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Pizza de presente e nervosismo: as visitas de Ronaldinho Gaúcho na prisão

NORBERTO DUARTE/AFP
Imagem: NORBERTO DUARTE/AFP

Ricardo Perrone

Colaboração para o UOL, em Assunção (Paraguai)

09/03/2020 04h00

É meio de tarde de domingo ainda com um calor perturbador. Famílias passam pelo portão carregando caixas e garrafas térmicas, cadeiras e mesas, entre outros apetrechos. O semblante pensativo ou triste de parte deles denuncia que não se trata de fim de um acampamento festivo. A movimentação acontece na saída de visitantes da "Agrupácion Especializada da Policia Nacional", onde Ronaldinho e Assis, seu irmão, estão presos no Paraguai.

Não são só parentes e amigos de presos que estão de saída. Muitos foram visitar aspirantes a oficial da polícia paraguaia, que ficam por lá fazendo seu curso.

Olhando e ouvindo não dá para desconfiar que um astro do porte do ex-craque do Barcelona está por lá. A movimentação de duas equipes de TV é o único indício de que há alguém famoso "hospedado" no local.

Ronaldinho e seu irmão Roberto Assis estão detidos na "Agrupacion Especializada" do Paraguai desde o dia 6 de março de 2020 - NORBERTO DUARTE/AFP - NORBERTO DUARTE/AFP
Ronaldinho e seu irmão Roberto Assis estão detidos na "Agrupacion Especializada" do Paraguai desde o dia 6 de março de 2020
Imagem: NORBERTO DUARTE/AFP

A maioria dos que estão de saída trata Ronaldinho como um assunto proibido: "Não o vi", "não se fala nada sobre ele", "é, ele está lá, tchau" foram as respostas mais ouvidas pela reportagem ao perguntar a respeito do brasileiro.

"Não podemos falar sobre Ronaldinho. Temos ordens", diz um jovem na saída do local. Mas quem determinou a lei do silêncio? "Os oficiais", diz o rapaz. Depois, ele explica ter sido uma orientação dada aos aspirantes a oficial por seus superiores.

Uma simpática mulher, que se apresenta como Carmem, quebra o silêncio juntamente com uma senhora que a acompanha. "Não se pode ver Ronaldinho. Ele está numa ala em que é impossível ser visto. Mas, lá dentro, falam que ele está recebendo muitos presentes de fãs. Muita comida, pizza. Só que ele não está aceitando nada lá de dentro. Só aceita de alguns fãs que mandam comida de fora", disse ela.

A senhora ao seu lado a interrompe para informar que o ex jogador brasileiro "está muito nervoso". É o que ela diz ter ouvido lá dentro. E Carmen emenda: "É porque ele pode ficar até seis meses aqui".

Os irmãos foram presos preventivamente sob acusação de usarem documentos paraguaios falsos em sua entrada no país. A defesa da dupla entrará com recurso para tentar anular a prisão preventiva.

Mais cedo, antes de a acompanhante de Carmem cravar o nervosismo de Ronaldinho, seu advogado brasileiro, Sérgio Queiroz, havia dito que os irmãos estão revoltados com a prisão que consideram ilegal. Porém, ele não reclama do tratamento dado a seus clientes na cadeia. Diz estar dentro dos padrões.

A movimentação da reportagem parece ter incomodado um dos três guardas que vigiavam a entrada. De maneira ríspida, ele ordenou a saída de perto do portão.

Minuto antes, o policial havia sido simpático ao elogiar a comida servida para os presos. Disse ser de boa qualidade e igual ao que guardas e outros funcionários comem. Ele ainda afirmou que os detidos podem receber alimentos de fora, se quiseram, mas declarou não saber se esse é o caso de Ronaldinho.

A tarde caminhava para seu final em ritmo entediante. Famílias atravessavam o portão equilibrando apetrechos que eram colocados no chão até que alguém chegasse de carro para buscar a parafernália.

A monotonia foi quebrada quando um grupo de garotos, um deles com a camisa do Flamengo, ex-time de Ronaldinho, chegou perto do presídio berrando o nome do ex jogador brasileiro. Em seguida, fizeram farra cantando refrão que dizia "Ronaldinho, não se vá". A turma partiu fazendo algazarra. O ex-craque brasileiro, obviamente, ficou, como pedia a canção.