Jogador alavancou carreira de Marcio Canuto e fez Zico romper com a Globo
O estilo irreverente desde o início da carreira, em jornal e rádio, levou o jornalista Marcio Canuto à TV em Alagoas. Mas nem toda celebridade local chega ao estrelato em rede nacional, como aconteceu com o repórter, que concedeu longa entrevista publicada hoje (30) pelo UOL Esporte.
Foi o futebol que deu o empurrão que faltava. "Eu sempre fui fascinado por pessoas, por gente. Talvez porque cresci entre nove irmãos. Levei isso para o trabalho, de encontrar personagens e extrair histórias. Um deles acabou sendo fundamental para sedimentar minha carreira na televisão", conta.
Jacozinho é o nome da fera.
Nos anos 80, Canuto fazia reportagens de TV bem-humoradas em Maceió, especialmente sobre futebol. O programa "Globo Esporte", então, encomendou matérias locais para abrir a cobertura da Copa do Mundo de 1986. "Imagine você em Maceió ter essa responsabilidade! Fiquei sem dormir esperando uma luz, até que meu anjo da guarda salvou."
O técnico da seleção brasileira naquela época era Evaristo de Macedo, que foi questionado pela imprensa sobre as razões de não convocar o meia Pita, que tinha feito um golaço e estava em grande fase pelo São Paulo. "Se fosse por golaço eu convocava o Jacozinho, do CSA", respondeu o treinador, citando um jogador desconhecido do grande público para ironizar a cobrança por Pita.
"Nego, quando eu olhei quem era o Jacozinho eu dei um salto tão grande que quase arrebento o joelho. É ele! É ele! É o Jacozinho. A história é ele!", relembra Canuto. No dia seguinte o repórter já estava fazendo matéria na casa do jogador do CSA.
"Jacozinho era ídolo, mas não dava nenhum valor à vida pessoal. Extremamente humilde, morava numa casa de taipa. A sala dele não cabiam duas cadeiras para a gente conversar. Eu contei minha ideia de fazer matérias com ele, uma campanha para que ele fosse para a seleção. Ele falou: 'Pô, legal, mas tem duas coisas: ou a gente se consagra ou é ridicularizado'. Eu achei que valia a pena, ele também", conta Canuto.
"Gravei uma passagem que era ele pedindo uma chance na seleção. De primeira ele manda: 'Me chama, seu Avaísto'. Aquilo foi uma explosão pelo humor, pela simplicidade, pelo futebol brasileiro na sua essência. Jacozinho era extremamente criativo. A partir dali fiquei com a responsabilidade de fazer um ou dois encerramentos do Globo Esporte por semana, era uma coisa louca. Ele ficou famoso!".
É lógico que Jacozinho não tinha a menor chance de ser chamado para a seleção brasileira. Mas isso não impediu que ele virasse um ídolo nacional por causa da presença quase diária na TV Globo. E Canuto foi no embalo.
Até que pintou oportunidade de matéria boa no Rio de Janeiro: o Flamengo havia tirado Zico da Udinese-ITA e realizaria um jogo festivo no Maracanã entre os amigos do Galinho e uma seleção de jogadores do mundo inteiro para apresentar o ídolo. O repórter embarcou de Alagoas para o Rio de Janeiro às 5h e deu um jeito de enfiar Jacozinho no jogo do Zico. "Na entrada de Jacozinho o povo já bate palma."
O jogador do CSA foi escalado na seleção do mundo, dirigida pelo técnico Telê Santana. Começou no banco, mas conviveu com Falcão e Maradona no vestiário. "Eu obriguei Maradona a cumprimentar Jacozinho dentro do vestiário. 'Cumprimenta el ídolo brasileiro', aí Maradona cumprimentou. Não ligou muito, mas cumprimentou", conta Canuto. Jacozinho acabou entrando e fez um gol com direito a drible da vaca e assistência do próprio ídolo argentino. Era a consagração.
"O Jacozinho roubou a cena. Depois do jogo os microfones foram todos em cima dele, a torcida gritando o nome dele. O Zico ficou um pouco aborrecido."
Um pouco? Zico ficou dois anos sem falar com a TV Globo. Ainda mais quando leu a manchete sobre seu jogo festivo nos jornais: "Zico e Jacozinho brilham no Maracanã". No estádio, ele chegou a falar que a presença de Jacozinho era "forçação de barra". Tanto tempo depois, Canuto releva: "Eu entendo, rapaz. Imagine no aniversário de 15 anos da sua filha aparece um outro cara com a filha mais bonita que a sua, mais engraçada, mais charmosa (risos). Apareceu um penetra rebelde, baixinho, safadinho para atrapalhar a festa dele. Mas depois eles ficaram amigos. Zico, um cheiro para você!".
Confira essa e outras histórias de Marcio Canuto no especial sobre o jogador publicado no UOL Esporte.
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