"Meu time sumiu na hora do pau", diz ex-Corinthians em briga com Palmeiras
O dia 20 de junho de 1999, um domingo, entrou para a história do futebol paulista. Não apenas pelo 23º terceiro título estadual conquistado pelo Corinthians, em final contra o Palmeiras, mas também por uma briga generalizada - iniciada após as embaixadinhas de Edílson Capetinha - entre jogadores das duas equipes.
Além da clássica embaixadinha, do chute de Paulo Nunes em Edílson e da bola chutada por Júnior em cima do Capetinha, logo no início da 'treta', outra cena ainda está fresca na memória de muitos torcedores e, especialmente, de Roque Júnior e de Renato, ex-goleiro do Corinthians e reserva de Maurício na oportunidade.
Ao tentar defender o companheiro Edílson, Renato agarrou Roque Júnior pelas costas, derrubou-o no chão e, em seguida, acabou perseguido pelo ex-palmeirense. A solução encontrada pelo corintiano - hoje aposentado - foi se jogar no acesso ao túnel do vestiário do Morumbi, como recorda 20 anos depois em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
"[Risos] Então, ali eu fui para apartar, foi o seguinte: na hora que eu vi o Roque Junior correndo atrás do Edilson - e o Edilson é meu amigo até hoje, eu gostava muito dele, e na época que eu estava subindo ele era muito meu parceiro, o Vampeta também - eu não pensei duas vezes, entrei para dentro do campo, fui e derrubei o Roque, e nisso o Edilson fugiu, só que eu caí junto. Aí a hora que eu olhei para trás, veio o Oséas, o Marcão dando voadora, e eu pensei: 'misericórdia, o que eu fui fazer', aí eu correndo para o túnel e o PC Gusmão me abraçou e pediu 'calma, calma', e eu falei 'calma o quê, PC, olha pra trás aí', e o Marcão dando voadora, o Oséas mordendo a língua e dando soco... Aí larguei do PC, virei e pulei pra dentro do túnel, foi a única solução que eu achei", conta Renato.
"Acho que o Roque estava com muito ódio na hora, ele ia acabar agredindo o Edilson e os dois eram da seleção brasileira na época, tanto é que o Edilson foi cortado na ocasião e poderia ter uma punição até maior, ter machucado ou acontecido uma tragédia. O José Trajano até disse isso numa reportagem, que eu tinha salvado duas vidas, a do Edilson e a do Roque [risos]. Mas graças a Deus não me deram nenhuma punição", acrescenta o ex-goleiro, que lembra ainda como conseguiu derrubar o 'gigante' Roque Júnior.
"Eu saí correndo atrás dele e, quando ele foi chutar o Edilson, eu consegui alcançá-lo e meio que grudei na camisa dele por trás, e rodei pra tirar ele do Edilson. A minha intenção era tirar ele da agressão, e a gente rodou e caímos os dois no chão. E daí eu só vi os meninos indo em direção ao vestiário e, no que eu corri, o PC Gusmão me abraçou, e o PC: 'Calma, calma', e eu: 'Calma o caralho, olha pra trás aí, o Marcão dando voadora e o pau comendo', e eu peguei e corri para o túnel", recorda o ex-jogador que ainda passou por Athletico Paranaense, Fortaleza e Portuguesa.
O Corinthians de Renato conseguiu o título após vencer o jogo de ida por 3 a 0, dia 13, e empatar o duelo que terminou em briga por 2 a 2. Entre essas duas partidas, porém, o Palmeiras fez história ao conquistar a taça da Libertadores (dia 16, quarta-feira) após vitória nos pênaltis contra o Deportivo Cali, da Colômbia. Portanto, entrou em campo em clima de festa pelo inédito título continental e com faixas comemorativas pela competição mais importante, em que eliminou o rival nas quartas. A intenção dos palmeirenses, que jogaram com reservas na primeira partida do Paulistão, era demonstrar que os corintianos ficaram com o menos importante, tanto que Paulo Nunes declara "fiquem com o Paulistinha" após a briga.
