famílias estudam acionar Flamengo na Justiça
Em meio às celebrações pelas conquistas da temporada e o pensamento no Mundial de Clubes, o Flamengo vê o incêndio no Ninho do Urubu completar 10 meses e pode virar alvo de mais três ações judiciais de familiares de vítimas fatais, com inquérito ainda em análise pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Sem acordo quanto às indenizações, as famílias de Pablo Henrique, Jorge Eduardo e Christian Esmerio, três dos dez mortos na tragédia, estudam acionar o Rubro-Negro na Justiça. Além do clube, a ideia é citar também a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
O UOL Esporte mostrou, em matéria publicada em outubro, quando o caso completou oito meses, que as defesas das famílias aguardavam a finalização do inquérito, uma vez que a peça era considerada decisiva para a base de cálculo e responsabilizações.
"Já passou do tolerável. [A família] Teve essa paciência toda, mas tendo em vista todo esse tempo. São 10 meses... Já se entende que o inquérito pode não ser tão essencial para dar entrada com uma ação. Todos sabemos do acontecimento, da responsabilidade do clube. Neste momento, não temos mais como esperar", disse o advogado Arley Campos, representante da família de Christian Esmerio.
Mariju Maciel, advogada da família de Pablo Henrique, ressaltou que as manifestações em homenagem aos "Garotos do Ninho", após as conquistas do Campeonato Brasileiro e da Libertadores, foram feitas pelos jogadores:
"A família esperava uma procura por parte do Flamengo, que ficou inerte. Não houve nenhum contato diretamente com elas. Esses últimos acontecimentos, com todo o brilhantismo do ano do Flamengo, fez com que a ferida ficasse latente. Não há um momento em que se ligue a TV e não veja a imagem do Flamengo. Se esperava que o Flamengo, com todo o êxito financeiro obtido com as vitórias, fizesse uma ação de aproximação com as famílias. Chamou a atenção que todas as manifestações [após os títulos] foram feitas pelos jogadores, jamais pela diretoria. Frente à inércia e ao abandono, não restou outra alternativa que não o ajuizamento do caso, que deve acontecer nos próximos dias", declarou.
Casos a intenção das três famílias se concretizem, serão quatro casos a chegar à Justiça. O único, até o momento, é o da mãe de Rykelmo, que entrou com uma ação para o indiciamento de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Rogerio Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Até aqui, a diretoria chegou a quatro acordos em 11 negociações. Dos casos finalizados, há o das famílias de Athila Paixão, de Gedson Santos, e de Vitor Isaias, além do pai de Rykelmo.
Com a mãe de Rykelmo e com os familiares de Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Jorge Eduardo, Pablo Henrique e Samuel Thomas ainda não houve resolução. As defesas não são conduzidas de forma coletiva.
Ministério Público analisa inquérito
De acordo com nota do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) enviada ao UOL Esporte, o inquérito é analisado pelo Promotor de Justiça com atribuição criminal.
"Informamos que na área criminal, há um inquérito que estava na Polícia, retornou ao MPRJ e está em análise pelo Promotor de Justiça com atribuição criminal".
Em julho deste ano, os promotores do Ministério Público devolveram o inquérito para a Polícia Civil, sob o argumento de que as provas apresentadas não eram suficientes. Em sua investigação, o delegado Marcio Petra, do 42ª DP, indiciou o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello e outras sete pessoas.
No começo de outubro, o Ministério Público recebeu o novo documento, que foi encaminhado ao Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (GAEDEST/MPRJ).
Justiça obriga pagamento de R$ 10 mil mensais
Em decisão assinada pelo juiz Arthur Arthur Eduardo Magalhães Ferreira, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o Flamengo está obrigado a pagar uma pensão mensal de R$ 10 mil para cada família das vítimas fatais do incêndio no Ninho do Urubu, que aconteceu em fevereiro e deixou dez jovens mortos. A decisão foi proferida em caráter liminar. Tal pensão é válida até que saia a decisão final do imbróglio envolvendo clube e familiares das vítimas.
