O que mudou para time de Iniesta ir de quase rebaixado a sensação no Japão
Resumo da notícia
- Vissel Kobe conquistou os primeiros títulos de sua história em 2020
- Time de Iniesta venceu a Copa do Imperador e a Copa do Japão
- Chegada do técnico Thorsten Fink ajudou a equipe a engrenar
- UOL Esporte conversou com Fink e com o brasileiro Dankler
A temporada 2020 já entrou para a história do Vissel Kobe. Se até o ano passado o clube de Iniesta e Podolski ainda não sabia o que era levantar uma taça, agora já são dois títulos conquistados: a Copa do Imperador, após vitória por 2 a 0 sobre o Kashima Antlers, de Zico, em final disputada em 1º de janeiro, e a Supercopa do Japão, vencida em 8 de fevereiro numa emocionante disputa de pênaltis contra o Yokohama F. Marinos.
Mas o momento de glórias demorou a chegar para o clube que, apesar de fundado em 1966 com o nome de Kawasaki Steel Soccer Club, só virou Vissel Kobe em 1994 após a cidade de Kobe entrar em acordo com a Kawasaki Steel para criar um clube profissional de futebol. Mesmo com o alto investimento e as contratações de Lucas Podolski, em 2017, Andrés Iniesta, em 2018, e David Villa, que chegou na temporada passada e já se aposentou, o Vissel demorou a engrenar e por pouco não acabou rebaixado na J-League de 2018, quando se salvou apenas nas últimas rodadas.
A história só começou a mudar a partir da metade do ano passado, quando o técnico alemão Thorsten Fink, ex-jogador do Bayern de Munique, assumiu o comando da equipe — ele estreou em 15 de junho e logo engatou uma sequência de quatro jogos sem perder, com três vitórias. Antes de ele chegar, porém, a fase era das piores: foram nove derrotas consecutivas, entre jogos da J-League e da Copa da Liga do Japão.
"O time vinha de nove derrotas consecutivas. Fui o terceiro treinador da temporada. Os atletas não acreditavam neles mesmos e jogavam um futebol muito defensivo. Então, conversei várias vezes de forma individual e com toda a equipe. Já havia visto uma partida ao vivo. Nós passamos a jogar com mais pressão, mais posse de bola. Demos passos pequenos no começo. Também havia problemas no nível defensivo. Então, busquei o melhor sistema de jogo com o intuito de ter mais a bola e uma defesa mais sólida", diz Thorsten Fink em entrevista ao UOL Esporte.
Mas o que não vinha funcionando antes do técnico alemão?
"Eu não sei. Na sua maioria tinha a ver com o caráter da equipe, convicção. Eles tinham dúvidas. Porém, quem duvida não vence, e vencedores não duvidam. Eles não acreditavam na filosofia do clube", acrescenta Fink, que em julho também ganhou o reforço do experiente Thomas Vermaelen, zagueiro belga ex-Barcelona.
As coisas começaram a dar certo e, além dos títulos conquistados mais para frente, o Vissel Kobe deixou a zona de perigo da J-League e terminou a temporada em situação confortável, na oitava colocação da tabela. Com Fink, o time obteve um aproveitamento de 55% no Campeonato Japonês, contra 19% de Takayuki Yoshida e 47% do espanhol Juan Manuel Lillo, os outros técnicos que passaram pelo Vissel em 2019.
"A chegada do Fink foi de suma importância porque nós passávamos por um momento muito delicado dentro da competição. Nós tínhamos nove partidas sem vencer. A chegada dele nos trouxe aquela motivação que dá em todos os atletas, em qualquer clube, quando você não vem tendo um bom aproveitamento com um treinador e muda. Já tem aquela motivação individual de querer mostrar trabalho, a potência do grupo, e isso nos trouxe essa motivação interna, de cada um", conta o zagueiro brasileiro Dankler, de 28 anos, ex-Vitória e Botafogo e que defende o Vissel desde o começo de 2019.