"Pô, eles até entraram com o cabelo pintado de verde no jogo, então isso nos deixou mais putos ainda, e, na hora que estávamos ganhando o Paulista, o Edilson fez aquilo, as embaixadinhas, e com o Palmeiras já tinham aquelas trocas de farpas... E o Junior e o Paulo Nunes perderam a cabeça e aconteceu tudo o que aconteceu. Do meu time todo mundo se escondeu na hora do pau lá... Era tudo Marcelinho, Ricardinho, os caras com Oseas, Marcão, tudo ão, e no meu time tudo inho [risos]", completa o goleiro que, ao longo da carreira, acumulou passagens pela seleção olímpica e até pela principal, como ele conta em entrevista à reportagem. Confira:
LEIA A ENTREVISTA COMPLETA COM RENATO:
UOL Esporte: Você é de Jaguapitã, norte do Paraná. Como você foi parar no Corinthians?
Renato: Na época eu tinha 12 anos de idade e treinava no Nacional de Rolândia, próximo a Cambé, e aí tinha um rapaz que chamava Soco, era treinador - foi ele quem levou o zagueiro Antônio Carlos Zago para o São Paulo -, e ele me levou pra fazer um teste lá no Corinthians, com uns 14, 15 anos. Na época o treinador era o Mirandinha, aquele que foi atacante do São Paulo, e eu fiz o teste e fiquei morando no alojamento do Corinthians por 10 anos. Passei por toda base, fui campeão infantil, campeão paulista de júnior, campeão da Taça São Paulo de 99, campeão paulista no profissional de 99 e brasileiro do mesmo ano. Na base do Corinthians eu tive vários treinadores: o Mirandinha, o Geraldão [ex-atacante], o Brida, o Adailton Ladeira....
UOL Esporte: Qual foi o treinador que promoveu você para o profissional do Corinthians?
Renato: Foi o Vanderlei Luxemburgo. Ele, o PC Gusmão e o professor Joaquim de Morais, preparadores de goleiros na época. Então foram os três. Eu trabalhei só com os feras.
UOL Esporte: Como foi o convívio com o Luxemburgo? Trabalhar com ele...
Renato: No ambiente profissional ele era profissional ao extremo, a cobrança era extrema. Agora, como amigo, ele era um cara 100%, ele sabia diferenciar bem as coisas. O ambiente profissional era uma situação de altas cobranças mesmo, em alto nível, e quando era pra ser amigo, ele era amigo, então ele deixava isso bem claro para os jogadores.
UOL Esporte: Muitos jogadores entendiam isso ou não?
Renato: Ah, sempre tem uns estrelas que não entendem e já levam para outro lado. Um ou outro, tá? A maioria entendia, sabia como é que funcionava a situação. Sempre tem um pouquinho de vaidade no meio, são caras que eram super astros, jogavam em time grande como o Corinthians, time de ponta, então sempre tem uma pontinha de vaidade que às vezes atrapalha um pouco.
UOL Esporte: De tantas preleções que você viveu com o Luxemburgo, tem alguma emblemática? Lembra de alguma com briga ou algo assim?
Renato: Com o Vanderlei nunca. Em todas que presenciei ele sempre foi um cara que conduzia muito bem, mas teve algo que me marcou e foi um jogo no Pacaembu, contra o União São João de Araras, no Paulista de 2001. Eu estava no banco esse dia e o Maurício estava jogando, e foi infeliz no gol do União São João. Nisso a gente foi para o vestiário perdendo por 1 a 0, e aí o Vanderlei reuniu todo mundo e falou: 'Ó, o amigo de vocês foi infeliz no lance, e vocês vão deixá-lo sair com essa culpa nas costas? Ou vocês vão reverter o placar por ele'? Então o Vanderlei é um cara sensacional... E no segundo tempo nós fizemos 3 a 2 e ganhamos.
UOL Esporte: Qual foi o tempo exato que você ficou no Corinthians?
Renato: Eu cheguei no Corinthians em 1993, com 14 para 15 anos, e saí em 2003, então foram 10 anos de Corinthians. Em 2000, fui emprestado para o Athletico-PR e fui campeão paranaense. Em 2001, o Candinho me pediu e eu fui emprestado para a Portuguesa. Em 2002, fui emprestado para o Internacional, e daí fui rodando...
