Investigado diz que não reteve passaporte porque se comoveu com Ronaldinho
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, a nova diretora do Departamento de Imigrações do Paraguai, María de los Ángeles Arriola Ramírez, revelou detalhes de uma investigação interna feita por seu departamento a respeito do caso Ronaldinho Gaúcho.
Segundo ela, o funcionário detido e processado depois de deixar Ronaldinho e Assis, seu irmão, entrarem no país sem terem seus passaportes falsos recolhidos explicou que a emoção de saber de que se tratava do astro o atrapalhou, provocando o erro.
Ela também declarou que se Ronaldinho e seu irmão tivessem de fato se naturalizado, como sugeriam os documentos falsos, teriam de abrir mão da nacionalidade brasileira por conta das legislações dos dois países.
María assumiu o cargo na última sexta-feira depois de seu antecessor, Alexis Penayo, renunciar após o escândalo com Ronaldinho estourar.
"O inspetor Molina, que deixou Ronaldinho passar conta que foi superado pela situação. Por ter visto que era Ronaldinho quem vinha. Ele disse que estava assombrado pela quantidade de gente. Disse que estava emocionado e que parecia uma festa porque tinha tanta gente. E como se tratava de Ronaldinho, uma estrela do futebol internacional, a situação o superou. Essas são as palavras dele", explicou a diretora.
Ela se refere ao depoimento dado pelo funcionário em procedimento administrativo feito pelo órgão e repassado ao Ministério Público.
O fiscal citado é José Molina. María explicou que a falha do funcionário foi não ter retido os passaportes falsos de Ronaldinho e Assis. "Quando ele percebeu que havia algo de errado com os documentos deveria ter comunicado a Polícia Nacional, ter feito uma ata, retido os passaportes e deixado os dois entrarem no país, mas eles saberiam que a situação estava sendo investigada. O erro foi que ele devolveu os passaportes, deixou os dois partirem e só depois fez a ata informando à polícia nacional. Então, a polícia denuncia a irregularidade", detalhou.
Outro erro, segundo a diretora, foi o fato de os passaportes terem sido levados ao box de controle por terceiros. "Para casos de pessoas famosas que alugam sala VIP nós temos equipamento móvel para fazer o registro dos passaportes. Um funcionário nosso vai até lá e faz o procedimento normal, as perguntas de praxe, olhando na cara do passageiro. Não fizeram isso, alguém levou os passaportes e depois deixaram Ronaldinho passar", declarou.
Durante a entrevista, ela citou outro ponto que deveria ter chamado a atenção do fiscal. Ronaldinho e seu irmão apareciam como naturalizados paraguaios.
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"Para se naturalizar paraguaio é preciso morar pelo menos três anos no Paraguai. Isso tinha que ter chamado a atenção do nosso funcionário. Ele sabe que para se naturalizar paraguaio tem que viver aqui, e é conhecido mundialmente que Ronaldinho nunca viveu no Paraguai. É incompreensível porque estamos falando de um funcionário que tem sete, oito anos trabalhando aqui. Outra coisa, vamos ser realistas, se me oferecem nacionalidade brasileira, como trazem um passaporte brasileiro se eu jamais estive nesse país. É preciso pensar", declarou María.
A funcionária do governo paraguaio explicou ainda que Ronaldinho e Assis teriam que abrir mão da nacionalidade brasileira para se naturalizarem paraguaios.
"No momento em que eu me naturalizar paraguaio, vou deixar de ser brasileiro. São tratados que os países têm. Nós temos um tratado com a Espanha. Cidadão paraguaio pode ser espanhol. E espanhol pode ser paraguaio. Com o Brasil não temos".
A assessoria de imprensa do Itamaraty confirmou que não há acordo bilateral entre Brasil e Paraguai em relação às naturalizações. Indagada sobre o tema, a defesa de Ronaldinho não respondeu até a publicação da reportagem.
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