Mudanças de sistema ao longo da partida
Além da motivação, Dankler aponta o trabalho dentro das quatro linhas feito pelo comandante alemão como fator essencial para a melhora do Vissel Kobe ao longo da temporada passada.
"O trabalho que ele trouxe para a equipe, o sistema, a facilidade da nossa equipe de jogar no 3-5-2, no 4-3-3, no 5-4-1... Nossa equipe muda muito de sistema dentro da partida. Ele implementou esse trabalho dentro do grupo, de mudarmos muito a formação dentro do próprio jogo conforme ele vai acontecendo. Ele dá um sinal e nós já mudamos. Creio que isso foi de suma importância para a equipe. Abraçamos o projeto, confiamos no que ele trouxe e trabalhamos muito porque não é fácil você ficar mudando de sistema dentro da própria partida. E com isso conseguimos mudar toda situação que passávamos dentro da equipe", elogia o zagueiro titular absoluto do Vissel.
"Quando ele chegou, já conseguimos a primeira vitória diante do FC Tokyo, que é uma grande equipe, fora de casa... Essa vitória foi muito importante porque vimos que podíamos sair da situação que estávamos, brigando para não ser rebaixado. Nós terminamos o campeonato japonês em oitavo lugar. Creio que se não tivéssemos passado nove jogos sem vencer, poderíamos ter buscado algo muito maior dentro da competição. Mas conseguimos dar a volta por cima, nos recuperar na J-League, e dentro dos outros campeonatos também fomos crescendo automaticamente, como na Imperador, que fomos campeões, o primeiro título da história do Vissel Kobe. Ganhamos confiança até para essa nova temporada e fomos campeão da Supercopa do Japão. Ainda começamos muito bem na Champions League da Ásia. Isso é fruto de um trabalho que vem sendo feito há longo prazo", acrescenta.
De acordo com o zagueiro brasileiro, a parte física foi outro ponto que evoluiu bastante após a chegada de Fink, que exigiu trabalhos intensos além do que o grupo vinha fazendo. Depois de um início ruim em 2019, o Vissel encerrou o ano com oito vitórias em 12 jogos da J-League.
"Quando eu cheguei aqui, na segunda partida da J-League, falava-se muito da pré-temporada, que não foi intensa, forte. Foram trabalhos que não exigiam muito a parte física. Não posso falar porque não participei da pré-temporada, mas é o que diziam, que estávamos pagando pela pré-temporada que fizemos. A gente sempre começava bem no primeiro tempo e depois caía bastante", conta.
"E com a chegada do Finkel, com o trabalho intenso que ele trouxe, que exigia bastante, fez a gente recuperar a parte física. Quando no final da temporada algumas equipes foram caindo, nós viemos num crescimento físico e técnico muito grande, com essa questão do sistema que ele implementou. Isso fez com que nossa equipe tivesse uma evolução muito grande", acrescenta o zagueiro.
O fator Iniesta: "melhor jogador que vi na vida"
Não tem como falar de Vissel Kobe e não falar de Iniesta, certo? E também não há quem trabalhe com o espanhol que não se derreta pelo futebol do jogador campeão mundial em 2010. Hoje com 35 anos, o ex-craque do Barcelona já soma 44 partidas com a camisa do time japonês e acumula atuações de gala pelo Vissel.
"O Iniesta é um artista com a bola. Ele é o melhor jogador que vi na vida e também possui ótimo caráter", exalta o técnico Thorsten Fink.
Os elogios de Dankler não ficam atrás: "É um jogador indiscutível. É muito diferente e, com certeza, é o atleta de mais alto nível que já pude jogar. Ele sempre faz o imprevisível. Ele é aquele jogador que faz o inesperado. Então, por isso já dá para ter noção do que ele representa para toda equipe. Todos sabem da qualidade e de tudo que ele pode fazer dentro de campo porque ele já demonstrou e continua demonstrando a cada dia e a cada partida. É algo surreal".