UOL Esporte: Você teve contato com alguns goleiros no Corinthians... Então, como foi trabalhar, conviver com o Dida? Ele conversava com você?
Renato: Eu concentrava com o Dida, e estive com o Dida na seleção principal. O Vanderlei me levou em dois amistosos, e a princípio eram eu, o Dida e o Marcos que concentravam, e o Dida é um cara sensacional, um cara brincalhão. Se você conhecer ele fora do ambiente do futebol, parece até outra pessoa, não tem nada a ver com aquilo que ele demonstra. Ele era muito reservado para entrevista; várias vezes o Galvão [Bueno] ligava para ele no quarto, e ele não queria falar nem com o Galvão. Eu atendia e ele mandava falar: 'Renato, fala que eu não estou, não quero falar, não'. O Dida era supertímido, muito reservado. Ele corria até do Galvão Bueno, fugia dos repórteres, não gostava de falar, era muito reservado. Mas com a gente ele era um cara sensacional, brincalhão o tempo inteiro. O Galvão queria que ele fosse para o programa dele na época, e o Dida estava concentrado para o jogo e me falou: 'Renato, eu não quero falar com ninguém porque estou muito focado no jogo, e é muito importante, hoje não, fala aí que hoje não dá'. Então o Dida era muito profissional, ao extremo, concentrado ao máximo. Era o primeiro a entrar no campo e o último a sair. Gostava de treinar muito, então aprendi muito com o Dida, foi uma baita escola.
UOL Esporte: Mas é difícil imaginar o Dida brincalhão...
Renato: Você precisava ver entre nós... Eu gosto muito do Dida. Tanto é que nós não o chamávamos de Dida; entre nós era Nelsinho, porque o nome dele é Nelson de Jesus.
UOL Esporte: Por tudo o que você passou com o Luxemburgo, você se tornou o queridinho do 'profexô' no Corinthians?
Renato: É porque na época eu treinava muito, era muito dedicado aos treinamentos. Eu fiz um campeonato de aspirante, subi do júnior e estava muito bem, atravessando uma fase excepcional. Teve até um jogo que o Fiori Gigliotti [ex-narrador] ia narrar, que era Corinthians e Portuguesa, e eu joguei a preliminar nos aspirantes, e ele fez o repórter ir lá no campo para me entrevistar, para saber quem eu era, como eu estava surgindo para o futebol... Porque ele ficou impressionado com as minhas defesas naquela ocasião, então foi um momento que as coisas estavam dando muito certo pra mim. Eu aproveitei isso, estava ali com o Vanderlei, o PC Gusmão me treinando, ele era da seleção brasileira também, e eu fui indo... Só foi uma pena eu ter quebrado o pé direito e ficado fora do Pré-Olímpico.
UOL Esporte: Então me conta como foi a questão de ficar fora do pré-olímpico por ter quebrado o pé. Como foi?
Renato: Foi na semana antes de começar o Pré-Olímpico. O amistoso contra o Paraguai foi na quarta-feira, então eu quebrei o pé direito na quarta e a gente estreava no Pré-Olímpico no sábado. Quebrei o pé em Campo Grande (MS), 3 a 3 contra o Paraguai. O lance foi com o atacante paraguaio, em dezembro de 99.
UOL Esporte: Foi o pior momento da sua carreira? Ficou frustrado?
Renato: Foi. Foi uma frustração enorme porque eu me dediquei demais, treinava muito, acordava às 6 da manhã, vivia praquilo. Me dediquei demais para chegar ali e, de repente, em um lance bobo vai tudo por água abaixo. Mas depois eu voltei a jogar, me recuperei e joguei em vários clubes. Eu joguei em 16 equipes pelo Brasil... Mas aquele era o meu momento. Paciência.
UOL Esporte: Quando você chegou ao Corinthians, com 14 pra 15 anos, você tinha um ídolo no futebol?
