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Ex-atletas criaram grife que virou febre até entre boleiros de Barça e Real

Diego Navarro (à esquerda) e Felipe Sanchez (à direita) são sócios da Buh, grife que é febre entre os boleiros do mundo - Arquivo Pessoal
Diego Navarro (à esquerda) e Felipe Sanchez (à direita) são sócios da Buh, grife que é febre entre os boleiros do mundo Imagem: Arquivo Pessoal

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

16/04/2020 04h00

Diego Navarro (33) e Felipe Sanchez (33) abdicaram daquele que é o sonho de muitos jovens do Brasil. Ex-jogadores de futebol, deixaram o esporte para seguir trabalhando ao lado de boleiros, mas de uma forma bem diferente.

Em agosto de 2015, a dupla criou a Buh, grife especializada no que eles batizaram como fashion soccer — maneira de abordar o estilo de vida dos atletas fora das quatro linhas. Menos de cinco anos depois, a marca produz cerca de 200 mil peças por ano e se tornou febre entre os boleiros, fazendo sucesso até nos vestiários dos espanhóis Atlético de Madri, Barcelona e Real Madrid.

"A gente foi a Barcelona encontrar com o Malcom. E aí ele falou para a gente ir ao treino, porque o Suárez tinha perguntado da roupa dele. Nós ficamos: 'como assim, cara?'. A gente sempre viaja com alguma coisa. Entregamos roupa para o Suárez, para o Vidal. E os caras parabenizando pela roupa", conta Diego Navarro, sócio-proprietário da marca, ao UOL Esporte.

Diego Costa (à direita) ao lado de Felipe Sanchez e Diego Navarro, sócios da Buh - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Diego Costa (à direita) ao lado de Felipe Sanchez e Diego Navarro, sócios da Buh
Imagem: Arquivo Pessoal

"Um cara que conheci e achei incrível é o Diego Costa. É um ser humano incrível. Ele nos recebeu lá em Madri, ele foi surreal. Ele já usava por meio de pessoas em comum. Ele pediu, começou a usar a roupa e, uma vez, a gente estava em Madri. Ele foi e nos levou ao centro de treinamentos do Atlético de Madri, nos levou à casa dele, fez churrasco para a gente. A recepção dele conosco foi incrível, uma experiência muito bacana", acrescenta Felipe Sanchez, outro sócio da grife.

O sucesso aguça a imaginação de quem pensa que Diego e Felipe sempre viveram a glamorosa vida dos boleiros. Pelo contrário. A dupla iniciou a carreira nas divisões de base do Corinthians, em meados dos anos 1990. Ambos tiveram chances de se profissionalizar, mas o que parecia promissor encerrou de forma precoce.

Meia-atacante à época, Diego Navarro defendeu o São Paulo sob a batuta de Cuca no início da década passada. Depois de rodar por clubes de menor expressão, preferiu parar aos 24 anos. Felipe Sanchez, ex-goleiro, foi mais persistente que o amigo dentro das quatro linhas. O empresário atuou até os 29 anos, quando decidiu pendurar luvas e chuteiras para empreendedor.

No primeiro ano, produziram 200 camisetas, 50 bermudas e mais 50 bonés. A intenção inicial era comercializar os produtos com amigos ligados ao futebol. Logo no início, conseguiram o apoio de ex-companheiros no esporte. O lateral esquerdo Fabrício, que jogou por Cruzeiro e Inter, o meio-campista Chiquinho e o atacante Ricardo Oliveira foram os mais solidários nos primeiros passos.

"Joguei com o Fabrício no São Paulo. Ele nos ajudou muito no início. As pessoas que deram essa guinada mesmo foram Fabrício, Chiquinho... Por meio do Chiquinho, chegamos ao Ricardo Oliveira, um cara que vestiu a camisa e virou nosso amigo até hoje. Ele usava a roupa, e as pessoas falavam que ele era o dono da marca. A gente fala que ele é o nosso embaixador", disse Diego Navarro.

