Cazorla até "quebrou" tatuagem da filha para encarar 8 cirurgias e bactéria
Resumo da notícia
- O UOL Esporte participou de entrevista com o espanhol Santi Cazorla
- Meia esteve ameaçado de abandonar o futebol devido a uma lesão no tornozelo
- Erros médicos e uma infecção por bactérias deixaram o caso ainda mais grave
- Cazorla deu a volta por cima no Villarreal e retornou à seleção espanhola
O esporte está cheio de histórias de superação. Qualquer um consegue montar com facilidade uma lista de atletas que deram a volta por cima após derrotas e lesões. Mas poucas narrativas são tão aflitivas quanto a que viveu Santi Cazorla. O pequeno espanhol foi inundado em desespero e flertou com o fim da carreira graças a uma sequência dramática de erros médicos, infecção bacteriana e cirurgias infinitas. Mas, hoje, Cazorla sorri.
"Desfruto muito mais agora porque antes havia perdido todos os prazeres do futebol, como treinar, entrar em um estádio cheio. Hoje valorizo muito mais as coisas. Antes parecia tudo normal, mas depois de tanto tempo vi como essas coisas são especiais. Me resta pouco tempo no futebol, tenho que ser realista, então preciso aproveitar tudo isso", desabafou Cazorla durante conferência com jornalistas de 11 países organizada pela La Liga.
A trajetória do meia-atacante de 35 anos, já no fim da carreira, carrega tons de um surrealismo tipicamente espanhol. Cazorla encarava dores crônicas no tornozelo direito depois de uma lesão sofrida em 2013. Em 2016, ainda jogando pelo Arsenal, o incômodo se transformou em algo insuportável e o levou a procurar médicos para a realização de uma cirurgia.
O primeiro procedimento fracassou, e Cazorla passou a ser um visitante frequente dos centros cirúrgicos. Até que, em nova pitada dramática, uma infecção bacteriana o atingiu e corroeu quase dez centímetros de seu tendão de Aquiles. Os médicos duvidavam até que Cazorla pudesse "caminhar no jardim com a família". O futuro assustava.
"Quando você está lesionado, o aspecto psicológico muitas vezes é mais importante inclusive que a própria lesão. Você precisa de muitos cuidados psicológicos e mentais. Se você não fizer um acompanhamento, fica mais difícil. Eu sempre fiquei rodeado de muita gente que me ajudou a acrescentar coisas positivas nos momentos ruins e isso foi fundamental para enfrentar os momentos complicados que enfrentei", relatou.
Conviver com as marcas de seu calvário é um empurrão para seguir em frente. Quando olha para o antebraço esquerdo, Cazorla já não vê mais por completo a tatuagem que fez em homenagem à filha. Mas isso não é um problema. Afinal, aquele pedaço de pele o ajudou a recomeçar. Em um dos oito procedimentos cirúrgicos que fez, o jogador usou o tecido do braço para ajudar a reconstruir a pele do tornozelo.
Foi como trocar as peças de um quebra-cabeça, mas deixando de lado a frustração para se aliviar com a imagem final desfigurada. O mais importante era se curar, sem qualquer vaidade com a aparência. Cazorla queria sentir o cheiro da grama, queria iludir os rivais com a habilidade de ser ambidestro. Queria viver de novo a realidade que, de repente, havia se transformado em sonho distante.
"A lesão aconteceu nos anos finais de Arsenal e foi muito frustrante para mim. Não pude me despedir de um clube tão importante para mim, que segue sendo especial pelo carinho de todas as pessoas. Sou eternamente grato pelo clube e pelos torcedores que até hoje me apoiam. Eu lutei para voltar, mas não sabia até onde poderia chegar. Havia dúvida até sobre voltar a jogar profissionalmente, até onde eu poderia chegar. Mas lutei muito, tive muita confiança e trabalhei muito desde o primeiro dia para retornar ao futebol", ressaltou.
Os sonhos nunca deixaram de ser cultivados por Cazorla. Ainda que o fim da carreira como jogador esteja próximo, ele tem na ponta da língua onde ainda quer chegar: conquistar um título pelo Villarreal, o mediano time espanhol responsável por lançá-lo no futebol e por reabrir as portas do esporte de alto nível, e disputar a Eurocopa deste ano pela seleção espanhola.
