O dia em que argentino levou bronca de Givanildo por contratar o Piá errado
Imagine a cena: o novo reforço chega, é recebido com festa e vai ao clube assinar contrato. Depois, segue para o treino e gera surpresa ao entrar no gramado. Isso porque não era aquele desejado pelo treinador, que fica irritado cobra o intermediário do negócio. Parece ficção, mas Sérgio Baisi confirma que aconteceu. O empresário argentino foi responsável por contratar "o Piá errado" para o Santa Cruz, na década de 1990.
"O Givanildo me disse 'quero o Piá que está jogando em São Paulo'. Eu fui lá e trouxe o Piá Carioca, jogava de meia e lateral. Estava voando! Mas ele queria o Piá que depois foi da Ponte", relembra o agente, em meio a gargalhadas.
A vida de Baisi é assim: cheia de alegria. O argentino radicado no Brasil virou empresário na virada dos anos 1980 e, com experiência em outro mercado, conseguiu crescer na função.
"Sou formado em turismo e exerci a função. Me formei em turismo e, quando parei de jogar, trabalhei com turistas argentinos aqui no Brasil. Eu estava em Recife, Salvador. Agente de turismo fica com sete, 10% de tudo. Eu fazia City tour por Recife, por todo Pernambuco. Eu ganhei notoriedade, e as empresas pediam para eu ir aos eventos ser o guia. E daí comecei a circular em meio aos jogadores", conta.
"Virei empresário por acaso. Eu andava de paletó de linho, era muito diferente de tudo que tinha na época. Eu exagerava e ia assim até para os jogos", relembra.
O Piá errado
A história do reforço errado não é falsa. Sérgio Baisi fez diversos negócios a pedido de treinadores e clubes, com as famosas autorizações por escrito. A carta servia para validar a investida a jogadores de outros times.
"Essa história me deixou famoso, sério! A imprensa filmou a chegada do Piá, ele desceu no aeroporto, e eu ao lado dele. Tudo certo, a gente assinou o contrato, ele botou camisa e tirou foto. Fomos ao campo, e aí o Givanildo viu os fotógrafos, viu a gente e veio vindo. Ele veio correndo até aqui: 'O que tu fez, gringo?'. 'Ué, me pediu o Piá! Joga na lateral esquerda, meia. Estava no Flamengo, jogou na Europa'. 'Ah, não gringo. Esse é o Piá errado! Eu queria o Piá volante!'", descreve o empresário.
Piá acabou não jogando pelo Santa Cruz. A notícia perdeu força entre a tarde e a noite, horário de fechamento dos jornais. Sem as redes sociais, o fato não foi divulgado na hora e acabou sendo superado por outras notícias.
"Assinamos o contrato, mas acabou sendo cancelando. Naquele dia, o contrato se levava para a federação só no dia seguinte. As fotos nem saíram na imprensa", diz Baisi.
Gringolândia no Sul
Em Porto Alegre, o argentino ajudou Grêmio e Internacional em contratações de vários estrangeiros no início dos anos 2000.
"O Mano Menezes era técnico do Grêmio e me ligou, falou que se o Inter não fosse ficar com o [Martin] Hidalgo eu podia levar ele direto para o Olímpico. E levei", revela, ao falar sobre o lateral peruano que jogou nos grandes gaúchos entre 2006 e 2007.
A lista ainda inclui Fabián Vargas, volante colombiano ex-Inter, e Germán Herrera, ex-Grêmio e Corinthians.
"Eu sei de futebol, tenho feeling. É algo de pele. Não é estatística. Eu vejo o jogador e sei se é enganador ou se joga bola mesmo", banca Sérgio Baisi.
A lista de argentinos no Beira-Rio poderia ter sido maior nas palavras do empresário.
"Eu indiquei Conca ao Inter. Antes de ele vir para o Vasco. Mesmo quando ele estava no Vasco, eu fui ao Rio e falei com o Conca para ele jogar no Inter. Não deu negócio", lamenta.
Dia do elevador
Cheio de histórias, Baisi lembra com saudades do dia em que deu plantão no hotel onde estava o Boca Juniors e passou horas e horas dentro do elevador. Subindo e descendo entre todos os andares, como se não tivesse destino. Havia um objetivo: encontrar Carlos Bianchi, treinador do time.
O técnico era procurado pelo agente para ser indagado sobre Iarley, ex-Paysandu e então jogador do clube de Buenos Aires. "Eu fiquei horas apertando para subir e depois para descer. Cruzei com todos os jogadores do Boca aquele dia e não cruzei com o Bianchi", ri Baisi.
Contar os causos da carreira como empresário não é um problema para o empresário. Pelo contrário. "A gente precisa rir um pouco e ajudar as pessoas a ter alegria nesses dias duros de isolamento. Conta essas e depois me liga de novo, tenho mais um monte", brinca.
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