"A primeira pessoa que a gente levou roupa foi para o Fabrício, pela amizade que a gente tinha. Expliquei para ele a situação da marca para ele. Ele me chamou para um hotel em São Paulo, deixei visita em casa e fui. A gente tinha duas peças de roupa para dá. Tanto que o Fabrício convidou para ir ao hall do hotel o Willians e o Marinho. Eles desceram, e o Willians teve uma atitude incrível. Ele tirou a camiseta, bateu uma foto com a nossa camiseta, publicou e falou: 'quando vocês estiverem bem, vocês me dão'. Foi muito legal", acrescentou.

A aceitação dos boleiros e a preocupação da dupla em manter a qualidade nas roupas fizeram o produto se espalhar pelo mercado brasileiro. Weverton, Gabriel Jesus, Jô, Zé Roberto, Everton Ribeiro, Bruno Henrique e até Adriano Imperador já foram clicados com a grife. Mas um caso fez a marca ganhar notoriedade por todo o mundo.

Aparição no exterior e aporte de boleiros

Casemiro (centro), investidor da Buh, ao lado dos sócios Diego Navarro (à esq.) e Felipe Sanchez (à dir.) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Casemiro (centro), investidor da Buh, ao lado dos sócios Diego Navarro (à esq.) e Felipe Sanchez (à dir.)
Imagem: Arquivo pessoal

Em agosto de 2016, Gabriel Barbosa (o Gabigol) trocou o Santos pela Inter de Milão. No desembarque no Norte da Itália, o atacante estava com um boné assinado pela Buh. A ação espontânea do jovem transformou a grife em sucesso fora do Brasil.

"Teve uma coisa que foi muito interessante para a gente, até por questão de marketing. Quando o Gabigol se apresentou na Inter de Milão, ele foi com um boné. O nosso site teve acesso no mundo inteiro. Foi bem engraçado. Ele desceu do avião com o boné. Aí, agradecemos a ele por descer com o boné à época. E ele disse: 'Felipe, eu não sabia que teria aquele tanto de gente, eu desci assim porque estava com o cabelo todo amassado'. Quando ele viu, estava cheio de torcedor e repórter", comentou Felipe Sanchez.

Consolidada no Brasil e com relevância no exterior após a transferência de Gabigol para a Itália, a Buh ganhou definitivamente os boleiros. Não à toa passou a contar com investimento de craques consagrados. Casemiro, do Real Madrid, Fernandinho, do Chongqing Lifan, e Fabrício, lateral do Água Santa, abriram franquias ao redor do Brasil.

"Os jogadores ajudaram na divulgação. Depois, eles se identificaram com os caras da marca e passaram a usar. Alguns começaram a investir na marca, porque essas lojas são de jogadores. O Fabrício, lateral, tem quatro lojas. O Fernandinho, lateral que jogou no São Paulo, abriu uma loja em Caruaru. O Casemiro abriu uma loja para o irmão dele em São José dos Campos. Há outros jogadores que estão conversando com a gente. Os jogadores gostaram, acreditaram e, agora, estão investindo na marca", contou Felipe Sanchez.

A ideia de seguir ligada ao futebol acontece também na contratação de funcionários. Os ex-atletas costumam contratar profissionais que tiveram caminhos semelhantes a eles para trabalhar nas lojas e fábricas.

"A gente contrata nas franquias alguns ex-jogadores. Os jogadores param de jogar e têm sempre aquela dificuldade sobre o que fazer, para onde ir. A gente capacita eles para que eles se tornem vendedores, trabalhem na área. O cara, quando entra na loja, tem a experiência de bater um papo com quem já jogou e é do futebol. É interessante a gente contribuir com a questão social do nosso meio. A gente procura devolver tudo o que conseguiu com o futebol. A gente tem alguns ex-jogadores trabalhando com a gente, e a gente quer aumentar isso", concluiu Sanchez.