Por que filho de astro russo do hóquei no gelo adora o Corinthians
O Corinthians publicou no sábado (8), em sua conta oficial no Instagram, uma foto do jogador russo de hóquei no gelo Ilya Kovalchuk comemorando o aniversário de 11 anos de seu filho Phillip. Não seria nada demais se o bolo da festa não fosse decorado com as cores e o escudo do Alvinegro do Parque São Jorge.
Ilya tem 36 anos de idade e joga pelo Montreal Canadiens, time da NHL, o principal campeonato de hóquei no gelo dos Estados Unidos. Em 2001, foi a primeira escolha no draft da liga, tornando-se o primeiro russo a conseguir o feito. Entre idas e vindas ao país norte-americano, o russo disputou três All-Star Games e foi artilheiro de uma edição do campeonato. Por seu país, disputou cinco Jogos Olímpicos de Inverno, conquistando uma medalha de ouro em 2018, quando também foi eleito melhor jogador da competição.
Mas como é que o herdeiro de um dos grandes nomes da história do hóquei no gelo russo foi se apaixonar pelo Corinthians?
A resposta deste enigma passa por Guga Alencar, brasileiro que dirige, há duas décadas, uma academia de futebol para crianças na cidade de Miami, onde também atua como preparador físico de atletas de alto rendimento.
Ele conta que conheceu Ilya há cerca de seis anos, ainda sem saber de sua reputação no esporte. Na época, o jogador havia deixado a NHL para voltar a competir em seu país natal. Ainda assim, seguia passando férias com a família na Flórida. Indicado por amigos, o russo procurou Guga para manter seu condicionamento durante o período de descanso. Após algumas conversas, revelou o gosto de um de seus filhos pelo futebol e, pouco tempo depois, Phillip passou a treinar na Joga Bonito Academy, escolinha do brasileiro.
O técnico revela que não foi difícil notar o potencial acima da média do garoto, que na ocasião tinha apenas cinco anos de idade. "O jeito que ele dribla, que bate na bola, é diferente mesmo" disse Guga, ao UOL Esporte. Entretanto, ele disse aos pais de Phillip que o tamanho de talento do menino só poderia ser medido quando (e se) ele jogasse no Brasil ou na Europa.
Foi o que aconteceu em 2019. O brasileiro veio com a família Kovalchuk a São Paulo durante a disputa da última Copa América. Entre atividades turísticas, eles visitaram os três clubes mais famosos da capital paulista. "Antes da viagem, contei a ele um pouco da história e da identidade dos três clubes e, como sou são-paulino, o levei para conhecer o Morumbi. Assistimos a um jogo da Copa América lá e tal, mas sendo bem sincero, a paixão dele bateu mais forte lá no CT Joaquim Grava".
A ida ao Parque São Jorge aconteceu em agosto, quando, ciente do potencial do garoto, a comissão técnica da equipe infantil do futsal alvinegro o convidou para retornar ao Brasil para um período de testes. Guga revela que nos dias em que Phillip esteve ali foi até difícil fazê-lo parar para comer, tamanha sua empolgação. "'Eu quero jogar pelo Corinthians. Aqui meus amigos são como eu, eles amam o futebol e também querem jogar o tempo todo", disse o garoto, a seu técnico e mentor.
"É bonito ver como ele se relacionou bem com as outras crianças lá no clube. Mesmo sem falarem a mesma língua, sorriam, brincavam juntos, se entendiam com a bola nos pés. Ele fez um golaço em um dos jogos, driblando praticamente o time adversário inteiro, e o camisa 10 deu a camisa para ele como um sinal de respeito, de amizade, na pura inocência. Isso não se vê todo dia", conta o treinador.
As viagens de Phillip não pararam por aí. No fim de novembro, ele embarcou com o pai e o treinador à Espanha, onde foi novamente aprovado, desta vez em duas das principais equipes do país: El Pozo Murcia e Barcelona. Diante do que seria a cereja do bolo para a maior parte das crianças do planeta, o garoto surpreendeu a seu pai e seu mentor.
"Ele não se empolgou tanto como quando esteve no Brasil. Achei prudente dizer: 'Phillip, sabe onde seus amigos do Corinthians sonham em jogar? Aqui no Barcelona'", brincou Guga. A resposta veio prontamente: "Esse pode ser o sonho deles, mas o meu é jogar lá no Corinthians".
A escolha do garoto russo, ainda que impulsiva, encontra respaldo quando analisada racionalmente. Na Europa, ele teria que optar entre o futsal e o futebol, enquanto, no Corinthians, poderá seguir treinando dois dias da semana em cada modalidade.
A família Kovalchuk já decidiu que o garoto virá ao Brasil para ser jogador do Corinthians ainda em 2020. A ideia tem o aval do técnico do clube, Leonardo Afonso, que ressalta que a possibilidade de um trabalho a longo prazo deve ser avaliada com cuidado e constantemente, devido a fatores como a distância da família e o idioma.
Seja qual for o futuro do garoto no Corinthians, uma coisa é certa: o Bando de Loucos já possui um representante russo.
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