"A Seleção do tetra não tinha meia como eu", diz Adriano, ex-São Paulo
A Seleção tetracampeã do mundo em 1994 tinha Raí como seu principal meia. O então craque do Paris Saint-Germain era o capitão do time, mas acabou perdendo a titularidade ao longo do Mundial. O Brasil foi campeão com Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho, sem um camisa 10 clássico. Adriano, ex-meia do São Paulo nos anos 90, acha que poderia ter espaço naquele time.
Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-jogador conta que se arrepende de ter ido para o futebol suíço logo após ter se sagrado campeão mundial sub-20 pelo Brasil. Além do título, Adriano também ganhou o prêmio de melhor jogador do torneio. Dois anos antes, ele também tinha levado a Bola de Ouro de craque do Mundial sub-17, vencido pelo Brasil na Itália.
Com tantos prêmios na base, Adriano considera que seria o meia ideal na Copa de 1994. "Com certeza. Principalmente em 94. Ali não tinha um meia como eu, de qualidade", disse. Para isso, era só não ter escolhido a Suíça como destino quando tinha apenas 18 anos.
Mais tarde, na carreira, brilhou no São Paulo, onde venceu o Paulistão de 1998 e o Supercampeonato Paulista de 2002. Também foi campeão no Sport, em 2000.
No bate-papo, Adriano relembra os grandes momentos da carreira e conta que sofreu com a balança. Gordinho e comilão quando era da base, o meia devorava chocolate escondido na concentração. Leia alguns trechos da entrevista:
Você explodiu no Guarani e na seleção brasileira de base. A ida para a Suíça, que é um mercado menor do que a Espanha ou a Itália, por exemplo, foi um erro de percurso?
Foi um pouco prematuro mesmo. Acho que foi um erro sim, mas eu fui um pouco induzido a isso pelo Beto Zini, que era o presidente do Guarani. Minha família estava precisando e querendo que eu fosse. Acho que acabei indo para o lugar errado. Eu poderia ter ido para a Espanha ou para a Itália pelo mesmo valor. Isso não ia atrapalhar em nada o Guarani. O próprio São Paulo me queria muito naquela época também e poderia ter me levado. Eu não fui para o lugar certo. Já estava na hora de sair, mas eu acho que eu poderia ter ido para um clube muito melhor.
Você foi eleito o melhor jogador do mundo sub-20?
Na Austrália, fomos campeão do mundo e eu fui o melhor jogador do torneio. Eu jogava com a 10. Na final, pegamos Gana, ganhamos virada por 2 a 1 e fomos campeões. Depois do jogo final, ganhei a Bola de Ouro como o melhor jogador do campeonato. Foi uma coisa muito bacana.
Como foi a repercussão?
O futebol é um pouco assim... Tem esse auge, de levantar, de fazer e de formar, mas penso, por ser campeão do mundo e acabar depois eu indo pra Suíça, que se eu tivesse voltado para o Brasil, por exemplo, para o São Paulo, poderia ter ido para a Copa do Mundo de 94. Penso que rolaria muitas outras coisas de outra forma. Infelizmente, a ida pra Suíça não foi realmente o ideal.
Se tivesse mudado seu percurso, você teria uma chance na seleção brasileira principal?
Com certeza. Principalmente em 94. Ali não tinha um meia como eu, de qualidade.
O Rivaldo [que não foi para a Copa] era um jogador bom, mas não conseguia fazer o que eu fazia. Eu tinha umas arrancadas muito nervosas, inteligência de jogo, lançamentos, batia faltas... Eu poderia enfiar bolas para o Romário, por exemplo, pro Bebeto. Eu conhecia essa galera, conhecia o futebol, joguei contra esses caras algumas vezes. Quer dizer, eu tinha sim, com certeza, a possibilidade de ter ido pra Copa do Mundo de 94. Em 93, fui o melhor jogador do mundo [sub-20] na Austrália. Se eu tivesse voltado para o Brasil, com certeza, em 94, eu estava na Copa do Mundo junto com esse elenco, que era muito bom.
É verdade que no Guarani você era chamado de "Neto destro"?
