Há 10 anos, Mourinho "estacionou ônibus" e parou Barça de Guardiola e Messi
Há dez anos, José Mourinho talvez tenha "estacionado o ônibus" da maneira mais categórica na carreira. A expressão usada na frase anterior, responsável por exaltar os sistemas defensivos armados pelo português, descreve perfeitamente o que a Internazionale do treinador fez há dez anos. No Camp Nou lotado, o time italiano segurou uma derrota por apenas 1 a 0 para o Barcelona de Messi e Guardiola e avançou à final da Liga dos Campeões daquele ano, que terminaria na sala de troféus do clube de Milão.
Em 28 de abril de 2010, a Inter chegou à Catalunha com uma vantagem de 3 a 1, fruto de um primeiro jogo dominante e marcado por grande atuação coletiva da equipe italiana. Na Espanha, a estratégia defensiva apareceu desde o início e acabou sendo o suficiente para segurar o Barça por 84 minutos, momento em que Piqué anotou o único gol da partida. A estratégia até hoje é relembrada com orgulho por quem estava em campo naquela noite.
"Mourinho teve grande participação naquela classificação. Para mim, ele foi o melhor [treinador] com quem trabalhei e, sem dúvida, pudemos contar com as qualidades dele naquele jogo. A mão dele taticamente ajudou bastante o time", afirmou o pentacampeão Lúcio, zagueiro titular daquela Inter, em depoimento exclusivo ao UOL Esporte.
"José Mourinho sempre manteve a mesma linha de padrão, motivando e cobrando bastante. Sempre levou tudo muito a sério e aquele jogo foi tenso; ele cobrou muito da gente e também mexeu com o psicológico, algo que ele sempre trabalha nas equipes por onde passa", acrescentou.
Não houve qualquer tipo de constrangimento em "estacionar o ônibus" na frente da área, ainda mais pelas circunstâncias da partida no Camp Nou. Quando o relógio apontava 28min do primeiro tempo, o ítalo-brasileiro Thiago Motta acertou o rosto de Sergio Busquets com o braço e recebeu o cartão vermelho. Com um a mais, o Barcelona cresceu e pressionou, mas os italianos sustentaram a vantagem com disposição e uma postura tática bem compacta.
Segundo as estatísticas da Uefa, a Inter finalizou apenas uma bola — e para fora do gol defendido na época por Victor Valdés. Em contrapartida, o Barça chutou 15 bolas contra a meta de Júlio César, quatro delas acabaram indo na direção do goleiro brasileiro.
"Naquela situação, era claro que o Barcelona era o clube a ser batido na Europa e no mundo. Era um grande desafio para a gente, porque tínhamos plena consciência que não era nada de anormal para eles uma vitória por dois gols de diferença, que era o que precisavam. Estavam acostumados a jogar no Camp Nou e quase sempre ganhar por uma vantagem larga", disse Lúcio, resgatando o contexto do duelo ocorrido há uma década.
Em campo diante deste poderoso Barça, os italianos se fecharam próximo à área do ex-flamenguista, ainda mais pela desvantagem de jogadores como consequência da expulsão do volante, e perderam pelo placar mínimo. A expulsão de Motta, aliás, se tornou um fator extra de motivação, segundo Lúcio.
"A equipe estava muito unida jogando com 10, todo mundo se mobilizou para evitar uma possível desclassificação, que poderia cair a culpa sobre ele. Foi mais um motivo para 'fazer das tripas coração' para poder ir para a final. Defensivamente jogamos muito bem", recorda o defensor brasileiro, que se aposentou no início do ano, aos 41 anos.
"Tivemos que nos doar ao máximo para superar essa perda. Jogamos praticamente sem nenhum atacante, o Eto'o e o Milito estavam baixando muito. Foi tenso o tempo todo", relembra.
Diante deste comportamento defensivo, consequência também da boa vantagem na ida, os brasileiros de destacaram. Se Thiago Motta acabou expulso, nomes como Lúcio e Maicon se desdobraram para segurar o Barcelona no sistema defensivo.
"Barcelona tinha Xavi, Iniesta, Pedro, Ibrahimovic e Messi...sabíamos que era um time muito forte e que poderia vencer, mas fizemos o inesperado e paramos o Barcelona. Foi especial e vai ficar para a história da Champions, da Inter e das nossas carreiras", orgulha-se o zagueiro titular do Brasil nas Copas de 2002, 2006 e 2010.
Destacado individualmente por Mourinho na época, Júlio César fez defesas importantes, principalmente em um chute de Messi da entrada da área ainda na primeira etapa.
Os três posteriormente também seriam pilares da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 2010 e acabou eliminada na fase quartas de final pela Holanda, time de Wesley Sneijder, destaque desta mesma Inter.
O revés por 1 a 0, classificado por Mourinho como a "melhor derrota da vida", devolveu a Inter a uma final de Liga dos Campeões depois de 38 anos. Se em 1972, a equipe italiana acabou com o vice-campeonado, derrotada por 2 a 0 pelo Ajax de Johan Cruyff, em 2010 o final foi feliz.
No estádio Santiago Bernabéu, uma Inter com menor preocupação para "estacionar o ônibus" venceu o Bayern de Munique pelo placar de 2 a 0, gols do argentino Diego Milito.
O pilar formado por Júlio César, Maicon e Lúcio estava lá, assegurando uma defesa que exemplifica o sucesso de José Mourinho como treinador na principal competição europeia de clubes, dez anos depois.
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