Dois por campo e uma bola para cada: como se treina em Portugal pós-Covid
Enquanto enfrenta a pandemia do novo coronavírus, Portugal se prepara para viabilizar o retorno da primeira divisão do futebol local no fim do mês. Por isso, as equipes começam a voltar aos treinos submetendo os envolvidos a testes e seguindo padrões de distanciamento, o que resulta em uma curiosa rotina de atividades. É o que conta o brasileiro Philipe Sampaio, do Tondela, que relata isolamento dos jogadores em campo e rigor com o material esportivo de cada um.
"São dois jogadores por campo e um preparador físico. É um circuito que fazemos de 45 minutos, treino puxado. Ao final não podemos nem tomar banho no clube e precisamos lavar nossas roupas em casa. Até a bola temos que levar com a gente, cada um tem a sua", contou o zagueiro, em entrevista ao UOL Esporte.
Para o sistema de treinos físicos funcionar, os clubes portugueses adotaram a prática de dividir os elencos em vários horários de atividade. Antes disso, na segunda-feira (4), foram realizados testes da Covid-19. A primeira divisão é a única no país que não foi encerrada - faltam dez rodadas para o fim, e a previsão é de retorno no dia 30 de maio.
"Teve treino 8h30, mas fui com tanta vontade depois de dois meses confinado que nem ligo para isso de ser muito cedo. Eu não encontro ninguém no clube. Cada dia treino em uma hora diferente, e assim será nas duas primeiras semanas. O plano é passar para um estágio de treinamento de seis jogadores após isso, e somente na semana que antecede o jogo poder treinar em grupo", descreveu Philipe.
O Tondela, atualmente 14º colocado no Campeonato Português, fornece aos jogadores três máscaras por dia. O clube informou ao elenco que vai realizar testes de Covid-19 semanalmente, seguindo as normas impostas pelo governo português. O país apresenta pouco mais de 1.100 mortes, número considerado baixo por especialistas tendo em vista a proximidade com a Espanha, que já superou 26.000 vítimas.
"Nós sabemos que o Governo adotou a medida de fechar a fronteira com a Espanha muito cedo, antes mesmo de acontecer o confinamento por lá. Os clubes pediram o respeito ao confinamento, e agora estamos em uma fase de tentativa de resgate ao futebol. A prioridade tem que seguir sendo a saúde, e nós precisamos ter a consciência de que só é possível jogar com portões fechados e tendo esse zelo praticado por aqui", afirmou o zagueiro.
"O clube está sem casos do vírus. A cidade de Vizeu, em que moro, também não apresentou registro nos últimos 14 dias. Só que mesmo assim todos praticam a regra de distanciamento por aqui", completou.
Zagueiro é formado no Santos
Aos 26 anos, Philipe Sampaio está em sua segunda passagem por Portugal. No Boavista, entre 2014 e 2017, se destacou como titular e recebeu uma oferta do Benfica. No entanto, a questão salarial pesou na escolha pelo Akhmat Grozny, da Rússia, clube que o zagueiro defendeu na temporada 2017/2018..
"Tinha um objetivo de estabilidade financeira, e também sou uma pessoa que não gosto de zona de conforto. Queria aprender uma nova língua e morar em país com outra cultura. Foi uma experiência bacana, mas é daquelas que você olha para o que passou e pensa que poderia ter mudado alguma coisa. Não é simples recusar o Benfica", relembrou.
Philipe embarcou para Portugal após ser formado nas categorias de base do Santos. O defensor lutou para ser alçado ao time profissional pelo treinador Muricy Ramalho, em 2012, mas sofreu com a concorrência de outros dois zagueiros da mesma geração: Gustavo Henrique, atualmente no Flamengo, e Jubal, que atua no também português Vitória de Setúbal.
"O Muricy gostava muito de chamar a molecada da base para coletivo toda semana. Ele até brincava: 'Se machucar o Neymar vai rescindir o contrato'. Foi uma época muito vencedora da categoria de base do Santos [campeão da Copa São Paulo em 2013 e 2014], mas a concorrência era muito complicada", relembrou.
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