Não, nunca houve isso. Nunca alguém me chamou de Neto destro. Havia algumas comparações com o Neto, como na cobrança de faltas, no estilo de jogo, no estilo de corpo... O Neto era um pouco gordinho e eu também era. Eu via o Neto treinando com aqueles agasalhos com saco plástico debaixo para ele transpirar bastante e eu também chegar a usar isso algumas vezes, até mesmo na Seleção brasileira eu treinava assim. Eu era um pouco gordinho. O Neto sempre foi uma inspiração. Ele era um jogador de Seleção brasileira, que batia falta muito bem, chutava, fazia gols, era rebelde e era do Guarani. Pra mim, era um exemplo porque eu queria ser um jogador do estilo dele.
Como foi a luta contra o peso?
Então, é uma luta mesmo. Algumas vezes na Seleção brasileira, eu ia almoçar e os médicos me viam e diziam: 'Senta aqui, come isso, não pega sobremesa, come mais salada.' Eu era acostumado a comer o arroz e o feijão mesmo. Você precisa de energia pra treinar de manhã, de tarde e algumas vezes essa alimentação fica curta. Você acaba precisando de mais e, aí, você se sente um pouco mais cansado e a dificuldade é maior. Mas o treinamento é pra gente melhorar, né? É um treinamento forte pra aguentar o ritmo de jogo. Então a gente se alimentava pouco, mas acabava tendo uma alimentação adequada. Então, esse esforço era para ser o 10 da Seleção. Era pra poder aguentar o jogo todo. Mas eu tinha lá uma caixinha de chocolate escondida no meu armário (risos). Os médicos e o pessoal de lá nunca viram. Era meu segredo e o de alguns jogadores que estavam comigo na concentração. Pra eles, eu liberava um pouco.
Por falar em comer, você acha que churrasco integra grupo?
Algumas vezes, quando a gente reunia jogadores pra fazer um churrasquinho, era importante. Alguns que não bebem, quando tomam duas cervejinhas, já começam a falar e a desabafar e isso é bom. A gente já lava a roupa suja ali e os jogadores se entendem melhor, se soltam, se juntam, se unem, entendeu? Aí a gente começa a se conhecer, saber o que o outro não gosta. Isso fortalece o grupo.
Alguns treinadores faziam muito isso depois de alguns probleminhas que davam. A gente fazia um churrasquinho, batíamos um papo e resolvíamos tudo. O Oswaldo de Oliveira já fez alguns churrasquinhos. O Nelsinho Baptista... O Leão, uma vez ou outra, liberava um churrasquinho. Lá no Sport mesmo, eu fiz um churrasco em casa, chamei o Leão e o time inteiro do Sport. E foi todo mundo, não faltou um jogador. Foi a comissão técnica inteira. Até o cara lá que era repórter da TV Globo. Isso é união. O Sport foi vice-campeão da Copa dos Campeões que dava vaga na Libertadores, foi campeão pernambucano, campeão do Nordeste e chegou em quinto no Brasileiro. A gente quase foi campeão brasileiro naquela Copa João Havelange.
Jogar no São Paulo foi realizar um sonho?
O São Paulo foi realmente forte, foi muito bacana viver lá porque é um clube muito sério, muito organizado. Eu jogava com a [camisa] 10 e gostava de chamar o jogo. Eu gostava de chegar naquele Morumbi lotado. O São Paulo foi realmente... hoje eu sou são-paulino, eu torço pro São Paulo. Eu joguei três anos, depois saí e fui emprestado para alguns outros clubes, e voltei para o São Paulo e detonei de novo. O ano de 2002 foi especial. Cheguei no São Paulo com Kaká, Leonardo, Márcio Santos, Jorginho... tinha muitos jogadores bons.
O São Paulo foi um clube que depois me resgatou outra vez. Foram duas passagens.
Foi a melhor fase. Foi o lugar onde estive por mais tempo. Foram quase seis anos. Eu tive nove anos de contrato com o São Paulo, fiquei três emprestado e voltei depois. O São Paulo sempre foi uma casa. É um clube muito sério, tem uma torcida muito grande, tem estrutura. Lembro dos gols que marquei contra o Cruzeiro, o Flamengo. Lembro também do jogo contra o Real Madrid, com o Muller e o Valber. Nós metemos 3 a 0 no Pacaembu [em 1996]. Foi a estreia do Parreira. Ele conversou com a gente e foi para a tribuna. Quem comandou lá no campo foi o Muricy. Eu detonei nesse jogo.
Em que ano você parou de jogar futebol e qual o último clube?
Foi em 2007. Joguei no Juventus da Mooca e depois eu vim pro meu time em Presidente Prudente, o Oeste Paulista. Encerrei minha carreira lá.
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