Julio Cesar: "Red Bull Bragantino mudará muita coisa enraizada no Brasil"
É provável que você vá se lembrar de Julio Cesar como aquele goleiro revelado pelo Corinthians, que fez toda a categoria de base e depois conquistou o Brasileirão de 2011 como titular. Mas o veterano agora vive outro momento especial em sua carreira. Em entrevista ao UOL Esporte, o capitão do Red Bull Bragantino comemora seu retorno à Série A após longos nove anos de espera, reflete sobre a liderança que tem em um elenco tomado por jovens e mostra que absorveu os valores do clube-empresa até transformá-los em seus.
Aos 34 anos, Julio Cesar é o líder descontraído de um elenco cheio de promessas, de atletas que buscam chegar, quem sabe, tão longe quanto ele foi: é quem faz ou quem sofre quase todas as brincadeiras pré e pós-treino do Bragantino. Sorridente, tem o raciocínio rápido e fala sem amarras sobre a relação que construiu com a Red Bull. Durante a conversa em Itu (SP), onde o time fez parte de sua pré-temporada, ele mostrou confiança na experiência que conquistou e deixou claro que compartilha da ambição do clube e da empresa que o controla. "O Red Bull Bragantino é um time que veio para ficar e mudar muita coisa enraizada no futebol brasileiro", diz.
O elenco do Bragantino tem como principal característica a cobrança interna, afirma Julio Cesar, o que é uma herança dos tempos de RB Brasil --o primeiro time comandado pela companhia de energéticos no Brasil. "Em Campinas nós não tínhamos torcida, era uma das piores médias de público, mas a cobrança aqui era como se tivesse 70 mil na arquibancada. A gente não se permitia jogar mais ou menos só porque o estádio estava vazio", explica o capitão, que fez a transição do time campineiro para o de Bragança em abril, junto com 13 companheiros. "Trouxemos este espírito, e isso é muito importante no dia-a-dia. Não precisamos que o torcedor xingue pra começar a correr; já fazemos porque estamos acostumados a nos cobrar."
A cobrança pessoal poderia narrar a carreira inteira de Julio Cesar. Ela sempre esteve ali, desde os diferentes momentos de Corinthians, passando pela troca do Náutico pelo rival Santa Cruz no Recife, até a chegada aos times Red Bull. Hoje, ele olha para trás despreocupado e orgulhoso do quanto evoluiu.
"Com a experiência me vejo muito mais preparado do que antigamente, porque estou mais acostumado, já não dou tanta importância para certas coisas —como era no começo da carreira", percebe o goleiro. "Eu me cobrava e me incomodava muito, e hoje sei que isso faz parte do futebol. Hoje já consigo lidar melhor comigo mesmo, sem dar tanto ouvido para fora, e focar naquilo que tem que ser focado", explica.
Julio Cesar foi o goleiro foi o menos vazado da última Série B e neste ano deve voltar a jogar o Campeonato Brasileiro, uma conquista particular em "um dos melhores momentos da carreira", como ele próprio avalia, ainda que seu ambicioso clube esteja envolvido em negociações com o jovem goleiro Cleiton, do Atlético-MG. "É uma vitória pessoal, porque desde que saí do Corinthians não voltei para Série A. E meu sonho era esse: voltar, disputar de novo entre os melhores. Poder voltar jogando, não sendo contratado por um time, é por merecimento mesmo. É como se fosse a primeira vez", diz.
Confira abaixo outras respostas do goleiro do RB Bragantino:
Liderança de um elenco jovem
"É uma mescla de jogadores que já jogaram em grandes clubes com aqueles que ainda querem chegar. É muito fácil de trabalhar com esse grupo, porque são meninos que escutam. Os mais experientes não impõem nada; a gente troca experiências. Então é fácil de trabalhar nesse tipo de ambiente. Sendo liderança, exemplo para os outros, temos que sempre fazer as coisas certas. Não sou eu que comando sozinho, tem o Uillian Correa e o Ytalo que também ajudam nesse processo."
Como é o papo com os mais jovens?
"Quando estávamos na Série B, já depois do acesso, foi muito conversado sobre ir atrás do título. Porque é o título que é especial, é o que marca a carreira. O acesso é muito legal, mas o título te coloca na história do clube. Ser campeão é especial. Se a gente tiver a mesma gana de buscar, acreditar que dá para buscar alguma coisa neste ano, por mais difícil que seja, a gente tem que ir atrás dele."
Bragantino tem um alvo nas costas?
"Na Série A dá para se dividir muito bem esta responsabilidade, porque tem muitos times a serem batidos. Mas por tudo o que se fala do Red Bull Bragantino, do investimento e de como as coisas funcionam, é um clube que entra com olhares diferentes. Não vai ser o principal alvo, mas atrai olhares diferentes porque todo o mundo está curioso para saber como é."
Torcida de Bragança faz diferença
"A diferença da torcida é da água para o vinho. Jogar em um estádio vazio é muito ruim. Por mais que a gente se cobre e se motive, ter o torcedor te apoiando é totalmente diferente. O torcedor de Bragança entendeu a ideia e comprou, e isso fez a diferença na Série B."
E quanto ao futuro?
"Minha cabeça continua aqui por muito tempo. Claro que eu teria que fazer por merecer, mas penso em poder estar aqui no pós-carreira. Porque vejo que as coisas são conduzidas do jeito certo, é conduzido do jeito que todo o mundo gostaria de ver no futebol. Penso totalmente igual aqui [ao RB Bragantino], então quem sabe possa continuar aqui. O Red Bull Bragantino é um time que veio para ficar e mudar muita coisa enraizada no futebol brasileiro."
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