Renato: O meu ídolo sempre foi o Taffarel. Sempre procurei me inspirar nele, sempre fui fã. Por ele não ser um goleiro muito alto, ele tinha que cortar caminho, então a gente, sendo alto e rápido e usando a técnica de cortar o caminho, as coisas davam mais certo. Foi esse o caminho que eu fiz, porque a gente não observa só o fato de se o cara toma gol ou se não toma, a gente observa todo o movimento dele, como ele se comporta em vários lances diferentes, e o Taffarel chamava atenção nisso. Ele era muito frio, então eu tentava me inspirar muito nele.
UOL Esporte: De grande promessa no Corinthians, você perambulou no futebol brasileiro... O Corinthians não te olhou com bons olhos depois da fratura no pé direito?
Renato: Na época, no meu ponto de vista, o Corinthians era muito mal assessorado; eram Roque Citadini e Edvar Simões, pessoas que até tinham boas intenções, mas não eram do futebol. Eles não souberam valorizar, não tiveram paciência, porque eu era um goleiro muito jovem, e penso que deveria ter tido um pouco mais de tempo, ser mais emprestado... O Edvar rescindiu meu contrato e eu fui para o Fortaleza. Joguei um Brasileiro no Fortaleza, e em 15 partidas fui seleção do Lance. Eu estava num momento bom, não precisava ter rescindido comigo, podia ter tido um pouco mais de paciência. O meu salário era baixo, não precisava ter cortado o vínculo comigo assim. Isso me deixou triste.
UOL Esporte: Neste momento, você pensou em encerrar a carreira?
Renato: Pensei várias vezes. Quando acabou meu contrato no Fortaleza, eu fiquei um ano sem jogar, não queria mais jogar futebol, foi muito frustrante. Mas isso não aconteceu só comigo no Corinthians, aconteceu com vários jogadores. Hoje em dia tem uma baita gestão, mas antigamente era pouco. Pô, o Fábio Junior, atacante, que jogou na Roma, jogava no júnior comigo no Corinthians, e foi mandado embora, e o cara não pôde esperar nem dentro do Parque São Jorge. 'Ó, pega sua mala e vai'. 'Mas são 11 horas da noite'. 'Não quero saber, já vai embora agora'. O Deco, que jogou no Barcelona - tenho foto com ele no júnior aqui comigo -, nós fomos vice-campeões da Taça São Paulo contra o Jundiaí... O Marinho, zagueiro, que jogou no Grêmio e na Ponte Preta... Então foram vários jogadores do júnior que não foram aproveitados no profissional e que viveram essa situação desses caras que não tinham visão de futebol.
UOL Esporte: Depois de um ano sem jogar, onde pensou em encerrar a carreira? Qual foi o clube que você retomou?
Renato: Eu pensei em encerrar, aí fui para a Cabofriense, o PC Gusmão assumiu como treinador e me levou. Daí joguei alguns jogos e me machuquei também, aí pensei novamente em parar, e aí fui para o Nacional de Rolândia, aqui do Paraná, fui para o Sul, no São Luiz de Ijuí, depois fui para o Botafogo de Ribeirão Preto, isso em 2008, e fiz uma campanha maravilhosa no Botafogo. Nós subimos para a Série A-1, eu era o goleiro, e quando subiu eu falei 'agora vai', mas mudou toda a diretoria do Botafogo, chegou outro cara e disse 'não quero ninguém aqui'. E foi assim.
UOL Esporte: Quando você encerrou a carreira, e em qual clube?
Renato: Eu encerrei em 2011 no Icasa do Ceará.
UOL Esporte: Na seleção principal, o Luxemburgo convocou você para dois amistosos?
