Futebol terá portão fechado e sacrifícios no retorno, diz presidente da FPF
O presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, afirmou em entrevista ao UOL Esporte na manhã de hoje (16) que o Campeonato Paulista será concluído dentro de campo, mas admitiu que o futebol e todo o seu entorno serão diferentes quando as suas atividades no país forem retomadas. O dirigente afirmou que a pandemia do coronavírus é um golpe duro no esporte brasileiro, e que seu impacto financeiro precisará ser superado com diálogo e disposição em ceder de todos os envolvidos. Sacrifícios como portões fechados até o final do ano e perda de receitas de patrocinadores devem causar uma redução do volume de recursos circulando no esporte nos próximos anos.
A paralisação dos campeonatos já afetou a própria Federação, que teve pagamentos de patrocinadores suspensos. A situação atinge também praticamente todos os clubes. "Tivemos a suspensão dos contratos dos patrocinadores. Não tivemos futebol, não tem patrocinador. Estamos com uma receita muito diminuída. É raro o parceiro que continua pagando normalmente. Mas nós entendemos. os parceiros estão vivendo a mesma coisa que o futebol está vivendo. Por isso é importante que tudo volte para que tudo volte a girar novamente".
A volta às atividades, entretanto, passa por uma série de precauções: desenvolvimento de um protocolo médico, liberação de autoridades e o estabelecimento de um calendário que permita a entrega do produto futebol em 2020 afetando o mínimo possível a próxima temporada. Para isso, Carneiro Bastos afirma que todos os envolvidos precisarão de diálogo, bom senso e capacidade de ceder.
"Tenho falado com os clubes de todas as divisões sempre. Hoje temos reunião com clubes da Série A2, amanhã temos reunião com a Série A3. Temos falado com todos os clubes. É uma análise simplista dizer que o clube menor tem uma dificuldade maior. A dificuldade está com todo mundo e nós vamos sair diferentes dessa pandemia. Vamos viver em um mundo diferente. Todos vamos ter que dar as mãos, abrir mão de certezas, vamos ter que estruturar um novo tipo de vida: vai ter menos dinheiro não só para o futebol, como para todos os segmentos. Vamos ter que criar juntos soluções criativas para superarmos isso", afirmou.
"Temos que nos preparar para a volta, porque vai ser um futebol diferente, não dentro de campo, mas na hora de cuidar da saúde de todo mundo: jogadores, torcedores, comissão técnica, maqueiro", O dirigente explicou que houve uma reunião ontem (15) com os dirigentes dos clubes participantes do Paulistão, e ficou decidido o término do campeonato com bola rolando, ainda que de portões fechados. "Os clubes decidiram por unanimidade que querem terminar dentro de campo", apontou.
A retomada do futebol em São Paulo, porém, está condicionada ao posicionamento das autoridades políticas e de saúde, em nível municipal, estadual e nacional. "É impossível se falar em data hoje. Quem pode determinar, autorizar o retorno do futebol são as autoridades de saúde e governos. Temos que aguardar essa manifestação, mas não podemos ficar de braços cruzados", disse.
Ao mesmo tempo, Carneiro Bastos adiantou que a FPF já prepara um novo protocolo de saúde. "Vai ter que ter uma nova forma para se chegar, sair do estádio, novas normas de higiene. Assim que os clubes de São Paulo querem terminar suas competições. Até o final de abril, o primeiro passo é criar um protocolo de saúde. Em contato com os médicos dos clubes, o médico da federação está participando desse processo. O presidente Rogério Caboclo [da CBF] liberou o protocolo nacional", explicou.
Além dos portões fechados, clubes também debateram a possibilidade de realização do Paulistão em uma única cidade, mas o plano, por enquanto, não é seguir esse caminho. "A princípio, concentrar é tudo que o vírus "quer" que aconteça. A ideia é que cada um faça seu protocolo no seu local. Como você disse São Paulo é o epicentro. O Novorizontino não tem casos. Novorizonte vai saber como cuidar dos seus atletas lá. Os times de São Paulo vão saber como cuidar de suas equipes nos seus CTs. A parte técnica vai ter que se sujeitar a obedecer os critérios médicos, os critérios de saúde para que se aconteça uma partida de futebol".
O Paulistão foi paralisado após a décima rodada, no dia 16 de março, em razão da pandemia de coronavírus. No cronograma original ainda seriam disputadas mais duas rodadas na fase de grupos, quartas de final, semifinal e final.
Calendário nacional na íntegra?
Na reunião entre a cúpula da FPF e seus clubes, o consenso é de que os integrantes das Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro defendem que seus regulamentos sejam mantidos. Nesse caso, o grande impasse seria conciliar as 38 datas previstas para as duas primeiras divisões, ao mesmo tempo que pretendem concluir os estaduais, evitando alterações na próxima temporada, já vendida a patrocinadores.
"Há uma estreita relação do futebol de São Paulo com a CBF. A prioridade é dos clubes de São Paulo é fazer os campeonatos brasileiros da Série A com 38 rodadas, da Série B, Série C, Série D. Com bom senso e trabalho, fazer da melhor forma possível que todas as competições tenham sucesso. Vai ter sacrifício. Vamos ter que abrir mão? Sim, óbvio. Mas todos os envolvidos vão terminar os estaduais e entregar o Brasileiro como planejado", afirmou.
Quanto mais longo for o período de paralisação, mais desafiadora será a construção de um calendário que acomode todas essas competições —ainda mais levando em consideração os torneios internacionais: Libertadores e Sul-Americana. Nesse sentido, ainda que a preferência dos clubes é a manutenção de uma tabela integral para cada competição —quanto mais jogos, mais receita—, os dirigentes sabem que também precisam pensar em planos alternativos.
"Acho que é um momento de união. Não é [o Campeonato] Brasileiro invadir o Paulista ou o Paulista invadir o Brasileiro, Copa do Brasil, Sul-Americana. Todo mundo vai ter que ceder. Se for necessário todos vão ter que ceder. Vamos ter que montar uma fórmula para entregar nosso produto. Vamos ter que pensar para impactar o menos possível 2021, mas se for impactar nós vamos ter que pensar juntos para que o futebol volte a andar com bom senso, equilíbrio e praticando justiça", afirmou Carneiro Bastos.
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