"Por mais que já tenhamos a certeza da capacidade dele, quando ele faz o imprevisível sempre tira aquele 'uh' da torcida. E a gente comenta: 'esse cara é indiscutível, fora de série'. Já pude jogar com outros atletas como o Seedorf, no Botafogo, Podolski e David Villa aqui, que também são diferenciados, mas o Iniesta é o jogador que eu pude jogar e ainda estou jogando que é o mais fora de série", acrescenta o zagueiro.
LEIA MAIS TRECHOS DAS ENTREVISTAS
THORSTEN FINK
1 - Administrar as estrelas do elenco... Vem sendo um dos grandes desafios até aqui? Algum deles deu mais trabalho?
Sim. Nem todos os treinadores conseguem trabalhar com estrelas. Este foi o desafio. Nós tínhamos oito, mas só cinco delas podiam atuar. As estrelas querem sempre jogar. Foi necessário explicar o porquê de não estarem jogando e qual era a nossa estratégia. Tivemos alguns problemas iniciais, mas acabaram entendendo as minhas palavras.
2 - O Vissel está preparado para vencer a Liga dos Campeões Asiática?
Por que não? É bastante difícil, mas nós temos que almejar vencer a ACL. Entretanto, não é uma obrigação. Várias equipes japonesas ganharam esse título no passado.
3 - Depois de mais de 30 anos jogando e trabalhando como técnico na Europa... Como vem sendo a experiência no Japão? O que tem de melhor e pior que a Europa?
O respeito é enorme aqui. As pessoas são honestas. Eu gosto desta mentalidade, vencendo ou não. O futebol é rápido e os treinadores adotam boas estratégias. Contudo, na vertente física, os campeonatos europeus e as melhores ligas são mais desenvolvidos. Por esse motivo os estrangeiros fazem a diferença aqui.
4 - Como vê o trabalho do compatriota Jürgen Klopp? Ele, de certa forma, ajuda os técnicos alemães a ganharem mais visibilidade e confiança por parte dos clubes?
Sim. Ajuda um pouco. Todos procuram por treinadores alemães. Eu gosto do estilo do Jurgen, onde podemos ver paixão e união, porém tenho um estilo próprio.
DANKLER
1 - Até quando você tem contrato com o Vissel? Depois disso, sonha em voltar ao Brasil ou ainda quer ficar mais tempo no exterior?
Tenho contrato até dezembro de 2020, só que eles têm a opção de que, se eu jogar uma porcentagem pela J-League, já se renova automaticamente. Quanto a voltar para o Brasil, pode ser, se for um clube grande que tenha ambição grande, que pense em ganhar títulos, com um projeto positivo, eu voltaria. Mas ainda penso em voltar para a Europa ou até permanecer aqui no Japão. São lugares onde pude ter uma evolução muito grande.
Aqui no Japão venho crescendo a cada dia, a cada jogo, e graças a Deus consegui fazer uma temporada maravilhosa no ano passado, e já começamos muito bem esse ano. Primeiro dia do ano já fomos campeões, com o título inédito para o Vissel, e no dia 8 conseguimos outro título. Dois títulos em dois meses. E agora estamos disputando a Champions League da Ásia e, dia 23, começa a J-League. Espero que a gente possa fazer grandes competições e trazer mais títulos para o Vissel. A vontade que termos de continuar fazendo história é muito grande.
2 - O quanto um técnico pode fazer a diferença em um time? Ou depende mais dos jogadores?
O técnico pode fazer uma grande diferença, a forma como ele leva seus atletas, como conduz o grupo. Claro que, dentro de campo, somos nós que precisamos estar atuando bem para que os resultados venham. Mas, muitas das vezes, a chegada de um treinador, a forma como ele passa confiança, o trabalho, faz muita diferença para a equipe. E, com certeza, a chegada dele foi de suma importância para a equipe, e tivemos esse crescimento juntos. Somos uma equipe muito forte, competitiva, que juntou com a comissão técnica do Finkel, todos entraram em concordância e teve esse crescimento da equipe.
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