Renato: Na verdade, ele não me convocou, o que aconteceu foi o seguinte: ele me convocou para a Copa das Confederações, mas depois me cortou porque liberaram para levar mais um jogador de linha, aí ele me cortou. Agora, nos amistosos, foi que o Dida tinha jogo e não ia ter goleiro para treinar em Buenos Aires. Foram dois amistosos, um na Argentina e outro no Beira-Rio. Daí ele me levou para eu ajudar nos treinos, fui com este intuito. Aí chegou no dia do jogo e o Marcos Teixeira, o Marquinho, que era sobrinho do Ricardo Teixeira e nosso coordenador, pediu para fazer uma terceira camisa pra mim, e nesse dia ficaram eu e o Marcão no banco, e o Dida jogou lá no Monumental, em Buenos Aires. Foi uma das maiores experiências que eu tive na minha vida. O Marcão olhava pra mim no banco, ele me chamava de 'cabeça', e falava: 'É, cabeça, você saiu lá de Jaguapitã e eu de Oriente e ninguém vai reparar, hein'? O Marcão sarrista pra caramba... E eu falava: 'É Marcão, que coisa linda', e depois ele acabou jogando e foi campeão do mundo. Era uma amizade muito boa com ele e com o Dida.
UOL Esporte: Agora vamos lembrar daquele segundo jogo da decisão do Paulistão de 99 e a tal briga campal no Morumbi. Como foi?
Renato: [Risos] Então, ali eu fui para apartar, foi o seguinte: na hora que eu vi o Roque Junior correndo atrás do Edilson - e o Edilson é meu amigo até hoje, eu gostava muito dele, e na época que eu estava subindo ele era muito meu parceiro, o Vampeta também - eu não pensei duas vezes, entrei para dentro do campo, fui e derrubei o Roque, e nisso o Edilson fugiu, só que eu caí junto. Aí a hora que eu olhei para trás, veio o Oséas, o Marcão dando voadora, e eu pensei: 'misericórdia, o que eu fui fazer', aí eu correndo para o túnel e o PC Gusmão me abraçou e pediu 'calma, calma', e eu falei 'calma o quê, PC, olha pra trás aí', e o Marcão dando voadora, o Oséas mordendo a língua e dando soco... Aí larguei do PC, virei e pulei pra dentro do túnel, foi a única solução que eu achei.
UOL Esporte: Ou seja, na verdade você, vamos dizer assim, salvou os dois: o Edilson e o Roque Junior. Senão ia ser uma tragédia maior?
Renato: Com certeza, acho que o Roque estava com muito ódio na hora, ele ia acabar agredindo o Edilson e os dois eram da seleção brasileira na época, tanto é que o Edilson foi cortado na ocasião e poderia ter uma punição até maior, ter machucado ou acontecido uma tragédia. O José Trajano até disse isso numa reportagem, que eu tinha salvado duas vidas, a do Edilson e a do Roque [risos]. Mas graças a Deus não me deram nenhuma punição.
UOL Esporte: Quando caiu no túnel, você se machucou? Ficou muito lesionado?
Renato: Nada, naquela época eu era levinho, pulei para o túnel e desci as escadas, não tive nada, foi supertranquilo. Na hora do desespero o cara não vê nada.
UOL Esporte: Agora vamos falar do porquê de toda essa briga em campo na final do Paulistão de 99. Nas quartas de final da Libertadores, o Palmeiras eliminou o Corinthians e, antes da segunda partida final do Paulistão, alguns dias antes, o Palmeiras conquistou a Libertadores da América. Foi isso mesmo?
Renato: Então, na Libertadores a gente sentia que era mais time que o Palmeiras e que dava pra passar. A gente tomou um gol no final do jogo na Libertadores e foi aí que levou o jogo para os pênaltis, e a gente ficou atravessado porque sabia que era mais time que o Palmeiras, então ficou todo mundo muito puto com aquela situação, e o Palmeiras comemorando, os caras tirando sarro, e todo mundo com o Palmeiras atravessado porque a gente sabia que dava pra gente ter passado. E aí, o que aconteceu? Nós fomos para o jogo do Paulista e, na hora que a gente estava conquistando o Paulista, o Edilson teve a ideia na hora, bolou aquilo ali... A gente teve uma conversa de tirar uma onda com os caras porque eles tiraram muito sarro quando eliminaram a gente na Libertadores.
UOL Esporte: Então alguma coisa já estava armada por vocês [jogadores do Corinthians]? Não tinham as embaixadinhas já determinadas pelo grupo, mas vocês iam fazer uma onda com os jogadores do Palmeiras, é isso?
