Pedrinho destruía no futsal do Nordeste aos 12 anos: 'Todo mundo conhecia'
Pedro Victor Delmino da Silva sempre vencia rabiscando com a perna esquerda na quadra de futsal. Apesar de tímido, nunca se acanhou ao jogar bola. Dez anos atrás, já fazia fama, embora fosse conhecido, na verdade, pelo segundo nome por carinho: Victinho. O diminutivo sempre o acompanhou, devido ao biótipo franzino. Só veio se tornar Pedrinho no futebol de campo, bem depois, no Vitória (BA).
Muito antes de ser cotado por quantias astronômicas, Victinho, ou melhor, Pedrinho já aterrorizava e fazia fama no futsal nordestino, a ponto de ganhar uma bolsa de estudos do colégio particular Santíssima, pelo qual, acreditem, fez história. O time de Maceió foi o único alagoano a conquistar os Jogos Escolares Brasileiros (Jebs), além de três estaduais consecutivos.
"O Victinho chegou com 10 anos para jogar futsal no colégio Santíssima comigo. Imediatamente detectamos talento fora do comum e começamos um trabalho, um trabalho sem castrar o atleta, não tirando o que ele tinha de melhor: drible, habilidade, improviso", conta o professor Romildo Calheiros. "Começamos a ganhar títulos e mais títulos no futsal, reconhecimento. Em Campina Grande, Aracaju, Salvador, todo mundo conhecia ele."
Marcar aquele tal de Victinho era a missão realmente tortuosa, conta Riury Alves, que jogava pelo colégio rival. Por meio do futsal, se tornaram amigos e até treinaram juntos. "Ele chegou a jogar no Sub-15, com uma tornozeleira laranja, baixinho, franzino, e já destruía os caras estando com 12 anos e logo chamou atenção", disse.
Na estrada
Atual camisa 10 do Corinthians (talvez até fim do Paulistão), um dos destaques da seleção olímpica, o jogador foi vendido ao Benfica por 20 milhões de euros —cerca de R$ 93 milhões na época do início da negociação e R$ 105 milhões na cotação atual. O clube brasileiro fica com 70% da negociação e o empresário Will Dantas, 30%. Foi em Maceió, capital de Alagoas, que a história de Pedrinho começou.
Talvez Romildo Calheiros não pudesse imaginar que aquele garoto fosse valer tanto. Mas também soube, bem cedo, que Maceió e o estado de Alagoas seriam pequenos para seu talento. Se fosse para crescer no futebol, deveria mudar para o campo, em um grande clube. Romildo pegou o telefone e ligou para David Manteiga, que jogava no Vitória-BA [hoje está no Nacional-AM, emprestado pelo Brasiliense].
Combinados os detalhes, os dois foram à casa da família e conversaram com os pais do jogador, que liberaram. Manteiga, então, negociou com o Vitória.
"O Romildo me falou que tinha um jogador interessante, bom jogador, e fui dar uma olhada. Liguei para o João Paulo Sampaio [atual coordenador geral da base do Palmeiras] e ele me disse para levá-lo. Quando chegamos lá, todos perceberam que o Pedrinho era diferenciado. No primeiro treino, já passou no teste".
Passados três meses, Pedrinho não ficou no Vitória e foi para São Paulo, como uma aposta, por intermédio do empresário Will Dantas, que também agenciava Manteiga. Fez teste no São Paulo, mas não passou; no Corinthians, a história foi diferente e ficou.
De acordo com Riury Alves, dois gols garantiram que Pedrinho fosse logo parte do time. O primeiro, aos cinco minutos do jogo, foi um chute do meio de campo, meio que com raiva. E o segundo saiu numa jogada normal. Eles mantêm contato até hoje e sempre se encontram, principalmente quando Pedrinho vem a Alagoas.
"Nós, que somos amigos do Victinho, somos Pedrinho FC. Para ter ideia, sou torcedor doente do Flamengo e, na Copa do Brasil de 2018, quando saiu o gol do Pedrinho, eu comemorei muito. Tinha pedido para ele ir devagar, mas ele me disse que faria um gol. Entrou e fez. Me fez comemorar contra meu próprio time", brinca Riury.
Contra o ex-time
Torcedor do CSA, Pedrinho só jogou uma vez uma partida oficial no Estádio Rei Pelé, em Maceió. Foi logo contra seu time do coração.
No jogo, ele marcou o primeiro e único gol do Corinthians na partida e não comemorou; mesmo assim, foi alçado pelos companheiros de equipe na partida entre Corinthians e CSA válida pela 26ª rodada do Brasileirão 2019.
Segundo o borderô da partida, divulgado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), 14.096 pessoas quebraram o recorde de público pagante do futebol alagoano naquele ano. Até então, a primeira colocação havia sido contra rival corintiano, o Palmeiras, na segunda rodada da Série A, com 12.930 torcedores contribuintes.
Naquele dia, o Timão perdeu para o Azulão por 2 a 1. Além de Pedrinho, os gols foram marcados por Apodi e Ricardo Bueno para o time da casa. Apesar de começar como torcedor e jogador carrasco, Pedrinho foi aplaudido pela torcida no fim da partida e fez o símbolo do CSA ao descer para o vestiário, mostrando que não esqueceu sua origem.
Depois da partida, só voltou a Alagoas nas férias. Participou de uma pelada festiva, com Ronaldinho Gaúcho, Carlinhos Maia e Marta, também no Rei Pelé. Jogadas de efeito, muita brincadeira e gols fizeram parte do espetáculo. Cartolouco, repórter da Globo, também marcou presença, Carlinhos Maia teve dia de astro do futebol e Ronaldinho marcou de pênalti. Mais de 15 mil pessoas assistiram ao Jogo da Alegria.
Em 2020, Pedrinho assumiu a camisa 10 do Corinthians, mas disputou menos de dez partidas até agora. O jogador passou de herói para vilão em alguns minutos. Tido como a principal novidade na equipe, estreando com a camisa 10 alvinegra contra o Guarani, se mostrou nervoso em campo, e levou o vermelho na etapa inicial. O Corinthians, que vencia por 1 a 0 até a expulsão, conseguiu o segundo gol, mas levou um e terminou eliminado da Libertadores.
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