Desde 2018, o Villarreal tem melhorado ano a ano sob sua batuta — nesta temporada, o meia fez oito gols e deu cinco assistências e permite que a torcida creia em uma vaga na Liga dos Campeões. E jogar pela Fúria já uma realidade desde as Eliminatórias da Euro em 2019, depois de uma espera de 1.302 dias.
O surrealismo também pode ser encantador e Cazorla está sedento por pintar novas histórias.
Como é viver a chance de voltar à Liga dos Campeões com o Villerreal [Cazorla fez parte do time semifinalista na temporada 2005/06]?
É um objetivo, mas sabemos que um objetivo muito difícil. Há muitas equipes de nível pela frente em partidas importantes até conquistar uma vaga para a Champions. Mas temos que confiar no nosso time e saber que estamos em uma boa posição para essa briga.
O que o Villarreal significa na sua vida?
Villarreal é difícil descrever porque significa demais. Foi o clube que me permitiu estrear na Primeira Divisão com 18 anos e me firmar como profissional. Se não pensar nisso tudo o que me deram, também posso falar de como me fizeram crescer como pessoa. Nos momentos complicados sempre estiveram comigo e me abriram as portas. É quase impossível que eu devolva tudo o que me deram, mas faço meu máximo para tentar retribuir. É um clube marcante para o resto da minha vida.
Tem objetivos com a seleção espanhola? Acreditava voltar a defender seu país?
O segredo do momento que vivo, mais do que os gols, é o suporte que tenho recebido de meus companheiros. Quando se sente acolhido por um grupo, tudo funciona melhor e é mais fácil de atingir seu melhor nível. Espero jogar a Eurocopa, já fiquei feliz de participar das Eliminatórias e agora luto para estar na convocação. Quero aproveitar tudo isso que estou vivendo depois de tudo o que passou. Estamos em um momento de renovação e isso requer tempo. Claro que temos jovens talentos que nos dão muita esperança. Será um grande desafio. Há um grande nível de jogadores para encarar uma Eurocopa complicada, mas a Espanha é sim uma das favoritas.
Quais são seus planos para o futuro? Pensa em ser técnico?
Não sei se quero ser técnico quando me aposentar. Sei que isso está mais perto de acontecer, mas não tenho nada decidido o que quero fazer. Talvez me chame mais a atenção ser diretor esportivo do que treinador, pelo menos hoje. Preciso observar o que meu corpo pede para saber quando parar e depois pensar o que fazer para me manter próximo do futebol. Antes de me aposentar queria ganhar um título com o Villarreal, por tudo o que lutamos e creio que conseguiremos. E também, quem sabe, disputar a Eurocopa. Isso era algo inimaginável há um tempo e agora sonho em estar com a seleção. Vamos ver o que acontece, mas são esses meus objetivos a curto prazo.
Como você desenvolveu a capacidade de ser ambidestro e como isso te ajuda?
Treinava muito quando era jovem para trabalhar minha perna menos hábil. Sempre fui muito esforçado e foi muito importante utilizar a perna menos hábil, fortalecê-la. Tive essa facilidade e melhorei mais ainda por ter treinado desde jovem. É uma vantagem que tenho. Não sou forte e nem tão rápido, então usar as duas pernas me permite mudar de direção e me abre muitas portas para executar as jogadas.
Você jogou com Arteta no Arsenal e agora pode vê-lo no comando do time. O que pensa disso?
Estou muito feliz por Mikel. Eu o conheci muito bem como jogador e ele já era um pouco técnico em campo. Sempre foi um líder no vestiário. A decisão do Arsenal de dar a ele essa oportunidade foi muito acertada. É uma pessoa que pode mudar os rumos do clube e que é muito adequada para essa função. Espero e desejo que a carreira dele só vá para frente.
Aposta em quem como campeão espanhol? Real Madrid ou Barcelona?
É difícil saber quem vai ganhar, porque são duas grandes equipes da liga e da Europa. Estão em momentos diferentes, claramente. Real Madrid vive um grande momento de futebol e o Barcelona trocou de técnico e precisa de tempo para assimilar as mudanças do novo treinador. A disputa está aberta e isso é importante para o torcedor. Que ganhe o melhor.
O que você espera deixar de legado no futebol?
Meu legado que gostaria de deixar é que me recordem como uma pessoa que ajudava os companheiros, que gerava um bom ambiente no dia a adia. Que as pessoas pensem em mim com o carinho que hoje me direcionam nos estádios.
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