Pandemia atrapalha ida à Europa e deixa zagueiro da Série A sem clube
Quase cinco meses de desemprego é uma situação inédita em 12 anos de carreira. O zagueiro Douglas costumava ser disputado no mercado da bola. Em 2012, por exemplo, foi comprado pelos ucranianos do Dnipro por R$ 12 milhões do Vasco. Depois jogou no São Paulo e na Chapecoense, onde terminou o Campeonato Brasileiro como titular e capitão no ano passado. Tinha boas expectativas para 2020, mesmo com o rebaixamento, e não renovou contrato com a ideia de voltar para o futebol europeu.
Ele só não contava com a pandemia do novo coronavírus, que paralisou o esporte e mudou a rotina das pessoas e entidades em todo o mundo.
"Eu estava praticamente com as malas prontas para ir para um clube da Rússia. Coisas bem encaminhadas mesmo, só aguardando mandarem a passagem e o contrato para viajarmos. Foi exatamente no momento em que estourou a pandemia e a negociação teve que parar. Fiquei sem fechar com o clube por causa do coronavírus quando já estava me organizando para viajar", conta, ao UOL Esporte.
O Campeonato Russo foi uma das últimas grandes ligas do mundo a interromper atividades, já na segunda quinzena de março. O clube, que Douglas prefere omitir para não atrapalhar futuras negociações, travou a contratação. Segundo o brasileiro, voltaram a entrar em contato na semana passada, mas não há garantias.
"Eu tinha o desejo grande de voltar a jogar fora do país e tinha colocado em mente, independentemente do que fosse acontecer na Chape. Aí veio tudo isso. É bem difícil, eu jamais fiquei tanto tempo sem clube, é algo atípico na minha carreira. Me preocupa muito."
Sem clube e agora aberto para possibilidades no futebol nacional, Douglas passa o período de confinamento social em Itajaí-SC, com esposa e filha. Apesar do momento difícil na carreira, defende que atividades esportivas ainda não sejam retomadas em nome da saúde.
É claro que eu quero que o futebol volte rápido, é minha profissão, dependo disso. Mas sem nenhum tipo de segurança isso é totalmente inviável.
"No momento não há muito o que se fazer. É esperar que as coisas melhorem. Não adianta forçar a volta do futebol sem essa pandemia controlada. É primeiro pensar no ser humano, os atletas têm família e isso pode atingir pessoas próximas. Infelizmente, para cair a ficha às vezes só aprendemos com a dor, tem que acontecer alguma fatalidade para que nós possamos acordar e enxergar o tamanho da gravidade."
Gratidão ao SPFC: "Não fui tão bem"
Douglas passou três anos e meio na Ucrânia, mas os últimos seis meses foram sem receber salário: "O país vivia à beira de uma guerra pelo conflito entre governistas e separatistas. A partir do momento em que negócios do dono do Dnipro começaram a ser afetados, ele parou de investir no futebol. Eu ali estrangeiro, com possibilidade de vivenciar uma guerra, sem jogar por contusão e ainda sem receber, foi delicado."
O zagueiro acionou o clube na Justiça e acertou sua ida para o São Paulo em julho de 2016. Ele jogou apenas sete partidas no primeiro ano de contrato e em seguida foi emprestado à Chape, encerrando precocemente uma história que gostaria que fosse mais bonita.
"Foi a realização do meu sonho de criança. Sou torcedor por influência de um tio são-paulino roxo, que me influenciou muito. Eu tenho gratidão imensa pelo São Paulo, o clube me abriu as portas, me recuperou da lesão. Mas tive algumas oportunidades e não fui tão bem, a verdade é essa. Não coloco a responsabilidade no clube. Talvez eu não estivesse nas melhores condições, porque não consegui demonstrar."
"Meu maior desafio profissional"
No Dnipro, Douglas chegou à final da Liga Europa 2014/2015 contra o Sevilla. Ele considera a melhor fase da sua carreira, mas o "maior desafio" fica por conta da ida à Chapecoense, em 2017. Foi a primeira temporada depois da tragédia aérea na Colômbia.
"Cheguei em um ano delicado, de reconstrução. Muitos jogadores até receberam convite de ir para lá, mas acabaram recusando porque era um momento difícil que o clube vivia, de incerteza. Quando me procuraram eu estava no São Paulo com sede de jogar, de ter sequência, de mostrar meu valor. Era a oportunidade de ajudar um clube a reescrever sua história e eu fui", conta o zagueiro.
Douglas se despediu da Chapecoense com 100 jogos: "Criei uma identificação e um carinho, vou continuar torcendo. Eu continuaria na Chape, se não fosse esse meu desejo de buscar uma nova oportunidade na Europa. Fiquei com a sensação de que poderia ter ido um pouco mais longe na época que jogava na Ucrânia".
A pandemia atrapalhou, mas os sonhos continuam de pé.
Até eles se realizarem Douglas seguirá com outra preocupação: o entretenimento da filha Manuela, de 3 anos, na quarentena: "Haja criatividade para inventar brincadeiras."
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