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Investidores brasileiros se sentem lesados por fim de torneios em Portugal

Alverca disputa a terceira divisão do futebol português - Divulgação/Alverca
Alverca disputa a terceira divisão do futebol português Imagem: Divulgação/Alverca

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

09/04/2020 04h00

O Brasil abriu as portas para os portugueses no futebol, após o sucesso de Jorge Jesus no Flamengo. Porém, brasileiros que investem no esporte em Portugal se queixam de viver outro cenário. Os gestores de Alverca, Louletano e União Almeirim se sentem prejudicados depois de a FPF (Federação Portuguesa de Futebol) decretar o cancelamento de torneios locais por causa da pandemia do coronavírus. As duas primeiras divisões serão encerradas após a paralisação do calendário.

Os três clubes citados disputam competições mais modestas do país — equivalentes à terceira e à quarta divisões — e tinham chances de acesso nesta temporada. Com o cancelamento dos torneios, a FPF ainda não definiu como serão definidas as questões envolvendo promoção e rebaixamento entre as divisões.

Gestor do Alverca, que disputa a terceira divisão de Portugal, Arthur Moraes se indignou com a situação. O ex-goleiro se irrita com a imbróglio e revela a possibilidade de debandada dos investidores do país.

"A sequência desportiva nos tira o direito de encerrar o campeonato de maneira justa. Não é só o Alverca, mas todos os clubes. A questão desportiva não será privilegiada neste caso. Vai ser uma decisão administrativa. Hoje, nessa decisão, nós nos sentimos prejudicados com a anulação do campeonato. A primeira e a segunda liga se mantêm, porque elas têm gestão profissional. As associações tomam conta dos campeonatos distritais, que são os amadores. Coloca em xeque e prejudica quem está no início de um projeto. Estamos no Alverca há um ano e meio. O Alverca é exemplo de gestão, parceria com clubes, temos reconhecimento profissional hoje", disse ao UOL Esporte.

"O que o investidor procura na Europa? Segurança de uma competição europeia, da Uefa. Diante de uma decisão prematura e irresponsável, anulam o torneio sem nem saber a opinião do clube", acrescentou.

A reportagem procurou também o ex-jogador Palhinha, que administra o União Almeirim, da quarta divisão portuguesa. A equipe tinha chances de conseguir o acesso para a um torneio melhor, mas não sabe como ficará definida a situação no país. Embora também se sinta prejudicado, o antigo atleta de Cruzeiro, São Paulo e América-MG preferiu não se manifestar de forma oficial.

O mesmo acontece com Paulo Tomasete, diretor do Louletano, que disputa a terceira divisão do país. O gestor não quis se manifestar de forma pública sobre o assunto envolvendo o clube. A equipe dirigida pelo brasileiro conta com investimentos de Hugo Garcia, que foi agente do ex-zagueiro Paulo André.

Em que pese o silêncio de dois dos prejudicados pelas decisões da Federação Portuguesa, Arthur Moraes seguiu se manifestando sobre o caso. Ele estima que a situação interfira de forma indireta em 350 trabalhadores do país e aponta a paralisação de um investimento na construção de um centro desportivo do Alverca.

"Não é só o Alverca, mas todos os clubes pagam dez meses, 11 meses de folha salarial. O Alverca tem, nesse momento, 80 contratos profissionais. O Alverca mobiliza cerca de 85 trabalhadores diretamente e mais 350 indiretamente. O Alverca terá que fechar as portas, a partir de amanhã [hoje], por prazo indeterminado. Deveremos ficar fora por quatro, cinco meses, até o meio de julho, início de agosto. Então, por quatro, cinco meses, temos mais ou menos 17 apartamentos alugados para profissionais do Alverca. Temos uma contribuição para o estado muito importante, temos a formação do clube, que investimos. Teremos 350 pessoas sem trabalho de forma indireta. São 350 pessoas afetadas pela questão do campeonato", comentou.

"Não dá para fazer uma estimativa, mas é um rombo financeiro isso. A gente não sabe se o investidor vai querer continuar ou não com o clube. Nós tínhamos investimentos separados para a construção de um centro desportivo em Alverca caso a gente fosse para a segunda divisão. Mas fica, a partir de hoje, suspenso temporariamente", concluiu.

Embora tenha definido que as duas primeiras divisões se encerrarão normalmente, a Federação Portuguesa ainda não definiu datas para a sequência das ligas.