Ele já deixou Coutinho no banco e hoje trilha caminho como técnico no Vasco
Já apontado como uma das joias da base do Vasco, usou a camisa 10, deixou Phillipe Coutinho no banco e conquistou título sobre o Santos de Neymar, em 2008. Tudo isso está na bagagem de João Marcos, que, aos 28 anos, busca trilhar um novo rumo em São Januário, agora, fora das quatro linhas.
Técnico do sub-11 do Cruz-Maltino, João chegou à Colina aos 4 anos e ficou por 14 anos no clube. Neste período, esteve ao lado de nomes como Phillipe Coutinho (atualmente no Bayern de Munique-ALE), Allan (Napoli-ITA) e Alex Teixeira (Jiangsu Suning-CHN), nomes conhecidos do grande público.
No novo ciclo pelo qual atravessa — que começou em 2017 — olha para trás e fala com orgulho do passado, ressaltando a experiência e o aprendizado adquiridos e indicando querer um futuro sólido.
"Cheguei com quatro anos e acabei saindo após a Copa São Paulo de 2010. O Alex Teixeira e o Coutinho foram grandes nomes com quem tive a oportunidade de jogar junto. O Teixeira é um ano mais velho e o Coutinho um ano mais novo. Na minha geração, a de 91, também teve o Allan, que hoje está no Napoli. Posso dizer que, até os 17, tinha certo destaque, considerado uma das promessas, mas, depois, as coisas passaram a não acontecer, por diversos motivos. Saí em 2010 e fui para o Botafogo, onde fiquei por dois anos, em períodos divididos. Joguei na Holanda [no Fortuna Sittard], emprestado. Inclusive, minha estreia como profissional foi lá. Voltei para o Botafogo. Depois, fui emprestado para alguns clubes pequenos, a comecei a pensar se era isso mesmo que eu queria. A cabeça começou a atrapalhar um pouquinho", lembra
Em 2013, o então meia foi para o Duque de Caxias, clube da Baixada Fluminense, onde passou por um transtorno que ainda se repetiria muito em breve, na Europa. Esses pontos também pesaram para a decisão de pendurar as chuteiras precocemente e focar na faculdade de Educação Física, que havia começado anos antes, quando ainda defendia o Vasco.
"Fui para o Caxias e tive um problema. Assinei um contrato de quatro meses e não recebi nada, acabei não jogando. Fui para a Romênia [Corona Brasov] no segundo semestre, fiz um contrato de dois anos e também tive problemas com a parte financeira do clube. Não recebi, acabei assinando alguns documentos e voltei no fim do ano, já com a cabeça desgastada. Resolvi, juntamente à minha família, encerrar ali. Tive muitas experiências, aprendi muito, mas dali em diante seria uma nova vida", conta ele, que completa:
"Foquei na faculdade, que tinha começado e tive de interromper por causa da minha ida para a Holanda. Em 2017, depois de dizer que não trabalharia mais com futebol, acabei recebendo um convite do Vasco, para uma outra função, e voltei."
João Marcos também lembra, com um sorriso largo, o fato de, na base, ter sido titular enquanto Philippe Coutinho era reserva. Mas, com bom humor, faz ponderações.
"Hoje, os meninos têm competições em todas as categorias. Na minha época, era um pouco diferente, era de dois em dois anos. O Phillipe Coutinho era um ano mais novo do que eu e jogávamos na mesma posição. No sub-13, sub-15, ele era primeiro ano e eu segundo ano, então, realmente, eu tinha oportunidade de jogar um pouquinho mais de tempo que ele (risos). A partir do sub-17, tivemos a oportunidade de jogar juntos. E essa é uma história que até hoje repercute. Isso aconteceu durante um tempo, mas depois jogamos juntos."
Mais do que falar do ex-companheiro, o técnico mostra orgulho de o que Coutinho conseguiu construir na carreira.
"E sobre esse tema, sempre digo que sou muito feliz em ter participado disso. Vê-lo hoje na seleção brasileira, mundialmente conhecido pelo futebol... Todo mundo que passou ao lado dele, ensinou um pouquinho, e me incluo nisso. São anos de convivência na base de um clube, então, tudo que ele realizou e tudo que ele é, e torço para ser muito mais, eu e outros meninos fizemos parte. Somos muito felizes por isso."
João, Coutinho, Allan e outros daquela geração, inclusive, mantêm contatos até hoje e, sempre que possível, tentam se reunir para recordar as histórias.
"Temos um grupo no WhatsApp [aplicativo de mensagem]. Ano passado, quando [Coutinho] esteve aqui, organizamos um churrasco e uma pelada. Fazemos isso todo ano. A gente costuma fazer uma brincadeira para se encontrar, rir das histórias, manter esse vínculo. Foi uma infância juntos", afirma o treinador vascaíno.
"Sobre o Coutinho, é um menino nota mil, super tranquilo, muito família. Não deixou o sucesso subir à cabeça. Os meninos veem ele como um sonho e eu utilizo essa proximidade com ele para mostrar exemplos positivos", completa.
Título contra o Santos de Neymar
A parceria com Coutinho não rendeu apenas uma amizade, mas também frutos dentro de campo. Com eles, o Vasco conquistou a Copa do Brasil sub-17, em 2008, em final contra o Santos de Neymar. João Marcos abriu o placar na vitória cruz-maltina por 2 a 1, Willen marcou o segundo do time de São Januário.
"O Santos tinha um timaço, com Neymar, Allan Patrick e Danilo, e fomos campeões. Eu acabei fazendo um gol de falta, e o Neymar fez um de falta também. É legal ter vivido isso, olhar para esses caras e ver onde eles estão, Guardo essa história com muito carinho", recorda.
Começo como treinador na 'segunda casa'
O treinador cruz-maltino, que adquiriu Licença B no Curso da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no ano passado, salienta que ter começado a nova trajetória no clube que foi sua casa por tantos anos facilitou algumas coisas.
"Ajudou muito, porque eu vivi 14 anos dentro do clube. Quando chega em um lugar onde conhece todos os cantos, conhece grande maioria dos funcionários, sabem quem você é, isso ajuda muito. Consegue ficar um pouco mais confortável para começar um trabalho novo, em um cargo novo. Quando assumi o papel de treinador pela primeira vez, no segundo semestre de 2018, fiquei um pouco ansioso, mas, por outro lado, estava em um lugar em que as pessoas gostam de você. Ajudou bastante", salienta.
"Agora, estamos querendo que todo mundo se cuide. Temos mantido contato com os meninos através de videoaulas, desafios técnicos... É algo novo para a gente também. Expectativa de que no segundo semestre possa ter alguma competição. Em relação a objetivo, na base, acho que é chegar ao fim de um ano, olhar para o time e ver que ele evoluiu. Fazendo isso, e não menos importante, conseguir ganhar as competições. O menino, para estar no Vasco, ele precisa entender que vencer é importante e nada melhor para isso do que vencendo os desafios", finaliza.
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