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Quem é o ex-Corinthians que é o maior goleador pós-pandemia ao lado de Lewa

Júnior Negão, centroavante do Ulsan Hyundai - Divulgação
Júnior Negão, centroavante do Ulsan Hyundai Imagem: Divulgação

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

21/06/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Júnior Negão é o maior goleador do futebol mundial pós-pandemia
  • Ele já soma nove gols em oito jogos e está ao lado de Lewandowski
  • Brasileiro de 33 anos defende o Ulsan Hyundai, time da Coreia do Sul
  • Centroavante chegou a defender o Corinthians no ano do rebaixamento

"Certamente é o meu melhor momento profissional". Júnior Negão, brasileiro de 33 anos, nunca esteve tão em alta em sua carreira como jogador de futebol. Atleta do Corinthians no ano em que o time foi rebaixado (2007), o atacante hoje brilha com a camisa do Ulsan Hyundai, time da elite da Coreia do Sul. São nove gols em oito jogos, números que fazem dele o maior goleador pós-pandemia em todo o mundo ao lado do inspiradíssimo Robert Lewandowski, do Bayern de Munique, que soma os mesmos nove tentos em oito partidas.

A Coreia do Sul foi o primeiro país a voltar a ter jogos no mundo depois da paralisação por conta do coronavírus. Júnior Negão retornou aos gramados no dia 9 de maio, e logo de cara já marcou dois na goleada sobre o Sangju Sagmu Phoenix. Depois disso, em seis confrontos, só passou em branco em um deles. Ontem (20), ele anotou mais um, dessa vez contra o FC Seoul, em triunfo por 2 a 0. Uma fase para ser celebrada e, no que depender dele, prolongada.


"Estou muito feliz por tudo que tem acontecido. Um início de temporada com muitos gols é o sonho de um atacante. A confiança aumenta, mas a responsabilidade em manter esse nível também. "Espero curtir e prolongar ao máximo esse período", diz o atacante em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. E ele garante: não tem nada dessa de torcer para o atacante do Bayern passar em branco: "Não seco o Lewandowski, creio que as coisas acontecem por merecimento. Se você se dedicar, acaba conseguindo o que deseja. Além disso, um atacante que faz tantos gols numa temporada não deve ser secado, mas observado, admirado, servir de inspiração".

Júnior Negão tem contrato com o time coreano até o final deste ano. Aos 33 anos, ainda sonha em retornar ao futebol do Brasil, onde não atua desde 2015, quando jogou a Série B pelo Oeste.

Júnior Negão, atacante do Oeste - Divulgação/Site oficial do Oeste - Divulgação/Site oficial do Oeste
Júnior Negão no Oeste, em sua última passagem pelo futebol brasileiro
Imagem: Divulgação/Site oficial do Oeste

"Não sei quando, nem em que clube, mas tenho sim a pretensão de voltar a jogar no Brasil. A atmosfera do futebol brasileiro é totalmente diferente, incomparável. Sinto que antes de parar eu preciso viver isso de novo. Deus sabe o que faz, uma boa oportunidade irá surgir no tempo certo", acrescenta o centroavante que no Brasil acumula passagens por América-MG, Figueirense e Guarani e, no exterior, já atuou por equipes de Portugal, Bélgica, Suíça e Tailândia.

O período 'assustador' pelo Corinthians

Natural de Salvador (BA), Júnior Negão começou a carreira no Nacional-AM. Foi lá que a sua ideia de virar advogado, assim como todos seus irmãos, caiu por água abaixo. A 'chavinha' virou na Copa São Paulo de 2006, com uma épica vitória, de virada, sobre o Atlético-MG, por 3 a 2. Curiosamente, o próximo clube na carreira do centroavante foi o próprio clube mineiro.

"Lembro que foi uma festa muito grande, realizamos um feito. Tivemos dificuldade para pagar as passagens, a hospedagem, as refeições e ainda assim eliminamos um gigante como o Atlético Mineiro. O Nacional buscou atletas de outros times de Manaus pra fortalecer o elenco antes do torneio. A repercussão foi grande, tanto que no ano seguinte eu fui contratado pelo Atlético, onde tive uma passagem de muito aprendizado, sem dúvida", recorda.

Com a proposta do Galo em mãos, Júnior Negão trancou a faculdade de direito e mergulhou de vez no futebol. Conquistou a Série B de 2006 e o Campeonato Mineiro de 2007 —em cima do Cruzeiro— e, depois disso, surgiu uma proposta para defender o Corinthians. Ele aceitou, e assim acabou fazendo parte do pior ano da história do Timão, o fatídico ano do rebaixamento.

