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Goleiro Bruno está no RJ e já tem acerto com clube, diz novo empresário

Jogador de 35 anos vive em Arraial do Cabo e deve jogar em divisões inferiores do Carioca neste ano - Reprodução/Record
Jogador de 35 anos vive em Arraial do Cabo e deve jogar em divisões inferiores do Carioca neste ano Imagem: Reprodução/Record

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

01/04/2020 17h18

Depois de quatro tentativas sem sucesso de voltar a jogar profissionalmente, o goleiro Bruno já tem destino certo para o segundo semestre de 2020. Quem conta é Jaime Marcelo Conceição, novo empresário do jogador de 35 anos condenado a mais de 20 de prisão pelo sequestro e assassinato da ex-namorada, a modelo Eliza Samúdio, e sequestro e cárcere privado do filho do casal, Bruninho. Ele cumpre a pena em regime semiaberto domiciliar.

Nos últimos dias, Bruno passou a viver uma novidade em sua rotina: ele foi autorizado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais a seguir o cumprimento da pena no Rio de Janeiro. Assim, fixou residência em Arraial do Cabo, cidade onde vive a família da a companheira, Ingrid Calheiros. A ideia é iniciar ainda nesta semana treinos com bola para readquirir forma física antes da volta.

"Ainda não é momento de dizer o nome do novo time do Bruno. Eu conversei com muitos clubes, mas tinha dirigente que após dez minutos de conversa já pedia dados dele para lançar no BID [Boletim Diário da CBF], muitos paraquedistas de olho em marketing. Sabemos que existe toda uma comoção e sempre vai existir, mas eu trabalho com atletas e pessoas, não posso ficar carregando como empresa erros do passado das pessoas. A partir de hoje vamos focar nesse regresso", conta, ao UOL Esporte, o novo empresário.

Jaime Marcelo Conceição assumiu a representação de Bruno no começo de março e pretendia apresentá-lo ao novo clube nesta semana. A decisão precisou ser revista por causa da pausa dos campeonatos devido à quarentena recomendada no combate ao novo coronavírus. Assim, o estafe aguardará deliberações da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), onde o goleiro atuará em divisões inferiores.

Bruno no Poços de Caldas - Ricardo Benichio/Folhapress - Ricardo Benichio/Folhapress
Último jogo profissional de Bruno, ex-Corinthians, Atlético-MG e Flamengo, foi pelo Boa Esporte, em abril de 2017
Imagem: Ricardo Benichio/Folhapress

"Alguns clubes procuraram o Bruno no passado para fazer o típico marketing negativo: nunca tiveram intenção de entender qual seria o impacto de ter o Bruno no elenco, quiseram fazer a contratação para aparecer um pouco na mídia e logo dispensar. Quem o contrata precisa entender: junto com um grande atleta vem o peso de um passado, de uma repercussão pública. A pergunta é: eu consigo trabalhar e separar o profissional de tudo que envolve a pessoa? Entender que não somos juízes, não estamos fazendo nada fora da legalidade jurídica", segue o novo empresário, que afirma entender o peso de representar o goleiro.

"Quando eu anunciei que seria empresário do Bruno recebi muitas críticas. Sempre usei argumentos. Algumas pessoas de bom senso entenderam e hoje apoiam. Outras têm uma opinião preestabelecida e não vão mudar. Trata-se de ressocialização, colocá-lo para trabalhar."

Muitos dizem que ele não deveria jogar futebol, mas essas mesmas pessoas não pensam que ele tem família e precisa prover sustento. Então, nada melhor do que fazer algo ao qual ele é capacitado. Todos os nossos passos são autorizados pela Justiça."

O plano de Jaime Marcelo Conceição é colocar Bruno em atividade em divisões inferiores do futebol carioca neste ano e "quando a situação penal dele permitir", levá-lo para fora do Brasil.

O novo empresário do jogador de 35 anos é CEO da empresa "J Winner Sports", que gerencia carreiras de jogadores e treinadores de times modestos de futebol, além de profissionais do tae-kwon-do e jiu-jítsu. O próprio Jaime é ex-lutador profissional de MMA e tem histórico polêmico no esporte: em 2012, ele foi acusado de fraude por mentir sobre seu retrospecto como lutador. Ele dizia ter 134 vitórias em 135 lutas, mas outros lutadores e entidades de artes marciais questionavam o número: "Estou acostumado com repercussões negativas."

Bruno, o novo cliente do ex-lutador, deixou a cadeia em julho do ano passado, após ganhar direito de cumprir pena em regime semiaberto. A Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro ficará responsável pelo restante da pena. Nos últimos meses, ele foi apontado como possível reforço de diversos clubes, como Operário-MT, Barbalha-CE, São Paulo-AP e Fluminense de Feira-BA, mas todos desistiram após repercussão negativa do interesse. Em 2019 ele chegou a assinar com o Poços de Caldas, mas rescindiu após dois meses por motivos financeiros.

Na época do interesse do time baiano, foi a fala de uma apresentadora de TV que causou a desistência do acordo por parte da equipe. Jessica Senra, da TV Bahia, afiliada da Rede Globo, viralizou na época: "Legalmente, não há nenhum impedimento para que ele exerça qualquer profissão para qual esteja habilitado. Mas, no caso do feminicida Bruno e a profissão de atleta, eu quero questionar você que está aí do outro lado: isso é moral?"

Desejamos e precisamos que pessoas que cometem crimes tenham a possibilidade de refazerem suas vidas. Mas diante de um crime tão bárbaro, tão cruel, poderíamos tolerar que o feminicida Bruno voltasse à posição de ídolo? Que mensagem mandaríamos à sociedade?".

O regime semiaberto funciona sob condições: se recolher todos os dias a partir de 20h e só sair de casa depois de 6h, apresentar-se em juízo até o dia 10 de cada mês para prestar contas de suas atividades, sujeitar-se a fiscalização e não frequentar bares e boates.