Pedrada, calção arriado e vexame: Pré-Olímpico já marcou craques da seleção
Muito antes da conquista do ouro na Rio-2016, o Pré-Olímpico de futebol foi marcante para vários craques brasileiros. Não necessariamente da melhor forma possível. O torneio, cuja nova edição que começa neste domingo (19) para o Brasil, já chacoalhou a carreira de jogadores que depois conquistariam títulos e prêmios, mas nunca se esqueceram do fracasso de não conseguir a vaga.
Diante do Peru, às 22h30 deste domingo (19), na Colômbia, a seleção inicia sua campanha com a expectativa de se distanciar do hall de times que ficaram marcados pelo fracasso, como os de 1992 e 2004.
O mais antigo desses não conseguiu nem vencer a Venezuela e acabou fora de Barcelona-1992. Acredite: aquele time mandou ao Paraguai nomes que depois se consagrariam, como os eventuais campeões mundiais Cafu, Roberto Carlos e Márcio Santos, além de Marcelinho Carioca e o já falecido Dener.
Aquela equipe ficou marcada por uma péssima relação do treinador Ernesto Paulo com seu grupo e até mesmo de atritos entre os próprios atletas. Macedo, atacante do São Paulo, chegou a pedir dispensa da seleção e disparou que "esse cara não sabe nada de futebol".
Sabe a resposta do comandante? "Macedo está mais interessado em pintar pelos da perna do que jogar", disparou.
A competição, que contou também com célebres nomes como o zagueiro Carlos Gamarra, pela seleção anfitriã, e o volante Diego Simeone, pela Argentina, ainda ficou marcada por uma noite de violência por parte da torcida paraguaia. Em jogo duríssimo contra o time da casa, que a Folha de S.Paulo tratou como uma "guerra", dezenas de objetos foram atirados da arquibancada. O ponta esquerda Elivélton, do São Paulo, foi atingido em cheio na cabeça. Outros atletas foram atingidos de raspão.
Carlos Alberto Parreira era treinador da seleção principal e acompanhou in loco a trágica campanha. Depois, quando estava novamente no comando do Brasil, ele preferiu não acompanhar de perto outra disputa que terminaria em vexame.
Em 2004, ele não quis acompanhar o time sub-23 in loco e justificou com o trauma daquela ocasião. "A experiência no Paraguai (em 1992), minha e do Zagallo, não foi nada boa. A gente bota muita pressão em cima dos jogadores. Ficamos lá sem ter o que fazer. Tiramos a naturalidade. Até podemos ir a um jogo, mas não vamos acompanhar o Pré-Olímpico. Veremos pela TV", disse o treinador.
Naquele ano, quem estava no comando da seleção de jovens era Ricardo Gomes, que demorou a recuperar o prestígio após o péssimo desempenho daquela que foi chamada precocemente de "geração de ouro".
Diego, Robinho, Nilmar, Daniel Carvalho, Elano, Dagoberto, Edu Dracena e Luisão são alguns dos exemplos de jogadores que depois conseguiram se recuperar na carreira, mas admitem que não esquecem aquela experiência.
A preparação daquele time começou de maneira eufórica, e a irreverência da dupla Diego-Robinho —coqueluche no noticiário à época— acabou revertendo contra os prodígios santistas. A ponto de uma brincadeira de Robinho, que abaixou o calção do ex-companheiro durante uma sessão oficial de fotos para o credenciamento no evento, ter virado símbolo de uma combinação de indisciplina e displicência que teria resultado na eliminação.
"É uma desclassificação que vai ficar para toda a minha vida", lamentou Robinho. "Acho que foi um erro coletivo. Eu tinha vontade, mas a perna não ia. Não rendi o que posso. Vou ser completamente diferente profissionalmente e pessoalmente", completou Diego.
Ricardo Gomes foi alvo de críticas até de companheiros de profissão, como o caso de Emerson Leão, que na época comandava o Santos. O ex-goleiro ligou pessoalmente para Alex e sugeriu que o zagueiro pedisse para trocar de posição com Edu Dracena. Já imaginou isso acontecendo hoje em dia?
A derrota ainda marcou até mesmo Ricardo Teixeira, então presidente da CBF. Na época, a influência do dirigente foi bastante questionada, por não ter conseguido a liberação de craques como Kaká, Adriano e Júlio Baptista, que já estavam na Europa. Hoje em dia, isso virou rotina na seleção de jovens.
A eliminação das Olimpíadas de 2004 ainda frustrou planos de outros atletas consagrados que nunca conseguiram a medalha de ouro. Ronaldo, Roberto Carlos e Rivaldo já não tinham mais idade olímpica, mas fizeram campanha para estar entre os três permitidos acima de 23 anos. O lobby foi em vão.
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