Em seu primeiro título, Tite parou Ronaldinho Gaúcho e "Flamengo da época"
O primeiro título de Tite, atual treinador da seleção brasileira, completa 20 anos nesta temporada. Em 2000, o Caxias desbancou os gigantes do estado e venceu o Grêmio na final do Campeonato Gaúcho, com direito a pênalti perdido por Ronaldinho. O tricolor, aliás, chamava atenção por ter investimento pesado na então milionária parceria com a ISL, fundo de investimento dos Estados Unidos que rompeu vínculo meses depois.
"Aquele título foi um divisor de águas na carreira de muita gente. O Grêmio era o Flamengo da época", relembra Titi, ex-volante do Caxias e atualmente empresário.
A referência é pelo investimento. O Grêmio havia contratado os argentinos Astrada e Amato, repatriou Paulo Nunes e ainda buscou Zinho, Ânderson Lima e os zagueiros Nenê e Marinho. Ao longo daquele ano, a ISL acenou com até 50 milhões para investimentos.
O Caxias de Tite estava do lado oposto da balança. O time entrou em campo nas finais do estadual com três meses de salário atrasado, mas convicto de que poderia vencer.
"A gente sempre falava no vestiário. O Grêmio tinha dinheiro da ISL, e ganhar Gauchão ia ser mais um. O Grêmio era o Flamengo da atualidade, montando um time muito forte, e o Gauchão não faria diferença. Mas para nós, era a chance da vida de todo mundo", enfatiza Titi.
A campanha do Caxias começou com três empates, mas o time conseguiu embalar ainda na primeira fase e terminou o grupo 1, que tinha apenas clubes do interior, atrás somente do Esportivo. No primeiro turno, já com jogos contra Internacional e Grêmio, o desempenho melhorou. O time de Tite venceu as partidas contra a dupla de gigantes do estado e perdeu somente uma das sete partidas realizadas. Campeão da etapa, garantiu vaga na grande decisão.
"O Tite treinou bastante a parte tática. Era um time que manteve base, mas o Tite mexeu muito no nosso emocional. Todo jogo ele tirava um coelho da cartola para motivar o grupo", diz Titi.
No segundo turno, o Grêmio foi avassalador. Não perdeu nenhum jogo, ganhou a vaga na final e foi para a revanche contra o Caxias. Então veio a sacada que Tite repetiu em vários clubes.
"Na manhã que antecedeu à decisão, todo mundo acordou com bilhete debaixo da porta do quarto. Era dois jogadores em cada quarto e um bilhete para cada um. Ali, mensagens da família. No meu envelope tinha uma foto da minha filha, minha esposa à época. Minha filha escreveu que tinha orgulho de mim. Falou que eu já era campeão. Ali eu queria sair direto para o jogo, sem café da manhã e nada. Isso o Tite criou", contou Titi.
"No café da manhã, tinha gente chorando, uns se abraçando e outros com sangue no olho, como a gente diz. Ali a gente se uniu mais e viu que dava, que dava muito para ser campeão", completou.
O time gremista era comandado por Antônio Lopes, e Ronaldinho Gaúcho, mesmo jovem, era a pedra angular da equipe.
"A gente sempre falou que o Grêmio conhecia nosso time, jeito de jogar. E eles perderam o primeiro turno, então era preciso surpreender de novo. Eu lembro muito bem que a gente conversou. Eu jogava com o Ivair e falei com ele na concentração sobre a minha função. Falei para ele: 'Temos um jeito de ganhar o campeonato. Temos 50% de chance e precisamos parar o Ronaldinho. Ele tá voando'. A gente ficou pensando, pensando, e chegamos à conclusão que não podíamos dar o bote nele. Tínhamos que esperar. O Ronaldo nós marcamos por setor, eu no setor direito e o Ivair na esquerda. Avisei que não ia dar bote e ia retardar a passada esperando o Ivair chegar e fazer o desarme. Aconteceu exatamente isso. O Ronaldo não viu a cor da bola, a gente parou o craque do Grêmio, e nosso time vivia grande momento. A gente nunca imaginou que conseguiria fazer 3 a 0. O placar deixou o Grêmio muito acuado para o segundo jogo", esmiúça Titi.
A segunda partida da final foi adiada. As chuvas fortes em Porto Alegre obrigaram a partida migrar de domingo para quarta-feira. A festa de Tite e do Caxias aconteceu mesmo assim.
"Naquele ano jogamos quatro vezes contra o Grêmio e vencemos três", resume Titi.
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