CPI que apura incêndio no Ninho tem Flamengo acuado e indício de falha
A sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o incêndio no Ninho do Urubu expôs todo o desconforto que o tema ainda causa internamente no Flamengo.
Convocado a depor, o presidente Rodolfo Landim se retraiu e optou por não ir. Por meio de carta, justificou sua ausência, mas o estrago estava feito entre os deputados. Imediatamente, os integrantes da comissão aprovaram requerimento de condução coercitiva para Landim, Rodrigo Dunshee de Abranches (vice geral e jurídico) e Alexandre Wrobel (ex-vice de patrimônio).
Às pressas, o CEO Reinaldo Belotti apareceu na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Até aquele momento, apenas pelo diretor-jurídico Antonio Cesar Panza, e pelo advogado William de Oliveira. Dentre as pessoas que assistiam, chamou a atenção de Aleksander Santos, que exerce um papel de articulador com os entes governamentais.
A presença dos pais de Pablo Henrique, uma das vítimas fatais da tragédia, fez subir a carga emocional da reunião. Pai do garoto, Wedson Cândido desmentiu Belotti, que jurou que o clube prestou todo tipo de apoio aos familiares. O rubro-negro também incomodou a família quando levantou a hipótese de que os jovens poderiam não ter se salvado por terem ido dormir mais tarde no fatídico dia, o que teria provocado um estado de "sono profundo".
"No dia da morte do meu filho não tive um contato do clube, soube pela imprensa. Eu não tive acompanhamento psicológico, o Flamengo não me ajuda em nada. Não houve contato nenhum. Não podemos contar mentiras aqui", relatou Wedson.
Belotti foi para ajudar, mas irritou a família, os advogados e os deputados que formam a comissão. Ao ser questionado se o clube poderia abrir as portas do Ninho para que as famílias prestassem suas homenagens, o executivo disse que apenas quando o time profissional partisse para o Maracanã a entrada seria liberada.
Cândido pareceu não acreditar. Colocou as mãos no rosto e, em silêncio, ameaçou chorar. Diante da repercussão imediata negativa, ele recuou e flexibilizou os horários. O afastamento entre Rubro-Negro e as vítimas, no entanto, já estava escancarado.
Indício importante
Talvez a revelação mais relevante durante as quase seis horas de depoimentos tenha partido do perito Vitor Satiro. O especialista afirmou que as portas de correr usadas no contêiner eram inadequadas para aquele tipo de dormitório. Uma delas foi danificada com o fogo e alguns garotos não se salvaram por isso. Esta informação será vital para apontar as responsabilidades. O deputado Rodrigo Amorim ressaltou que as grades fixas no dormitório faziam com que o local se assemelhasse a uma "jaula". Os especialistas indicam que a porta deveria de emergência, similar ao modelo adotado em salas de cinema, por exemplo.
"Os alojamentos eram apenas para uso como escritório ou para uso com pessoas acordadas", disse Mariju Maciel, advogada da família de Pablo.
Promessa de inquérito em fevereiro
Após muitas idas e vindas, o inquérito que apontará as causas e responsabilidades pelas dez mortes no CT está próximo de uma conclusão. No entendimento dos advogados, a peça será mais abrangente e irá chegar em nomes importantes da política rubro-negra.
Bandeira tenta explicar distância
O ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello chegou por volta das 14h. Ele alegou estar em Brasília em um compromisso pessoal ao justificar o atraso. Bandeira, único dirigente rubro-negro indiciado no primeiro inquérito rejeitado pelo Ministério Público, manteve o tom calmo e respondeu sempre que solicitado. Disse não ser possível ter conhecimento sobre todos os assuntos, inclusive que havia um auto de interdição no CT.
"Era perfeitamente crível que o presidente do Flamengo não soubesse disso. Ninguém sabia", disse.
Bandeira estava fora da presidência a cerca de 40 dias quando o incêndio ocorreu. Ele admitiu nunca ter falado com os parentes dos jovens e deu uma justificativa curiosa:
"Eu nunca mais falei com vocês porque eu não era mais presidente. A primeira oportunidade que estou tendo é hoje. Eu gostaria de expressar a minha solidariedade".
Familiares deixam a sala
Gabriela Graça, do Instituto Médico Legal (IML) foi responsável por falar do trabalho da identificação dos corpos. No momento em que ia exibir um vídeo com imagens um pouco mais fortes, os pais de Pablo deixaram a sala. Eles alegaram não ter vontade de ver as imagens e ficaram em um cômodo em anexo.
"Peço a sensibilidade da imprensa para que essas imagens não sejam transmitidas", pediu a deputada Renata Souza.
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