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Por que Fortaleza comemora, mas nem tanto, possível venda de Cebolinha

Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Imagem: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

25/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Fortaleza pode se beneficiar com eventual vende de Éverton Cebolinha
  • Clube do Nordeste tem 10% dos direitos econômicos do atacante
  • Porém, uma dívida antiga faria o Fortaleza perder uma boa quantia
  • Fortaleza ainda receberia por ser um dos clubes formadores
  • Cebolinha está na mira do Napoli, segundo a imprensa italiana

Dono de 10% dos direitos econômicos de Éverton Cebolinha, o Fortaleza também está de olho na possível venda do atacante do Grêmio, apontado pela imprensa italiana como alvo do Napoli. Porém, a bolada que entraria nos cofres do Leão em uma eventual transferência poderia ser muito maior, não fosse uma antiga dívida do clube cearense.

Para entender com quanto o Fortaleza ficará caso Everton seja vendido, é preciso voltar alguns anos na história, quando Cebolinha, apesar de uma promessa, ainda não era titular do Grêmio, por volta de 2014. Nessa época, alguns conselheiros do Leão adquiriram cotas do passe do jogador, que hoje totalizam cerca de 3% - entre os 10% - dos direitos econômicos de Cebolinha.

Além disso, outra grande parte dos direitos de Everton pertence ao senador Luís Eduardo Girão, presidente do clube em 2017. Isso porque ele fez um empréstimo de cerca de R$ 6 milhões ao Fortaleza na época (inclusive ajudando no histórico acesso da Série C para a B) e, como garantia, acabou ficando com o restante do passe do jogador. Quem explica melhor é o presidente do Conselho Deliberativo do Leão, Demetrius Coelho Ribeiro, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Everton Cebolinha ainda na infância, com a camisa do Fortaleza - Arquivo pessoal/Everton Cebolinha - Arquivo pessoal/Everton Cebolinha
Imagem: Arquivo pessoal/Everton Cebolinha

"Antes do senador Luís Eduardo Girão ter aportado esse valor em benefício do Fortaleza, já haviam sido negociadas algumas cotas dos direitos econômicos do Everton com alguns conselheiros, mediante assinatura de contrato de mútuo. O Everton ainda era uma promessa no Grêmio, mas já havia despertado interesse e assim foram iniciados esses contratos de mútuo, com cotas pequenas, de 10 mil, 20 mil, ou quem tinha mais condição financeira, até 30 mil", conta.

"Quando o Eduardo foi presidente e aportou esse valor, nós aprovamos em uma Assembleia do Conselho que a garantia da devolução desse valor aportado seria a totalidade dos direitos econômicos do Everton, inclusive não limitado a 6 milhões, e sim ao valor total, porque na época ele ainda não era nem titular do Grêmio", acrescenta.

Com Everton ganhando cada vez mais seu espaço no Grêmio, os conselheiros do Fortaleza voltaram a se reunir para definir como ficariam os direitos econômicos do atacante.

"Depois, com a ascensão do Everton, começaram alguns questionamentos em relação a esses contratos de mútuo feitos anteriormente. Então fizemos uma nova assembleia e determinamos que os conselheiros que tivessem contrato e levassem ao jurídico do clube e fossem validados, teriam suas cotas garantidas. E o Eduardo ficaria com o restante. Então, alguns conselheiros têm direito a uma parte desses 10% [cerca de 3%], e o restante é do Luís Eduardo", completa.

Porém, Luís Eduardo Girão só deve fazer questão dos R$ 6 milhões emprestados em 2017, o que daria ao Fortaleza uma quantia considerável nos dias de hoje, ainda mais em tempos de crise por conta da pandemia do coronavírus.

Caso façamos uma simulação, por exemplo, com o valor apontado pelo jornal italiano Gazzetta Dello Sport, de 25 milhões de euros (pouco mais de R$ 156 milhões na cotação atual): dos R$ 15,6 milhões destinados ao Fortaleza, 3% ficariam com os sócios (quase R$ 470 mil) e R$ 6 milhões seriam devolvidos ao ex-presidente. Já o clube cearense receberia cerca de R$ 9,1 milhões.

Marcelo Paz, atual presidente do Fortaleza, faz questão de ressaltar a importância do aporte feito por Luís Eduardo Girão num período em que o clube convivia com salários atrasados e há anos tentava retornar à segunda divisão.

"A gente vai ter o prazer, se acontecer a venda, de pagá-lo, e ele disse que não quer nem um centavo de juros. Ele teria direito até ao valor total, e vai doar a diferença para o clube. Pediu que parte dessa diferença doada seja utilizada nas categorias de base. Então, pra gente vai ser um prazer, se ocorrer a venda, poder quitar essa dívida com quem fez tanto pelo clube no momento que o clube mais precisava".

Fortaleza também recebe por ser clube formador

Como um dos clubes formadores de Everton, o Fortaleza também terá direito a uma fatia do mecanismo de solidariedade da Fifa em caso de transferência. De acordo com Roberto Moreira, diretor de base do Leão, Cebolinha chegou em fevereiro de 2011 e saiu, com destino ao Grêmio, em setembro de 2013. Com isso, o clube do Nordeste seria compensado com mais aproximadamente 1% do valor total de uma eventual transferência.

Grêmio tem direito a 65% de Everton

Segundo adiantou o UOL Esporte ainda no início do ano, o Grêmio fez um acordo e aumentou o percentual a que terá direito em caso de transferência de Everton Cebolinha. Desde agosto, o clube possui aval para receber 65% dos milhões que forem pagos por qualquer clube no camisa 11.

O Grêmio, no contrato após renovação, tinha 50% dos direitos econômicos. Celso Rigo, investidor, 10%; Fortaleza outros 10% e outros 30% são de Gilmar Veloz, agente de Cebolinha até o ano passado.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do que foi informado anteriormente, 3% de R$ 15,6 milhões são quase R$ 470 mil, e não R$ 4,7 milhões. O erro foi corrigido.

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