"No futebol você vai do céu ao inferno muito rapidamente. Eu havia acabado de ser campeão da Série B e estadual, vivia uma fase especial. Cheguei ao Corinthians com bastante expectativa, um sonho realizado, mas infelizmente foi um período difícil e o time acabou sendo rebaixado. Ainda assim me sinto privilegiado por ter estado lá naquele momento, pois amadureci como profissional. Eu tinha apenas 20 anos, foi meio assustador, mas aprendi muito".

Júnior Negão jogou apenas uma partida pelo Corinthians, mas vivenciou momentos que, apesar de assustadores, serviram como enorme experiência para a sequência da carreira profissional.

"Joguei uma partida contra o Náutico no Pacaembu e perdemos por três a zero. Entrei no intervalo e eles já haviam marcado duas vezes, estava um caldeirão. Os piores momentos foram mais próximos do fim do campeonato. A Gaviões ia com frequência aos treinos conversar conosco, era tenso, de fato. As melhores lembranças são do início. Eu estava muito bem, outros jogadores também eram novos no clube, o ambiente era saudável", acrescenta.

Mensagem de força para o Brasil

Junior Negão exibe mensagem na camiseta após marcar pelo Ulsan Hyundai - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Ainda antes de disparar na artilharia do futebol pós-pandemia, Júnior Negão ganhou os noticiários brasileiro após enviar uma mensagem de força para o Brasil logo após marcar um dos gols no jogo de retomada do futebol coreano. Com familiares ligados à área da saúde, o atacante chegou a perder um amigo para o coronavírus.

"Eu cresci e vivi boa parte da minha vida em Manaus, cidade que infelizmente foi muito afetada pelo coronavírus. Em contato com meus familiares que moram lá, tomava conhecimento da gravidade da situação e do falecimento de pessoas próximas. Sabia que muita gente no Brasil veria um possível gol que eu marcasse, já que a K-League foi a primeira liga a retornar, então surgiu a ideia de mostrar aquela mensagem de apoio ao povo brasileiro que sofria e ainda sofre com esse problema", conta.

"No entanto, não podia imaginar que a repercussão fosse sequer próxima da que ocorreu. Fiquei feliz por conseguir atingir tantas pessoas que passavam por um momento tão delicado de suas vidas", completa.

Veja outros trechos da entrevista:

UOL Esporte: Como foi o ápice da pandemia por aí? A vida já voltou ao normal? Viveu alguma história tensa?

Júnior Negão: Foi bastante tenso, mas não paramos de treinar. Via a cidade bem deserta, a população ficou realmente amedrontada com a intensidade do problema. Provavelmente esse temor ajudou no controle da pandemia, pois as pessoas, por vontade própria, pararam de sair."

UOL Esporte: É verdade que você sequer pensava em ser jogador de futebol? Era pra ser advogado... Conta essa história... Quando foi que a 'chavinha' mudou?

Júnior Negão: É verdade. Não pensava muito em me tornar jogador profissional. Minha família inteira é ligada a área jurídica e eu cursei um ano e meio de faculdade de direito. Meu pai, embora fosse advogado, era um apaixonado por esportes. Pratiquei Jiu-jitsu em boa parte da minha infância, mas o futebol sempre prevaleceu. Somos oito irmãos, sete homens e uma mulher e mesmo quando ela não queria muito, jogava conosco, risos. Tentei conciliar os dois, futebol e faculdade, inclusive quando fui jogar a Copa São Paulo, mas na volta tomei a decisão de me dedicar à carreira de atleta. Meu pai se opôs um pouco, mas ele sabia da minha vontade. Além de respeitar, me incentivou muito. Levo os ensinamentos dele até hoje."

UOL Esporte: Dentre todos os países onde já jogou... Qual foi a história mais curiosa que você já viveu? O que mais te surpreendeu?

Júnior Negão: O que mais me surpreendeu e ainda surpreende é a culinária asiática. Há coisas aqui na Coreia que eu me pergunto: como alguém achou que seria legal comer isso (risos)? Mas o dia em que eu mais me assustei foi quando o garçom, do nada, pôs um polvo vivo dentro da panela com água fervendo e a fechou. O polvo lutava pra sair e o garçom fazendo força para mantê-lo lá dentro. Eu me perguntava se não havia outra forma de se fazer o prato, foi traumatizante... risos. Provei um pouquinho, mas não tinha mais estômago pra comer nada depois de ver aquilo.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do informado no resumo da notícia do texto e na Home do UOL, Júnior Negão tem a mesma marca de Lewandowski. O erro foi corrigido.