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Ex-zagueiro, Roque Júnior prefere ser gestor a técnico: "Posso ajudar mais"

Divulgação/Ferroviária
Imagem: Divulgação/Ferroviária

José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

23/04/2020 04h00

Roque Júnior deixou os gramados em 2010. Desde então, decidiu se dedicar à gestão do futebol. Depois de rápidas passagens como treinador por Ituano e XV de Piracicaba, o ex-zagueiro decidiu ir para os bastidores. Trabalhou como diretor no Paraná e, mais recentemente, na Ferroviária, onde ficou até o fim do ano passado.

"Eu, aqui no Brasil, prefiro mais ser gestor do que ser técnico. O treinador é uma ponta fraca, ele chega como salvador e sai como culpado. Não deveria ser assim, é uma peça importante, não é a principal. Acho que tem de mudar no futebol como um todo. Como gestor, acho que poderei ajudar mais o treinador, pela experiência que tive como jogador e técnico", explicou ele, em entrevista ao UOL Esporte.

Na reta final da carreira como jogador, Roque Júnior foi responsável pela criação do Primeira Camisa, um projeto em São José dos Campos (SP) que acabou virando clube de futebol. Foi nessa época que o desejo pelos bastidores aflorou no zagueiro, campeão da Copa Libertadores da América pelo Palmeiras, em 1999, e pentacampeão do mundo pela seleção brasileira, em 2002 — atuou também no Milan, Bayer Leverkusen e Leeds United.

"No Primeira Camisa, foi quando eu comecei a trabalhar na área de gestão. Quando me aposentei, fiquei mais perto do dia a dia da gestão. Com a experiência, procurei buscar a parte teórica para juntar com a experiência que tinha. Passei a fazer os cursos. Fiz dois de gestão e para treinador, também. Tenho a licença A e B."

Em seu último trabalho, Roque Júnior trabalhou como diretor de futebol na Ferroviária por um ano e oito meses. A saída do ex-zagueiro aconteceu na mesma época em que o empresário Saul Klein se tornou um dos acionistas do clube. Logo na chegada, Klein anunciou a mudança de treinador.

"A Ferroviária tinha uma maneira de trabalhar diferente de qualquer outro clube, tanto na parte administrativa quanto dentro de campo. O problema era exposto e os profissionais ajudavam, e todos sentiam que faziam parte. Não estou dizendo o que é melhor ou pior, eu escolhi sair por achar que essa gestão não iria continuar", completou.

Confira outros trechos da entrevista com Roque Júnior:

Pensa ser técnico ainda assim?

Não descarto ser técnico, o treinador fora do país tem um tempo maior para trabalhar, você trabalha com pessoas e isso é importantíssimo. Você não passa da noite para o dia as suas ideias, sabemos como é difícil liderar pessoas, é o grande desafio. Não descarto, mas na questão da gestão, consigo ajudar mais.

Passagem pelo Milan entre 2000 e 2004

Quando cheguei ao Milan, já tinham outros brasileiros, e estava acostumado com clube grande no Brasil, já tinha ganhado Libertadores e cheguei com bagagem, e, por isso, fui para o Milan. Aprendi muito, a Itália foi um divisor de águas na minha carreira. Falo para todo jogador que se passar pela Itália, joga em qualquer lugar. O jogo nosso é individual e lá é coletivo, eles se protegem muito. Eles têm menos isso lá, você fica pouco exposto individualmente. Tem pouco o um contra um. Entendendo o jogo, você evolui muito. Jogando com outros grandes jogadores, como Maldini, Costacurta...

A relação com as estrelas no Milan

Uma coisa que aprendi muito com o (Alberto) Zaccheroni (antigo técnico do Milan), um cara que tem um entendimento de jogo muito bom, principalmente na parte defensiva. Treinávamos muito defensivamente, a gente até hoje vê dificuldade, algo enraizado no futebol italiano, e voltei aqui e ainda não se jogava coletivamente. No início, me ajudaram muito também o Maldini e Costacurta. O Maldini tinha muita força e qualidade. O Costacurta, por não ser tão alto, ele via e lia antes as jogadas e chegava antes. São dois jogadores diferenciados na minha posição.

Por que o futebol italiano caiu?

Acho que durante muito tempo a Itália tinha muito dinheiro, os times eram de italianos que tinham muito dinheiro. Os clubes eram de famílias, e o país, a Itália, tinha dinheiro. Acho que as coisas começaram a mudar com o euro, e tudo foi começando a mudar no mundo, teve a crise de 2008, o dinheiro acabou diminuindo bastante.

A Itália não investiu da maneira que outros países investiram, em conhecimento, gestão, infraestrutura. Acho que a Itália caiu também porque os outros [países] começaram a investir mais, cresceram mais e pensando mais como liga, não só em cada um. Na Inglaterra, a maioria dos clubes é de estrangeiros, mas que pensam em unidade, a Alemanha é a locomotiva da Europa e isso ajudou também aos clubes.