Portuguesa evita demissões e reforça elenco mesmo sem jogos e festa junina
No ano de seu centenário, a Portuguesa convive com dívidas trabalhistas na casa das centenas de milhões de reais, receitas bloqueadas, degradação de patrimônio e severas dificuldades financeiras. Para piorar, a pandemia do novo coronavírus paralisou o futebol, esfriou a economia e criou um cenário nebuloso para a sequência da temporada.
"Perdi todos os eventos até agosto. Inclusive, a festa junina, que é nossa maior receita do primeiro semestre", queixa-se o presidente Antonio Carlos Castanheira.
Mas o que poderia anunciar uma crise sem precedentes no Canindé virou motivo para exercitar a criatividade. E hoje o clube tem orgulho do que alcançou: não precisou demitir nem atrasar salários de funcionários em meio à paralisação, reajustou e renovou contratos de quase todo o elenco e ainda contratou três reforços para a retomada da Série A2 do Campeonato Paulista, ainda sem data.
Eleito, em dezembro, para presidir a Lusa por três anos, Castanheira diz que iniciou 2020 em busca de parceiros para a gestão financeira nos primeiros meses do ano: "Eu só queria manter a dignidade dos funcionários e contas básicas. Respirar. Temos um passivo gigante, mas ele só se paga com um projeto grande que vou tentar finalizar esse ano, que é o Canindé como uma arena multiuso."
"Como fazemos para honrar nossa dignidade num período de pandemia em que todos fecharam as portas e nós estamos fazendo o contrário? Nos preparamos. Não paramos um só segundo gerando receitas alternativas."
Jogo imaginário e drive-thru
Entre abril e maio, a Portuguesa contou com a mobilização da torcida em dois diferentes eventos que geraram receitas para o pagamento dos funcionários.
Mais de duas mil pessoas compraram ingressos virtuais para um jogo imaginário entre ídolos do clube e a Covid-19, representada em símbolos como "churrasco com os amigos" e "visitar familiares sem necessidade". O Canindé teve refletores acesos, equipe de transmissão, bandeiras das torcidas organizadas, mascote em campo, fotos de torcedores coladas nas arquibancadas e grande audiência nas redes sociais.
Outra iniciativa criativa foi a realização de uma venda de itens do clube, como a nova coleção de camisas, por retirada no Canindé - no sistema drive-thru. O clube contabilizou mil carros e esgotou rapidamente uniformes e máscaras, além de copos e outros itens. A venda de camisas pela internet e a reformulação do programa de sócios também auxiliaram nas contas. O próximo passo é a reinauguração da loja física.
"A utilidade prática dessas iniciativas criativas dos nossos departamentos de comunicação e marketing foi pagar a dignidade, arrecadar dinheiro para colocar o pão na mesa de nossos funcionários e jogadores. Não estamos fazendo nada mais do que isso. Como vou virar as costas para pessoas que há muitos anos conviviam com atrasos e não largaram o clube? Eu disse que não deixaria ninguém na mão e estou cumprindo", comemora o presidente.
Os acordos de patrocínio da Lusa estão suspensos, mas a expectativa é pela retomada em breve: "Se continuar tudo fechado a partir de agosto a coisa complica, mas já estamos voltando gradativamente. Agora é reativar dois patrocinadores importantes, espero ainda em junho, para seguirmos com fôlego no segundo semestre".
Castanheira observa "movimentação muito intensa pela volta", mas ainda sem data. Quando rolar, Anselmo (atacante, 39 anos, ex-Palmeiras), Diego Rosa (atacante, 31 anos, ex-Vasco) e Ícaro (zagueiro, 26 anos) já estarão à disposição do técnico Fernando Marchiori. "Qual clube vai contratar jogador sem campeonato? Nós. Se temos condições, competência e criatividade, é possível." Só festa junina que não vai rolar.
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