Topo

"Por mim, não sairia", diz mãe de Eliza sobre série com história de Bruno

Sonia e Eliza Samudio, morta pelo goleiro Bruno Fernandes em 2010 - Arquivo Pessoal
Sonia e Eliza Samudio, morta pelo goleiro Bruno Fernandes em 2010 Imagem: Arquivo Pessoal

José Edgar de Matos e Talyta Vespa

Do UOL, em São Paulo (SP)

11/01/2020 04h00

A cabeça de Sônia de Fátima tem sangrado com frequência por causa da psoríase — doença que faz o couro cabeludo descamar e coçar sempre que o estresse aumenta. E o início de ano para a família de Eliza Samudio não tem sido dos mais tranquilos. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Sônia, mãe de Eliza, conta que o pescoço foi tomado por ínguas, glândulas inflamatórias, desde a primeira notícia de que seu algoz Bruno Fernandes voltaria ao futebol.

Nessa semana, a notícia que tem tirado o sono é a produção de uma série policial que vai contar, entre outras histórias de crime, o caso de assassinato cometido por Bruno. "Por mim, essa série não sairia. Eu não fui procurada até agora, assim como não fui procurada quando foi escrito o livro no qual a série vai se basear", diz.

A obra à qual Sônia se refere é 'Indefensável: O goleiro Bruno e a história da morte de Eliza Samudio', lançada pela editora Record em 2014. A mãe de Eliza acusa os autores Leslie Barreira Leitão, Paula Sarapu e Paulo Carvalho de reproduzirem conteúdos falsos da vida da mãe de Bruninho. A reportagem procurou na noite de ontem (10) os escritores e conseguiu contato com Paula Sarapu, que decidiu não se pronunciar.

"Só fui saber que um livro sobre a morte da minha filha havia sido produzido quando os escritores já estavam dando autógrafos no lançamento. Eu li; o livro diz um monte de mentiras sobre a minha filha; diz que eu abandonei a Eliza, que não presenciei o crescimento dela; que só quis saber dela depois da morte. Isso é mentira, e eu provei tudo isso em juízo para ter a guarda do Bruninho. Eles falam, ainda, que ela engravidou em uma suruba. Vê se pode falar isso sobre uma pessoa que nem está viva para se defender", afirma.

"Eu tenho certidão de nascimento da Eliza, fotos dela pequena comigo; o cartão do SUS que ela usou, exames de rotina de infância. Como podem dizer que não convivi com a minha filha?", reclama.

Bruninho Sonia Samúdio - Talyta Vespa/UOL Esporte - Talyta Vespa/UOL Esporte
Sônia Samúdio diz que tem a preocupação sobre como Bruninho lidará com a possível série da TV Globo
Imagem: Talyta Vespa/UOL Esporte

E é pela preocupação com o neto que avó teme o lançamento da série. "É como se a gente não pudesse seguir em frente", diz, "enquanto o Bruno pode. Ele passa Natal e Ano Novo com a família. Em fevereiro, seria aniversário da Eliza, e o Bruninho não vai poder nem mesmo ir até o cemitério colocar flores para a mãe. É justo?"

Sônia conta que tenta privar o neto ao máximo das notícias a respeito do pai — até de falar dele em casa. "Essas pessoas esquecem que há uma criança de 10 anos envolvida nessa história e que toda essa exposição pode interferir no caráter e na formação dele. Ele pode vir a sofrer bullying na escola, ouvir que a mãe era prostituta, que era isso e aquilo. A série vai passar em canal aberto, como vai ficar a cabeça dessa criança?"

Enquanto falava com a reportagem, Sônia pediu que o neto fosse até a casa de um amigo, que mora próximo à família. O intuito é, dia após dia, tentar mantê-lo longe de todas as notícias envolvendo o assassinato da mãe — do qual ele tem bastante conhecimento, como contou UOL Esporte nesta reportagem.

Goleiro Bruno gramado - Ricardo Benichio/Folhapress - Ricardo Benichio/Folhapress
Imagem: Ricardo Benichio/Folhapress

"Se ele ouvir, vai começar a alimentar mágoa, raiva do pai. Quero que ele tire as próprias conclusões a respeito do caso quando for adulto e, de maneira alguma, incentivá-lo, por ora, a pensar algo a respeito", opina Sônia.

"Desde que o Bruno foi preso, a única coisa que ele faz é falar mal da Eliza na tentativa de justificar o que não tem justificativa. Passo o tempo todo lendo comentários na internet que demonizam minha filha. Penso em processar, e até pensei em fazer isso com os autores desse livro, mas, né, se eu for processar todo mundo que difama minha filha, vou fazer só isso. E não tenho condições financeiras para bancar um processo atrás do outro. A vontade era muita, já que ela nunca pôde se retratar a respeito dessas coisas que foram ditas."

Sônia teme que o enredo da série coloque Bruno como "coitadinho". "A série vai ser baseada na história do Bruno, coitadinho, menino de favela, abandonado pelos pais. É assim que o livro traz a história dele. E sobre a minha filha, sabe o que vão mostrar? Vão dizer que ela era atriz pornô, 'Maria-Chuteira', garota de programa. A escolha de vida dela era problema nela, ninguém tem nada a ver com isso. Justifica ela ter sido assassinada?", encerra.