PC de Oliveira critica medidas contra racismo no futebol: "Não resolvem"
Em participação no Seleção SporTV de hoje (17), o comentarista de arbitragem Paulo César de Oliveira criticou as medidas disciplinares da Fifa contra o racismo no futebol. Na opinião do ex-árbitro, as ações contra práticas preconceituosas não têm sido suficientes pois não são pensadas por pessoas que sofrem com atos discriminatórios.
"Faz parte de um contexto, de um racismo estrutural que existe na nossa sociedade. Normalmente, os cargos de chefia, as pessoas que ditam as regras, que fazem os regulamentos, são brancas. Os brancos dificilmente passam por uma situação como essa. [...] Não adianta só mudar o código disciplinar da Fifa e colocar que o árbitro tem que cumprir os três passos: parar o jogo, anunciar no estádio, num segundo momento, se retirar do campo de jogo e ir para o vestiário; e, em um terceiro momento ainda fazer com que a equipe seja declarada perdedora - a equipe das quais esses torcedores fazem parte. Não está resolvendo, as entidades não estão tomando as devidas providências, e os árbitros não estão, efetivamente, cumprindo o seu papel", declarou.
PC de Oliveira também lamentou o episódio de racismo envolvendo o atacante malinês Marega, do Porto, em jogo do Campeonato Português no último fim de semana e afirmou que faltou sensibilidade ao árbitro da partida, aos companheiros de time e aos adversários.
"Um episódio lamentável. A arbitragem tem uma responsabilidade muito grande porque ela não seguiu os passos que a Fifa determinou. Enquanto as entidades não assumirem efetivamente e combaterem não só no papel e nas regras, mas de uma maneira eficaz, essa situação não vai mudar. Faltou por parte do árbitro tomar as devidas providências, aos companheiros, aos adversários, uma postura mais dura de ter abandonado o campo com ele para que a mensagem chegasse de maneira efetiva", continuou.
O comentarista ainda deu um depoimento em que contou como ele mesmo passa por situações de racismo no dia a dia.
"Trazendo um relato pra vocês. Eu moro em Cruzeiro, interior de São Paulo, e venho sempre para o Rio de Janeiro de carro. Eu já perdi a conta de quantas vezes fui parado numa abordagem policial. Não foi uma, não foram duas nem três. Quase todas as semanas eu sou abordado pela polícia, e já fui abordado de maneira ostensiva, os polícias com arma em punho, talvez não aceitam, acham estranho um negro dirigir um bom carro e, quando me reconhecem, não pedem nem o documento carro. Normalmente é uma abordagem ostensiva, violenta e, quando eu abaixo o vidro do carro, ou quando eu desço do carro... "Oh, PC, tudo bem? Vai trabalhar hoje?". Não pedem documento, não sabem se a situação do carro está regular ou não, e, muitas vezes, por um policial negro", contou.
Por fim, PC de Oliveira avaliou que o racismo em estádios é um reflexo do que acontece em toda a sociedade.
"Isso faz parte mesmo da cultura e todo esse movimento que está acontecendo no estádio, no campo de futebol, é um reflexo da nossa sociedade, da população carcerária que tem a sua maior parte negra, do desemprego que na população negra é maior, o salário do negro é menor. São poucos negros ocupando cargos de chefia em várias instituições, e isso é uma dívida muito antiga, desde o processo de colonização, que a gente vive esse problema. Só que agora está chegando num ponto que a gente pode ter situações mais graves se os dirigentes não tomarem as devidas providências", completou.
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