Técnico campeão sobre o Grêmio tem 35 anos e mira exemplos de Tite e Mano
Início de carreira no Rio Grande do Sul, passagem pelo Caxias de sucesso, depois a projeção nacional e até a seleção brasileira. O resumo dessa história poderia ter como protagonista o atual técnico da seleção brasileira, Tite, ou um de seus antecessores, Mano Menezes. E é exatamente de olho nestes exemplos que está Rafael Lacerda.
Campeão do primeiro turno do Gauchão pelo Caxias na vitória de 1 a 0 sobre o Grêmio, no sábado, o treinador de apenas 35 anos, que era atleta até 2018, sonha alto enquanto mantém os pés no chão no início de sua carreira.
"Não faço comparações, acho que isso não é legal, cada um tem seu estilo de trabalho. Todos os treinadores que passaram aqui, Tite, Mano, Celso Roth, mais tantos outros, sabemos da qualidade e que temos que trabalhar muito para chegar lá. É meu primeiro trabalho como técnico e tudo tem um início. Este início tem sido muito bom. Estou feliz, empolgado, é um clube que forma grandes treinadores e grandes jogadores. Ficamos com um sentimento gostoso de saber que grandes técnicos passaram por aqui, e hoje sou eu o comandante do clube. Espero ter um futuro tão grandioso quanto eles", disse em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
O Caxias é o primeiro time treinado por Lacerda. Ele poderia estar nos gramados até hoje. Ex-zagueiro, teve passagens boas por clubes do Rio Grande do Sul, além de Goiás, Portuguesa, Paysandu, entre outros. Em 2018, ainda atuou pelo Aimoré e tinha contrato para defender o clube de São Leopoldo —na região metropolitana de Porto Alegre— no Gauchão do ano passado. Porém, o convite do Caxias o fez abrir mão de um salário mais alto pelo desejo de fazer parte de uma comissão técnica.
"Eu tinha contrato para 2019 com Aimoré, mas tive o convite da diretoria do Caxias. Eu ganhava bem mais como jogador, mas balancei porque eu tinha este sonho de ser auxiliar e técnico. Eu estava com 33 para 34 anos, e optei por começar como auxiliar. Trabalhei com Pingo, que é um grande técnico, com ideias diferentes de times ofensivos. Com ele, o Caxias fez um grande ano em 2019. Depois veio com o Paulo Henrique Marques, quando virei primeiro auxiliar do treinador. Acabando a Série D (do ano passado), o Caxias optou por jogar a Copinha (Copa RS) e fizeram o convite para mim. Me tornei treinador e segui o trabalho", contou.
Não deu tempo nem de concluir toda a formação. Em atividade como atleta e logo em seguida como auxiliar, Lacerda se surpreende com a velocidade que tudo aconteceu e espera conseguir concluir os cursos ao fim do ano.
"Eu estava pensando em parar de jogar há algum tempo. Há dois ou três anos que não tinha mais aquele frio na barriga para jogar. Queria ser comissão técnica, sabia que me tornaria treinador, mas não esperava que fosse tão rápido. Não fechou um ano de trabalho e já veio um título tão importante contra um clube tão grande como o Grêmio", contou. "Nem tive tempo de me preparar. Eu jogava, pensava em fazer o curso da CBF, mas não tive tempo. Virei auxiliar, depois treinador. Agora em dezembro pretendo conseguir fazer o curso", completou.
O Caxias não apenas surpreendeu o Grêmio na final. A equipe da serra acabou a fase de grupos do primeiro turno do Gauchão na frente do Tricolor, adversário que também derrotou pela primeira rodada do campeonato. Foram cinco vitórias, um empate e uma derrota ao todo, sete gols marcados e apenas dois sofridos.
"O segredo está em duas coisas. O trabalho, que engloba tudo, comissão, jogadores, direção, tudo é muito importante. E o comprometimento dos atletas, que compraram a ideia e a situação do clube. O Caxias é um clube grande, que hoje está na Série D, mas precisa voltar ao convívio dos grandes. Está tudo certinho, paga em dia, é correto, e passa por tudo isso", contou.
Em campo na decisão, o time não apenas se defendeu de forma impecável, mas também tratou de atacar o Grêmio quando tinha posse de bola. Teve ao menos duas chances claras antes de marcar, e outras duas depois de já estar na frente. Soberano em seu estádio, a taça coroou o desempenho da equipe e lançou expectativas altas sobre o trabalho do técnico.
"Sabíamos da dificuldade que seria por se tratar de um grande clube do futebol brasileiro, sul-americano, mundial. Teríamos que respeitar muito o Grêmio e fizemos isso. Mas trabalhamos para jogar de várias formas, pressionando, tentando propor, jogar como jogamos. Antes de iniciar a partida, não tem como ter certeza de como vai ser. Mas estávamos prontos, e graças a Deus tudo deu certo", disse.
A trajetória de sucesso no Caxias acompanhou Mano Menezes e Tite. Ambos conseguiram resultados importantes pela equipe da serra gaúcha antes de comandarem grandes clubes do futebol brasileiro e até mesmo a seleção.
"Mesmo tendo sido zagueiro, não acho que colocar muitos zagueiros e volantes vai fazer o time se defender melhor. Nossos dois volantes, o Carlos Alberto é um meia, jogou a vida inteira assim. O Juliano jogou como meia no CRB e era segundo volante no Goiás. Tem que ter jogadores de qualidade na frente para assustar o adversário. A ideia é sempre procurar atacar", opinou.
O Caxias sonha alto. Campeão do primeiro turno, o time tem vaga garantida na final absoluta do Gauchão. Mas não quer pensar no objetivo já alcançado neste momento. A ideia é jogar o segundo turno com a mesma seriedade do primeiro e manter os pés no chão.
"Depois do jogo conversamos sobre isso. Vamos manter o pé no acelerador até o fundo. Não queremos nem pensar na final do Gauchão. Eu digo que o Gauchão é dividido em três torneios, o primeiro turno, o segundo e a final. Ganhamos um e estamos garantidos em outro, mas temos o segundo. Traçamos este objetivo e deu certo. Hoje pensamos apenas em classificar entre os dois primeiros da chave no segundo turno, e vamos trabalhar muito forte porque os times vão estar melhor preparados e de olho em vencer a gente. Não podemos esconder que o grande objetivo do Caxias é voltar à Série C, mas primeiro vamos acabar o Gauchão. Já monitoramos alguns atletas porque sabemos que a Série D é difícil", finalizou.
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