Herdeiro das Casas Bahia tem recepção de estrela para assumir a Ferroviária
A segunda-feira foi um dia diferente para Araraquara. Às 11h30 da manhã, o empresário —e herdeiro das Casas Bahia— Saul Klein desembarcou no Aeroporto Bartholomeu Gusmão. O mais novo acionista da Ferroviária veio acompanhado do filho Philip, que vai morar na cidade e será o novo Diretor Financeiro do clube, além de Júlio Taran, braço direito de Giuliano Bertolucci, responsável pelas categorias de base do projeto.
Avesso a entrevistas, Klein nunca falou tanto e por tanto tempo como ontem. Visivelmente animado com o projeto em Araraquara, disse: "Aqui será trabalho com competência. Não é necessariamente dinheiro que trará a competência", falou.
Há algumas pistas que explicam porque um dos homens mais ricos do Brasil (especula-se que tenha vendido sua parte para o irmão por 6 bilhões de reais), escolheu Araraquara e a Ferroviária para investir seus recursos.
É um clube de futebol com métricas de gestão e eficiência em todos os setores, não somente dentro de campo. Todos os departamentos estão profissionalizados. "A Ferroviária já está um passo à frente dos outros porque ela já é uma empresa. Ela está 20 anos adiantada. Ela seguiu esse caminho de empresa para gerir o futebol, mas com relação com a comunidade", disse o empresário tão logo pisou em Araraquara.
Ainda no saguão do aeroporto, recebeu placas de agradecimento do prefeito e se surpreendeu com uma faixa empunhada por um grupo de torcedores com os dizeres: 'Bem vindo a Araraquara Saul Klein': "Não estamos entrando apenas como investidor, por isso o meu filho vai morar em Araraquara. O nosso projeto será diferente dos outros projetos. Assim foi em São Caetano e assim será em Araraquara", completou Klein.
Sobre a cidade do Grande ABC e o Azulão que ajudou a impulsionar rumo à elite nacional na década passada, o empresário disse que não pretende mais investir no clube, embora a apuração do UOL indique o contrário. "Já tem três meses que não aporto nenhum centavo no São Caetano. Eu dou conselhos, orientações, ideias, mas financeiramente não dá para abraçar os dois. Honestamente não vou negar que tenho amor pelo São Caetano porque nasci em São Caetano do Sul e minha família é de lá, mas espero aqui também conquistar o amor de vocês", disse.
Influenciador
O agente Júlio Taran, que trabalha com o megaempresário, Giuliano Bertolucci, será um dos mentores do projeto de Klein. Da escolha da Ferroviária como time para investimento (foram consultados antes Comercial e Santo André) à definição dos nomes para compor o novo estafe de trabalho, incluindo o novo treinador, Marcelo Villar, que estava no próprio São Caetano. Klein contratou Taran como uma espécie de conselheiro pessoal.
"A parceria não é com o Bertolucci. É com o Júlio Taran. Eu pedi ao Bertolucci que me indicasse uma pessoa pra me assessorar na escolha, já que eu ia deixar o São Caetano. O Taran é quem pesquisou pra mim qual o melhor e mais avançado modelo", disse Klein. Taran não vai estar no dia a dia da Ferroviária, mas seria a inteligência por trás do projeto.
Roque Júnior decide sair
O investidor assegurou que nenhum profissional da atual comissão técnica será demitido e, pelo contrário, novos membros serão integrados. "Nós não vamos substituir nenhum profissional da comissão técnica. Viemos somar, tanto que ninguém será demitido. Nós só trouxemos pessoas para funções em que não temos o profissional aqui. Pessoas que saíram, como analista de desempenho e treinador de goleiros, e colocamos mais algumas funções", explicou.
No entanto, Klein sofreu o primeiro reverso. Sentindo-se sem prestígio e com pouca margem de atuação, Roque Júnior pediu demissão na noite de domingo ao presidente Carlos Alberto Salmazo. Na semana passada, o pentacampeão, diretor de futebol do time, teria recebido uma ordem para suspender algumas contratações.
A chegada do executivo Marcelo Teixeira, ex-diretor da base do Fluminense e olheiro do Manchester, também parece ter surtido efeito. O anúncio do novo técnico —Marcelo Vilar— para o lugar de Vinícius Munhoz, que havia sido uma indicação de Roque, foi a gota d'água para que ele pedisse a demissão.
Questionado pela reportagem, Klein disse que não havia sido informado da demissão: "Pelo que eu saiba, não. Para mim ele não pediu. Eu espero que não. Talvez o Roque tenha ouvido alguma notícia não bem contada e pode ter ficado magoado, mas vamos conversar e explicar", concluiu.
Uma reunião durante a tarde de ontem tentou reverter a questão. Vinícius Munhoz foi convidado a continuar como como coordenador técnico. Até o fechamento deste texto, Roque Júnior e Vinícius Munhoz não haviam se manifestado.
Conhecendo a base
O novo acionista e seu estafe foram até a Arena da Fonte Luminosa e conheceram a sede administrativa da Ferroviária. Percorreram o gramado, os vestiários e as demais dependências do estádio. A série de visitas terminou nos campos de futebol do Parque do Pinheirinho, que deve abrigar o novo Centro de Treinamento da Ferroviária, conforme informou o UOL.
O parque municipal conta com cinco campos de futebol com medidas oficiais (70m x 110m), em área total de 45 mil m2. A ideia é que prefeito e Câmara de Araraquara aprovem uma lei para que Klein compre a área e monte uma superestrutura com alojamento, refeitório, academia, centro médico e de preparação de alta performance dos atletas.
O prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT) está otimista com o futuro da equipe grená. "As perspectivas são muito boas para os próximos anos da Ferroviária, com o investimento em atletas, na comissão técnica e no fortalecimento da estrutura de futebol. Fico muito feliz e grato à família Klein por acreditar em Araraquara e na Ferroviária, o nosso principal símbolo", declarou o prefeito.
'Nome e jogo de bola'
A Ferroviária pretende montar um time competitivo para tentar fazer frente ao Corinthians e ao Bragantino Red Bull pelo Campeonato Paulista. O novo acionista não confirma, mas já foram contratados Rodrigão, do Santos, que estava emprestado para o Coritiba. Autor de 21 gols na temporada, o jogador virá por empréstimo do Alvinegro praiano. Para o gol, Klein fechou com outro jogador que conquistou um acesso em 2019: Marcelo Carné, um dos destaques do Juventude na promoção para a Série B.
Além disso, Vilar vai trazer quatro jogadores do São Caetano:o lateral Lucas Mendes, o volante Mazinho, o meia Karl e o atacante Gleyson - os dois primeiros estiveram com o treinador no título da Série D, ano passado, com o Ferroviário.
Mesmo assim, o discurso é modesto e parece não querer gerar expectativa: "O São Caetano, quando apareceu no ano 2000, na João Havelange, quem era o ídolo? Quem era conhecido? Ninguém. E nós o transformamos em uma equipe vencedora. Não tínhamos nem o nome. Quem conhecia Adhemar, Adãozinho, Sílvio Luiz? Então não é o nome que vai dizer a qualidade do trabalho. É claro que o nome ajuda, mas tem que ter o nome e o jogo de bola", afirmou Klein.
A Ferroviária tem estreia prevista pelo Paulistão 2020 para o dia 22 de janeiro, contra o Mirassol, na Fonte Luminosa. O time ainda vai disputar, também pela primeira vez em sua história, duas competições nacionais na mesma temporada: a Série D do Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Talvez, por isso, laconicamente, Klein deixou escapar ao final: "sabe que eu nem esperava dar entrevista aqui?"
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