Coronavírus prendeu Emily Lima sozinha no Equador; técnica até evita ver TV
Emily Lima acorda e faz as tarefas domésticas pela manhã. Depois de almoçar, conforme demanda, atende veículos de imprensa. Na sequência, reuniões com membros da comissão técnica, leitura e um pouco de Netflix no fim da tarde. Há 39 dias, esta é a rotina da técnica em um povoado próximo da cidade de Quito, capital do Equador.
Contratada no início do ano para assumir a seleção equatoriana, a treinadora vive sozinha neste período de quarentena em um dos países mais afetados pela pandemia do novo Coronavírus na América do Sul. São mais de 10 mil casos, 500 mortes e o sistema de saúde de Guayaquil em colapso.
A treinadora, que dirigiu a seleção brasileira entre 2016 e 2017 e o Santos até o fim do ano passado, conversou com a reportagem do UOL Esporte sobre a situação no Equador. Um detalhe de calendário segurou Emily Lima no Equador e impediu o retorno ao Brasil para este período de paralisação do futebol. Os planos no país mudaram diante da crise sanitária.
"A pandemia pegou a gente no meio do caminho. Estávamos no Sul-Americano sub-20 na Argentina e voltamos no último dia que os residentes poderiam entrar no Equador. Foi tudo muito em cima. O pessoal da federação ainda perguntou se eu gostaria de voltar ao Brasil, mas ficaria tudo muito corrido. Era arriscado não dar tempo de sair do país e ficamos por aqui", contou Emily Lima, em entrevista exclusiva.
"É uma rotina nova. É diferente da que estamos acostumados. Não é uma experiência boa, é muito ruim por tudo o que vem acontecendo, especialmente em Guayaquil, já está destoando. Tem mais de 36 dias que estou em casa, peço música por aplicativo e faço tudo o que vem sendo pedido pelo governo e pelo Ministério da Saúde. Só procuro não assistir muito TV, pois só passa muita coisa triste e ruim sobre coronavírus. Vejo só às vezes para ver as medidas que tenho que tomar", acrescentou.
As imagens tristes e ruins citadas por Emily são de Guayaquil, cidade na qual a treinadora brasileira iria morar no segundo semestre. É lá que fica a sede da Federação Equatoriana de Futebol e a técnica teria um "escritório" para trabalhar diretamente com a equipe que levou para o Equador: o assistente técnico Filipe de Souza e a analista de desempenho Camila Lima.
"Vamos desfazer esse acordo [da mudança para Guayaquil], pois a situação vai se alongar um pouco mais por lá. Quem sabe no ano que vem, para a gente poder ficar mais perto da federação, mas também temos que aguardar para ver se tudo vai resolver. Ver o tempo que a gente vai poder fazer as coisas com segurança em Guayaquil, pode ser que mude tudo. Vamos ver como será a realidade daqui a alguns meses", analisou Emily Lima.
Da comissão da treinadora, Filipe de Souza retornou ao Brasil ainda direto da Argentina para o Brasil, já que não possuía o visto de trabalho totalmente pronto. Camila, por outro lado, está em um hotel na cidade de Quito. A equipe se reúne pela internet por duas vezes por semana para definir o planejamento sobre a equipe principal e a sub-20 do Equador, a última treinada por Emily antes da pandemia.
"Trabalhamos para não perder o feeling de comissão técnica. Também temos contato com as atletas em relação à parte de treinamento", contou a técnica brasileira, que assegura ter respaldo da federação para prosseguir com o projeto. O contrato é de três anos.
"A federação está me deixando tranquila em relação à continuidade do nosso projeto e da Liga Equatoriana na parte financeira. Há uma preocupação grande com a gente, pois sabem que não é fácil ficar sozinha aqui, longe da família e tendo que se adaptar a uma nova forma de se viver", comentou.
Essa garantia do projeto tranquiliza a treinadora. A relação com a federação agrada e dá a liberdade para Emily ter um desejo para o fim da quarentena: descanso ao lado da família, com calma e sem pressa.
"Minha ideia é conversar com a federação para ficar uma ou duas semanas no Brasil. Estou precisando [risos]", encerrou a treinadora brasileira, enquanto torce para a situação no país vizinho melhorar e o trabalho, enfim, embalar neste primeiro ano de experiência no Equador.
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