Árbitro agora é enfermeiro no combate à Covid-19: "Anonimato durou pouco"
Assim que a bola parou de rolar nos gramados brasileiros por causa da pandemia do coronavírus, o árbitro Igor Benevenuto precisou tomar uma decisão sobre seu futuro. Formado em enfermagem, ele decidiu largar o emprego de assessor parlamentar em Belo Horizonte (MG) e distribuir currículos para voltar à área e ajudar no combate à epidemia. Em 15 dias, foi chamado para trabalhar em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Sete Lagoas, a 72 km da capital.
No hospital, ele achou que conseguiria deixar a vida de árbitro para o lado de fora e passar despercebido. Ledo engano.
"Tentei esconder a minha identidade do futebol, mas durou uma semana. A cidade toda já está sabendo. Teve uma reportagem de um veículo mineiro... Aí espalhou no Instagram e o Brasil todo já está sabendo", brinca ele. "Alguns pacientes já me reconheceram, o pessoal da UPA já sabe. Agora, todo mundo quer saber quem é, tirar foto, saber da minha vida de arbitragem".
Benevenuto foi contratado de maneira temporária pelo período que durar a pandemia do coronavírus. Ainda assim, o árbitro pretende ter a enfermagem de vez como seu segundo trabalho.
"Eu pretendo continuar na unidade ou em alguma instituição aqui da cidade. Vou ver como vou conseguir adaptar isso quando voltar o calendário do futebol. Mas quero voltar a atuar na área da enfermagem. Foi o que eu estudei, o que eu busquei conhecimento, então, quero colocar em prática."
O árbitro foi contratado no último dia 30 de março. Desde então, esteve em quatro plantões noturnos, sempre das 19h às 7h. Como ainda não há nenhum caso de coronavírus confirmado na cidade de Sete Lagoas, a equipe médica ainda se adapta para quando a pandemia atingir o pico de infectados.
"Por enquanto, está tranquilo. A nossa unidade já tem alguns leitos preparados para casos graves, o trabalho de prevenção da Prefeitura tem sido bom. Acho que quando chegar o pico máximo no Brasil, pode ter algum problema de falta de insumos e leitos. Mas vamos esperar para ver, tomara que não aconteça."
Nervosismo nos primeiros dias
Os seis anos longe da área da saúde deixaram Igor Benevenuto tenso nos primeiros dias. Não que ele tivesse medo de não dar conta, mas tanto tempo longe faz com que algumas coisas sejam esquecidas.
"Nos primeiros dias, eu dei uma travada, foi um pouco assustador. Você perde um pouco a habilidade, esquece algumas coisas. Mas as situações foram surgindo, os enfermeiros foram me auxiliando e eu fui relembrando. Eu anoto tudo, estudo em campo, faço alguns cursos. Assim, as coisas vão voltando naturalmente. Nesses dois últimos plantões, comecei a ficar sozinho, tranquilo".
Benevenuto sabe que trabalhar na linha de frente da pandemia o deixará exposto ao risco de contrair o vírus, mas não se assusta. "Eu penso assim: se eu ficasse dentro de casa, podia ser que pegasse também. Então, vou ajudar. Fiz um juramento quando me formei de ajudar a população, acho que é minha obrigação ajudar".
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