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Aldir Blanc pôs amor pelo Vasco em obras e "converteu" filhas em 1989

Aldir Blanc, em foto de 2006 - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Aldir Blanc, em foto de 2006 Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Alexandre Araújo

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

04/05/2020 11h40

Autor de grandes obras, como "O Bêbado e a Equilibrista", o escritor e compositor Aldir Blanc, que morreu hoje (4) vítima da Covid-19, tinha uma íntima relação com o Vasco. O clube de São Januário, pelo qual o artista nunca escondeu a paixão, esteve presente em algumas produções assinadas por ele, e esse amor foi passado para suas filhas na comemoração do Brasileirão de 1989.

Em 2009, Aldir Blanc escreveu o livro "Vasco - a Cruz do Bacalhau" em parceria com o jornalista e historiador José Reinaldo Marques. Nele, narra momentos inesquecíveis, glórias e grandes jogadores que fazem parte da história do Vasco Em um trecho da obra, conta que "contraiu a doença" de torcer para o Cruz-Maltino em 1956, então com dez anos, quando o time conquistou o Campeonato Carioca após triunfo sobre o Bangu.

"Daquela tarde, aos 10 anos / não esquecerei: / fui para a rua dos artistas / me gripei, caí de cama... / Doido, com 40 graus, / encolhido dentro de um pijama, / contraí essa doença: Ser Vasco da Gama", aponta parte do texto intitulado "Febre vascaína".

Compositor e escritor Aldir Blan lembra comemorações pelo título do Vasco em 1974 e 1989 - Reprodução Placar / 1993 - Reprodução Placar / 1993
Imagem: Reprodução Placar / 1993

Na capa do livro "Direto do Balcão", em que Aldir fala sobre diversos assuntos, como bares, política, futebol e música, há uma ilustração que representa Aldir, de costas, com a camisa do Vasco.

O Cruz-Maltino aparece ainda explicitamente na letra de "Gol anulado", composição com João Bosco, um grande parceiro musical. A música conta a a decepção de um homem ao descobrir, depois de "três anos vivendo juntos", que a parceira torcia para o rival Flamengo.

A música, que anos depois recebeu críticas por conta da alusão à violência doméstica, foi interpretada por Elis Regina.

Em entrevista à revista Placar, em 1993, Aldir recordou as celebrações pelo título das edições do Campeonato Brasileiro de 1974 e 1989, indicando que a comemoração pela conquista do bi, contra o São Paulo, marcou a primeira vez que as filhas se envolveram verdadeiramente com o clube.

No fim de 2008, ao jornal O Globo, demonstrou o amor pelo Vasco, que, à época, atravessava uma crise e havia acabado de ser rebaixado à Série B do Brasileiro pela primeira vez.

"Se for para a Segunda Divisão, sou Vasco. Se for para a Terceira, sou Vasco. Se o Vasco acabar, ainda sou Vasco", disse.

Aldir Blanc nunca escondeu a íntima relação com o Vasco - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Em diversos textos e entrevistas, nunca se refutou a falar do clube de São Januário, até mesmo em temas mais polêmicos. Em 2007, ao site da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), fez críticas ao então presidente Eurico Miranda.

"Tenho uma relação afetiva com o clube, mas não me identifico com o Vasco do Eurico, com suas cavalices e a perseguição estúpida ao Flamengo, que só nos deu vexame. Perdemos três títulos depois que ele escolheu esse caminho como meta eleitoral. Por isso eu o chamo de 'Maquiavel ao Zé do Pipo'", afirmou.

Aldir ainda participou indiretamente do processo eleitoral vascaíno. Em 2014, declarou apoio à chapa "Identidade Vasco", que, na ocasião, era encabeçada por Roberto Monteiro. No pleito de 2017, apoiou a chapa "Sempre Vasco", que tinha Julio Brant como candidato.

Lembrado pelo Vasco

Aldir Blanc foi lembrado pelo Vasco em algumas postagens em redes sociais. No ano passado, em repúdio à ditadura militar, o Cruz-Maltino publicou um vídeo da música "O bêbado e o equilibrista", que se tornou um hino da anistia.

O clube também endossou a campanha em prol de doações para a transferência de Aldir, que já estava internado devido às complicações causadas pelo coronavírus.

Música embalou o tetra

A relação de Aldir com o futebol também esteve presente em diversas outras oportunidades. Em parceria com João Bosco, escreveu canções que tinham o esporte como pano de fundo. "Linha de passe" e "Incompatibilidade de Gênios" são alguns exemplos.

Em "De Frente Pro Crime", a frase "Tá lá o corpo estendido no chão" acabou se tornando um dos bordões mais famosos do narrador Januário de Oliveira, usado quando havia um jogador machucado em campo.

Em relação à paixão nacional, talvez, a obra mais conhecida do artista seja "Coração verde e amarelo", feita e pedido da Globo e que veio a embalar a conquista brasileira na Copa do Mundo de 1994. A música foi realizada em parceria com Luiz Otávio de Melo Carvalho, o Tavito, que morreu no ano passado.

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