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Cúpula do Fla se esquiva sobre Ninho e vive pior crise 1 ano após tragédia

Presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, encara enxurrada de críticas pela postura do Flamengo diante do caso Ninho do Urubu - Thiago Ribeiro/AGIF
Presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, encara enxurrada de críticas pela postura do Flamengo diante do caso Ninho do Urubu Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Paulo

10/02/2020 04h00

Pouco tempo após ser muito festejada pelos resultados em campo no final de 2019, a diretoria do Flamengo encara sua pior crise nos últimos meses. E o motivo está fora das quatro linhas: as ações - ou falta delas - na semana que marcou um ano do trágico incêndio que matou dez jovens no CT Ninho do Urubu.

A estratégia de evitar entrevistas, se esquivar de respostas objetivas sobre a falta de acordo com a maior parte das famílias das vítimas e tratar os mesmos como inimigos de tribunal incomodou até mesmo a torcida rubro-negra.

E a decisão de barrar familiares que pretendiam fazer uma oração dentro do Ninho do Urubu no último sábado fez a onda de críticas alcançar um público ainda maior.

"Eu vim acender uma vela para o Jorge e parece que estou aqui para aparecer. É humilhante", reclamou Simone, tia de Jorge Eduardo, uma das vítimas fatais.

"Por que foram lá sem marcar?", rebateu o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim.

Os questionamentos vinham de todos os lados e apontavam uma falta de sensibilidade diante de famílias que viram adolescentes perderem suas vidas.

O domingo (dia 9) um dia após a data de um ano da tragédia foi simbólico. À tarde, as principais organizadas do clube convocaram uma manifestação cobrando respostas da diretoria rubro-negra. No início da noite, em um dos programas de maior audiência da TV aberta, o apresentador da Globo Faustão fez duras críticas ao comportamento do clube, sempre apegado ao debate jurídico e de valores de indenização.

Cúpula ignora pedidos de marketing e comunicação

Nos corredores da Gávea, a postura da cúpula de não encarar de frente questões sensíveis ligadas ao caso e sempre pautar as declarações pelo viés da briga judicial pelas indenizações já não encontra tanto eco.

Até mesmo os departamentos de comunicação e marketing se opõem a tal estratégia. Nada, no entanto, que faça o trio formado por Landim, o vice-presidente de relações externas, Luiz Eduardo Baptista, e o CEO do clube, Reinaldo Bellotti, mudar de ideia. São eles os responsáveis pela escolha de posicionamento diante do caso.

Especialistas veem prejuízo em imagem

Criticada por torcida, opinião pública e até pares da diretoria, a opção da cúpula também é reprovada por especialista em valores de marca de clubes. Nomes renomados do mercado de marketing mostram preocupação com a agenda negativa recente.

O mercado analisa tudo, não apenas resultados esportivos. É verificada a aderência de valores, comportamento, se os propósitos são parecidos, tudo. É uma situação complexa. Aparecer nas páginas em uma situação que não seja positiva é algo complexo", analisou o especialista em mercado de clubes e diretor executivo da gigante Ernst & Young, Pedro Daniel.

Outros três especialistas do mercado também questionaram a postura recente. Por manter algum tipo de relação com o Flamengo, porém, o trio preferiu não se identificar. Um deles ressaltou que a definição dos clubes como "associações" e não empresas privadas com fins lucrativos.

"Não falamos apenas da isenção fiscal ou natureza jurídica. Os clubes têm essa composição justamente por darem um retorno para a sociedade, uma formação de cidadãos. É preocupante nessa linha. Debater o lado humano nessa relação não é besteira, é a finalidade do clube. O objetivo final não é ser campeão do mundo, mas formar cidadãos e atletas, cuidar deles", pontuou.

Entrevista curta e poucas respostas

No final da noite de domingo, diante da chuva de críticas, Landim apareceu no programa "No Mundo da Bola", da TV Brasil. Em mais de uma hora de entrevista, poucos minutos foram dedicados ao importante assunto. E novamente poucas respostas foram dadas. O presidente do Flamengo se preocupou mais em culpar advogados e "pessoas que tentam passar uma imagem de que o clube é duro".

"Existe uma sinalização de que os advogados das vítimas colocam barreiras para que o Flamengo não se aproxime das vítimas. Eles endurecem a aproximação, dizendo que o clube é duro. E não deixa de ser uma estratégia de negociação. É óbvio que eles querem passar a visão de que o clube é duro, insensível", disse o presidente, antes de finalizar afirmando que o Flamengo "não pode aceitar qualquer pedido absurdo de valor feito ao clube".