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Ivan Moré passa quarentena em Ubatuba com a família: "viver com bem menos"

Ivan Moré ao lado de um dos filhos - Reprodução/Instagram
Ivan Moré ao lado de um dos filhos Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em Santos (SP)

04/05/2020 11h22

Resumo da notícia

  • Ivan Moré passa o período de quarentena em Ubatuba, litoral de São Paulo
  • Apresentador está há 40 dias vivendo ao lado da mulher e dos filhos
  • "Pandemia me proporcionou uma relação interna familiar muito bacana", diz

A necessária quarentena que vem sendo respeitada por conta da pandemia do novo coronavírus tem trazido diversas reflexões sobre o mundo e o período que vivemos. E na manhã de hoje (4), o jornalista Ivan Moré, ex-apresentador do Globo Esporte, mostrou um pouco de sua visão sobre o tema em uma entrevista concedida numa 'live' do Instagram.

Ivan Moré está há cerca de 40 dias vivendo em Ubatuba, litoral de São Paulo, com a mulher e os filhos. Uma nova realidade que reforça ao apresentador uma série de conceitos que não se mostravam tão claros no dia a dia de correria na capital paulista.

"De certa forma tenho que agradecer o que está acontecendo comigo, especificamente, porque essa pandemia acabou me proporcionando uma relação interna familiar muito bacana e muito bucólica. Sei que vivo numa bolha que é completamente diferente de 99% dos brasileiros, não estou passando fome, não estou com problema financeiro, etc, então tenho que olhar pra essa camada da população e me sentir grato. Primeiro ponto", analisa Ivan Moré em papo com Bruno Bernardo, um dos sócios do Labof, empresa de consultoria criativa.

De acordo com o jornalista e apresentador, a quarentena lhe tem mostrado que é possível - e até necessário - viver com bem menos do que se imagina.

"Segundo ponto: estou num lugar onde estou muito bucólico, com muito verde, muita natureza, um lugar maravilhoso, e isso tem me proporcionado uma reflexão aos filhos, mas principalmente aos bens materiais... Estou com seis camisetas há 40 dias, só ando de chinelo e descalço. Eu preciso muito menos pra viver do que eu imaginava. A gente está gastando menos, não tem desperdício, e estou todos os dias com os meus filhos. A gente está num lugar isolado. E aí eu consigo andar de bicicleta com meus filhos. Chegando lá, estimulei a andar de bicicleta e minha filha está andando de bicicleta comigo sem rodinha. E me lembro disso quando minha mãe me ensinou a andar de bicicleta aos 5 anos. Se eu tivesse em São Paulo, trabalhando feito doido, eu não teria esse tempo. É algo que vai ficar na cabecinha dela e, com certeza, na minha", diz.

Eu preciso muito menos pra viver do que eu imaginava. Não tem desperdício, e estou todos os dias com os meus filhos".

Sem deixar de levar em conta a realidade da maioria dos brasileiros, Ivan Moré se diz grato por poder viver a atual experiência ao lado da família

"E eu falo: 'Faz 40 dias que eu estou aqui [Ubatuba], e estou agradecendo o que estou vivendo'. Mas, claro, sempre levando em conta a realidade do brasileiro que é muito triste, eu fico triste por isso, mas não há falta de comprometimento com o público geral. Mas é uma gratidão minha com a situação por ter me proporcionado viver essa experiência, essa situação, entender que posso viver com menos, menos roupa, até menos de comida, brincar de coisas simples, eu estou ensinando eles a jogar bolinha de gude, vai jogar no carpete? Isso não tem valor nos dias de hoje. Aqui eu posso fazer um buraco na rua pra jogar bolinha de gude, se relacionar no almoço, janta, são reflexões que estou usando a meu favor. Em 40 dias, meu nariz não travou e eu não tenho uma casquinha no nariz, porque lá o ar é puro, não sei mais o que é trânsito, e isso faz muito bem para o nosso espírito", acrescenta Moré.

"A gente tem que entender que a nossa bolha não é referência. Tem uma frase muito legal, livro Frederic Laloux, "você não enxerga o mundo como ele é, você enxerga o mundo como você é". O meu mundo é diferente do seu mundo, do mundo do cara que mora debaixo da ponte, do jogador de futebol, e o meu objetivo é cada vez entender mais uma ótica mais ampla das pessoas, de como as pessoas funcionam, e pra isso você precisa ligar o botão da intuição, porque ela conversa com você o tempo inteiro, não de forma racional, mas um espinho na nuca, um frio na barriga, aquela sensação que você não sabe interpretar, e esse é o poder do subconsciente, que a gente não aprende a dominar, e a partir do momento que você extrai isso pra jogar a favor... Isso é uma força poderosa. E quem usa o tempo inteiro e a agir pela intuição, as coisas vão se revelando pra você ao longo do caminho", acrescenta.

Ivan Moré fez ainda uma análise sobre como as marcas em geral devem se comportar - e provavelmente passar a agir de uma outra forma - depois que a vida voltar ao normal.

"As marcas estão despertando porque elas entenderam que hoje o consumidor está muito crítico, quer estar envolvido na jornada. Não é só expor um produto... A ficha caiu, de que você precisa proporcionar para o consumidor algo mais, gerar algo a mais além do produto, isso está na maneira como você aborda o cliente... Creio que as marcas têm um grande desafio daqui em diante. Você acredita que esses espaços enormes da Berrini [rua com diversos prédios comerciais em São Paulo] terão o mesmo valor depois da pandemia? É um questionamento interessante que temos pra fazer", sugere.

E o que o Ivan Moré de hoje falaria para aquele menino que ainda está começando no jornalismo e dando seus primeiros passos na capital paulista? "Vem que é legal pra caramba!".

"O Ivan de hoje falaria o seguinte: vem que os primeiros 20 anos serão legais pra caramba, e os segundos vão ser mais ainda, e continue com essa sede, porque essa sede é o que faz a vida valer a pena. A vida é muito legal, é um presente divino, não podemos olhar para o lado e comparar com quem tá melhor, ou pior, esse é o grande erro da humanidade... Estamos o tempo inteiro fazendo uma comparação, com status, poder social, aquisitivo e financeiro, o ser humano é assim, e a gente, ao se comparar, fica meio triste, ruim, que lugar eu ocupo na sociedade? É o questionamento que a gente faz. Aí a gente lida com uma ansiedade em demasia que não depende de soluções que são entregues por nós mesmos", completa.