Renato: É, na hora de uma comemoração de gol, fazer alguma brincadeira, alguma coisa... Pô, eles até entraram com o cabelo pintado de verde no jogo, então isso nos deixou mais putos ainda, e, na hora que estávamos ganhando o Paulista, o Edilson fez aquilo, as embaixadinhas, e com o Palmeiras já tinham aquelas trocas de farpas... E o Junior e o Paulo Nunes perderam a cabeça e aconteceu tudo o que aconteceu. Do meu time todo mundo se escondeu na hora do pau lá... Era tudo Marcelinho, Ricardinho, os caras com Oseas, Marcão, tudo ão, e no meu time tudo inho [risos]. E o Amaral: 'Calma, calma, são meus amigos', aí eu olhava para o Rincón, que podia me ajudar, e ele falava 'não Renato, tudo meus amigos aqui', aí eu falei 'tô fodido aqui, tenho que correr'... Os caras do meu time que poderiam segurar o rojão [eram] tudo amigo do Palmeiras, aí fodeu.
UOL Esporte: E como foi o depois dessa briga? Você encontrou o Roque Junior?
Renato: Eu não conversei com ele sobre isso depois, nunca aconteceu esse encontro. Eu já o vi em outros lugares, a gente se cumprimentou, mas não tocou no assunto... Mas não tem nada,0 o que acontece ali dentro de campo ficou por ali mesmo.
UOL Esporte: O Edilson te agradece até hoje?
Renato: Ah, o Edilson é meu parceiro até hoje. A gente esteve junto na Copa Masters em Minas Gerais e a demos altas risadas dessas histórias. Somos amigos até hoje. Aquele dia o Roque Junior estava muito nervoso... Depois que eu o derrubei, ele estava espumando, ia ser tragédia ali.
UOL Esporte: Como você conseguiu derrubar o Roque Junior?
Renato: Eu saí correndo atrás dele e, quando ele foi chutar o Edilson, eu consegui alcançá-lo e meio que grudei na camisa dele por trás, e rodei pra tirar ele do Edilson. A minha intenção era tirar ele da agressão, e a gente rodou e caímos os dois no chão. E daí eu só vi os meninos indo em direção ao vestiário e, no que eu corri, o PC Gusmão me abraçou, e o PC: 'Calma, calma', e eu: 'Calma o caralho, olha pra trás aí, o Marcão dando voadora e o pau comendo', e eu peguei e corri para o túnel.
UOL Esporte: Então, para deixar bem claro, você não entrou para brigar, e sim para ajudar a separar os briguentos, é isso?
Renato: Sim, desde o primeiro momento minha intenção não era agredir ninguém, só era pra evitar que uma tragédia maior não acontecesse. O Roque correndo na direção do Edilson foi o que me preocupou, porque o Edilson é muito pequeno, tadinho, se ele pega mata o Edilson.
UOL Esporte: Como foi o depois com o grupo corintiano?
Renato: O que eu mais fiquei feliz foi com a Gaviões, porque quando entrava em campo eu era goleiro reserva, e aí eles gritavam os nomes dos 11 jogadores e mais o meu, aí eu fiquei feliz [risos]. Eles iam falando os nomes e, por último, o meu. Eu saía do banco de reservas e acenava com as mãos. Pô, era divertido pra caramba.
UOL Esporte: Hoje o que você está fazendo?
Renato: Eu parei de jogar um pouco mais cedo até com o intuito disso: fiz faculdade de Educação Física, sou formado e sou secretário de esportes aqui em Jaguapitã. E estou me especializando, fazendo alguns cursos de treinador de futebol, de preparador de goleiros, ainda pretendo voltar ao futebol, tenho vontade, esse sonho. Eu estive no futebol de 93 a 2011, foram 18 anos de futebol de alta performance, alto rendimento.
UOL Esporte: Você conseguiu fazer o chamado pé de meia?
Renato: Eu investi em terras aqui no Paraná. Todo dinheirinho que eu pegava, investia nisso. Hoje eu toco um loteamento de chácara com área de lazer, meus sítios, minhas coisinhas, então dá pra tocar a minha vidinha tranquila. Sempre fui muito seguro em relação a isso, nunca fui louco, não.
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