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Aranha: 'A parte do xingamento, agressão, é a mais tranquila do racismo'

Goleiro Aranha comemora gol marcado pela Ponte Preta contra o Palmeiras em Campinas - Ale Cabral/AGIF
Goleiro Aranha comemora gol marcado pela Ponte Preta contra o Palmeiras em Campinas Imagem: Ale Cabral/AGIF

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/06/2020 22h28

O ex-goleiro Aranha, com passagens de sucesso por Ponte Preta e Santos, declarou que a parte mais difícil do racismo é invisível e que faz parte da essência do futebol brasileiro. O ex-jogador ainda afirmou que se manifestar contra o preconceito racial fez com que ele ganhasse um rótulo durante sua carreira.

"Mudou o posicionamento das pessoas. Principalmente dos negros, que passaram a se posicionar mais, a buscar seus direitos, a denunciar. Hoje em dia, o pessoal vai mais atrás. A parte do xingamento, da agressão, é a parte mais tranquila. O mais difícil é a parte que não dá para ver. A essência do futebol brasileiro é racista: os negros não podiam participar. E isso é recente - tem cem anos. E muitos dirigentes, que são netos dos primeiros dirigentes, ainda carregam algumas impressões antigas. O Barbosa sofreu com isso. Depois do gol que ele sofreu na copa de 1950, veio a frase de que goleiro negro não vinga. Comigo, eu ganhei o rótulo de ser um cara que reclamou do racismo, e que vai reclamar ou usar o racismo para se promover profissionalmente", declarou em entrevista ao Troca de Passes, do SporTV, hoje.

Aranha ainda contou que evita dar entrevistas a programas de TV por já ter sido acusado de usar o racismo para se promover profissionalmente.

"Eu evitei ao máximo participar de programas de TV porque sempre me perguntavam sobre o ato racista. E eu não queria responder. As pessoas diziam que eu usava o racismo para me promover. E as coisas acontecem muito rápido. Eu sofri racismo em 2014 e em 2016, estava desempregado. E eu tinha saído do Palmeiras, ainda poderia ser contratado por vários times", continuou.

O ex-jogador também falou sobre a cobrança por posicionamento de atletas negros. Na opinião de Aranha, a maioria desses atletas não consegue se posicionar de maneira adequada por falta de conhecimento da história do racismo no Brasil e de como ele ainda funciona hoje.

"Cobra-se muito o posicionamento do atleta negro do Brasil, mas como ele vai se posicionar se ele não sabe a história do povo negro no Brasil? Se ele não sabe a história da escravidão no Brasil? Se ele não sabe o que é racismo estrutural? Se ele não sabe debater o assunto? O máximo que ele vai fazer é uma postagem bonita nas redes sociais - e isso já ajuda muito", completou.