TJD deve denunciar gritos homofóbicos de torcida do Flamengo no Fla-Flu
A Procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD-RJ) deve denunciar o Flamengo pelos gritos homofóbicos de sua torcida no clássico Fla-Flu da última quarta-feira (12), pela semifinal da Taça Guanabara. A princípio, os procuradores não pensavam em levar o assunto aos tribunais, mas a pressão externa, principalmente nas redes sociais, mudou o panorama no órgão.
Durante a partida, os rubro-negros responderam gritos da torcida tricolor em alusão ao incêndio no Ninho do Urubu com homofobia. Além do cântico de "time de veado", que costuma ocorrer nos jogos contra o Fluminense, os torcedores do Fla também cantaram paródias de canções tricolores com versos preconceituosos. Além disso, a FlaTV também fez comentários homofóbicos em relação ao time e aos torcedores do Flu em vídeo, o que foi repudiado pelo Rubro-Negro em nota oficial.
A polêmica aumentou porque o Tricolor foi advertido pelo TJD pelos gritos de "time assassino" no clássico Fla-Flu da fase de grupos. Ainda que tenha feito uma nota de repúdio e que o presidente Mario Bittencourt pedisse expressamente para que os cânticos não se repetissem, o Tribunal resolveu punir o clube de maneira branda. A intenção do relator do caso, Rodrigo Octávio, entretanto, era enquadrar o Fluminense em um artigo que impedisse a presença dos tricolores das arquibancadas por um jogo, o que foi vetado pelos auditores Rafael Lira, Leonardo Rangel e Julião Vasconcelos de Mello.
Revoltado com a postura do órgão, Mario, que é advogado e trabalha na área esportiva, fez críticas contundentes a André Valentim, procurador-geral do TJD. Em sua conta oficial no Instagram, o mandatário tricolor afirmou que o magistrado é torcedor do Flamengo e por isso "não ouviu" os gritos homofóbicos na arquibancada do Maracanã.
"No primeiro Fla x Flu do Estadual, nossa torcida entoou cânticos caluniosos na arquibancada e prontamente o Fluminense se manifestou de forma contrária repreendendo a atitude. Mesmo assim, com o caráter educativo de nossa medida, o Procurador do TJD-RJ apresentou denúncia objetivando nos punir. Na ocasião, o competente Presidente do TJD, Dr. Marcelo Jucá, fez uma postagem dizendo que não via motivos para denunciar o Fluminense, mas, mesmo assim, o procurador [que age de forma independente dos auditores e do presidente - importante ficar claro] fez a denúncia contra nosso clube", publicou Mario, contextualizando para adicionar:
"Naquele mesmo jogo a torcida do Flamengo praticou atos homofóbicos, mas segundo informações, André Valentim não "ouviu" os gritos da torcida do seu clube de coração. No jogo de ontem [quarta] a torcida do Flamengo e alguns funcionários do clube entoaram novamente cânticos homofóbicos e pelo que se percebe, nosso procurador foi ao jogo novamente com os ouvidos tapados. Aliás, a jornalista Gabriela Moreira confirmou hoje que o procurador está reticente em denunciar o clube para qual torce. Fechou os ouvidos e não leu as notícias que relatam a conduta da torcida e dos funcionários do Flamengo. O próprio Flamengo se manifestou repudiando a atitude da equipe da Fla TV. Louvável a atitude da diretoria rubro-negra em anunciar medidas contra seus funcionários e esperemos que o faça em relação à torcida, mas vejam que o caso é exatamente o mesmo que o nosso, do primeiro jogo. Apenas mais grave, já que as ofensas vieram também de funcionários. E aí, Valentim? Vai prevaricar?", questionou o dirigente, que colou o artigo 239 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva e encerrou sua publicação afirmando aguardar o posicionamento do "ilustre procurador rubro-negro".
A pressão de torcedores do Fluminense foi influenciada também por teorias de um suposto favorecimento do TJD ao Flamengo, já que alguns dos procuradores e auditores são rubro-negros, conforme apontam seus perfis pessoais nas redes sociais.
Contra os prognósticos iniciais, mais em prática parecida com a do julgamento do Fluminense, após dias de reflexão, a Procuradoria se mostrou sensível e prepara uma denúncia contra o Flamengo. A expectativa no Tribunal, inclusive, é de que a punição seja a mesma, uma advertência, ainda que considerem a homofobia e outros tipos de preconceito "algo mais grave" que a provocação tricolor, considerada caluniosa.
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