A ação foi formulada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro. O clube pode recorrer.
O documento é do dia 4 do mês passado. Porém, o Rubro-Negro foi intimado na última quinta-feira (5).
Protestos "solitários"
Recentemente, singelos protestos aconteceram envolvendo o incêndio no Ninho do Urubu. Na semana anterior à final da Libertadores, familiares de Samuel Thomas, uma das vítimas fatais, foram à porta no CT do Flamengo para estender uma faixa com o dizer: "Boa sorte na Libertadores dia 23/11. Não se esqueçam dos nossos meninos do Ninho do Urubu".
Houve a tentativa de ganhar o apoio de alguns nomes do elenco rubro-negro, mas sem sucesso.
Alguns dias depois, na segunda-feira após a final da Libertadores, o técnico Jorge Jesus foi homenageado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e recebeu o título de Cidadão Honorário da Cidade do Rio de Janeiro. A cúpula rubro-negra compareceu ao evento e, ao chegar à Câmara, o presidente Rodolfo Landim ouviu o pedido de uma torcedora: "paguem às famílias dos garotos do Ninho".
Tragédia usada por torcidas rivais
Nos clássicos com o Flamengo, pelo segundo turno do Brasileirão, torcedores de Botafogo e Vasco lembraram a tragédia no Ninho do Urubu. Os alvinegros colaram cartazes na entrada dos visitantes no Estádio Nilton Santos em que cobravam o pagamento das indenizações. Já os vascaínos chamaram o Flamengo de "time assassino".
Presidente afirma que clube está aberto a negociações
Ao fim da solenidade na Câmara Municipal, Landim concedeu uma entrevista coletiva. Questionado sobre o andamento das negociações com as famílias, ele negou que a diretoria tenha deixado as famílias desassistidas e afirmou que o Rubro-Negro vem mantendo bolsas aos familiares.
"A primeira coisa que queremos lembrar é que, em relação, a esses meninos... O Flamengo nunca deixou as famílias desassistidas, pelo contrário. Desde o momento do acidente, que foi, talvez, a página mais triste da história do Flamengo, o Flamengo sempre esteve presente. Trouxe as famílias... O Flamengo continua dando uma ajuda de custo para essas famílias, independentemente de ter tido qualquer acordo, entre seis e dez vezes do que era a bolsa que dávamos a esses garotos. Fora isso, chegamos a acordos com três famílias e meia porque, na verdade, com um dos meninos chegamos a acordo com parte da família e com a mãe ainda não. Mas com as outras seis, continuamos em negociações", disse, na ocasião.
O mandatário disse que, em muitos casos, as "brigas" judiciais duram anos e que, desde o primeiro momento, o Flamengo buscou soluções.
"Só relembrar que em todos os casos que a gente já viu de situações semelhantes, a gente vê essas discussões se arrastarem na Justiça por décadas, às vezes. Nenhuma instituição deu um passo à frente, como o Flamengo deu desde o primeiro momento, de tentar buscar a negociação com as famílias e buscar indenizar essas famílias dentro daquilo que a gente achava que era dentro do limite do razoável. Os valores com os quais o Flamengo indenizou as três famílias que acordaram, posso garantir a vocês que é muito superior ao maior valor julgado como dano moral a uma família de algum caso semelhante que tenha ocorrido no Brasil", declarou Landim.
"Mas, mesmo assim, acordos só podem ocorrer quando os dois lados estão de acordo. Não existe o Flamengo impor a sua vontade. Precisamos que o outro lado concorde, e eles são orientados pelos advogados deles, e aí o Flamengo não pode falar. O que o Flamengo pode falar é que está disposto a fazer esses acordos tão logo as famílias queiram e, posso garantir, em cima de bases muitos superiores a tudo aquilo que foi determinado pela Justiça no Brasil até hoje", completou.
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