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Lateral Rafael projeta volta ao Botafogo em 2021: 'Quero me aposentar lá'

Alexandre Araújo e Bernardo Gentile

Do UOL, no RIo de Janeiro (RJ)

22/06/2020 04h00

Rafael é daqueles jogadores que criam raízes. Aos 29 anos, o lateral direito tem apenas dois clubes como profissional na carreira: nada menos que Manchester United, da Inglaterra, e Lyon, da França. E é justamente por conta dessas raízes que ele não esconde um desejo: se aposentar com a camisa do Botafogo.

Crias do Fluminense, Rafael e o irmão gêmeo Fábio nunca esconderam que o coração bate mais forte pelo Alvinegro, clube pelo qual deram os primeiros passos no futebol, ainda no salão, e foram campeões do Carioca mirim, em 2002. Destaques em um torneio disputado em 2005, em Hong Kong, embarcaram para a Inglaterra três anos depois, pouco antes de completarem a maioridade. O lateral-direito deixou o Red Devils apenas sete anos depois, rumo ao Lyon, onde está até hoje.

"Eu sou muito isso. Estou em um clube e vejo que as coisas não estão dando certo, eu não quero ir embora, quero é dar a volta por cima e fazer dar certo. Quero mostrar que posso e bem. No Manchester United foi diferente porque comecei muito bem, jogando. No Lyon comecei meio mal e até pensei em sair, mas eu queria jogar aqui. Consegui jogar bem e ficar todos esses anos", disse, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Rafael (dir) e Fábio (esq) foram revelados pelo Fluminense, mas nunca esconderam paixão pelo Botafogo - Reprodução Botafogo TV - Reprodução Botafogo TV
Rafael (dir) e Fábio (esq) foram revelados pelo Fluminense, mas nunca esconderam paixão pelo Botafogo
Imagem: Reprodução Botafogo TV

A identificação que criou nos clubes pelos quais passou até aqui, Rafael também quer ter em General Severiano e, mesmo ainda sem uma data planejada para o adeus aos gramados, projeta o "último ato" com a camisa alvinegra.

"Se eu estiver bem no Botafogo, vou querer me aposentar lá. Pode ter certeza que, a partir do momento que voltar ao Brasil, não vou querer voltar para a Europa. Isso eu garanto. Por isso que falo que quero pensar. Porque, a partir do momento que voltar, quero que seja definitivo. Encerrar no Botafogo é o meu pensamento".

Amor pelo Botafogo aumenta desejo de voltar

O que move Rafael da França ao Rio de Janeiro é a paixão. Torcedor do Botafogo, ele deixa explícito o desejo de realizar um sonho de infância e não teme fechar portas no mercado da bola por, como ele mesmo ressalta, estar sendo verdadeiro.

"Não tem porque eu mentir. Muita gente me critica por eu falar abertamente desse amor pelo Botafogo: 'Por que você faz isso? Você está fechando outras portas'. Cara, eu faço porque é o meu desejo. Se vou jogar no Botafogo, só Deus sabe. É meu desejo e do clube, que já entrou em contato comigo. É deixar acontecer. Se estou fechando porta, eu não sei. Meu desejo está sendo falado e não vou mentir sobre isso".

Contato com Botafogo ainda foi inicial

Logo que Rafael revelou a possibilidade de defender o Glorioso já na próxima temporada, a torcida alvinegra se animou e começou até mesmo a traçar planos. Porém, o jogador mantém cautela. Até o momento, os contatos da diretoria alvinegra foram apenas iniciais e ele ainda tem contrato vigente com o Lyon.

"Não tem nada avançado. Eles nem podem falar de contrato enquanto sou jogador do Lyon. É até proibido, acho. Não foi nada de falar de contrato. Perguntaram apenas minha situação no Lyon, quais eram meus desejos se as entrevistas que dei falando sobre voltar eram verdadeiras. Já conhecia algumas pessoas do Botafogo há quatro anos. Esse contato é muito legal".

Rafael, lateral do Lyon - Carlos Rodrigues/Getty Images - Carlos Rodrigues/Getty Images
Imagem: Carlos Rodrigues/Getty Images

Marcinho e Fernando são crias da base do Botafogo e têm o contrato terminando ao fim do ano, mas, com as negociações emperradas, muitos alvinegros já veem Rafael como solução. Porém, talvez, não seja bem por aí. Mesmo que as conversas caminhem para um final feliz, ele só chegaria no meio do ano que vem, quando acaba o vínculo com o clube francês.

"Essa é uma questão muito importante. Já vi o pessoal falando que não precisaria mais de lateral-direito porque em janeiro o Rafael está chegando. Se eu for mesmo para o Botafogo, que é meu desejo, só chegaria em junho. O Brasileiro começa antes disso. Até então, temos que ficar ligado nisso aí.

Atualmente, Fernando, que já esteve no Lille, da França, aparece na lista de interesse do Porto, de Portugal. Podendo assinar um pré-contrato a partir deste meio de ano, pode ser que não aconteça uma renovação com o Alvinegro.

Já Marcinho, recentemente, esteve na mira do Corinthians. O jogador, que se recupera de grave lesão no joelho direito, indicou valores fora da atual realidade do clube para prorrogar o contrato. A diretoria acredita que não seja da vontade do jogador permanecer em General Severiano e algumas atitudes do camisa 2, inclusive, causaram insatisfação na cúpula.

"Não viria para tirar dinheiro do Botafogo"

E por falar em realidade financeira, esse é um ponto bastante debatido quando clubes brasileiros repatriam jogadores da Europa, até pela diferença cambial entre o real e o euro. Rafael, porém, garante que nada que uma conversa não possa resolver. Mais que isso, o lateral-direito assegura que os anos em que atuou na Inglaterra e na França permitiram que tivesse um "pezinho de meia bom" e assegura que se pode chegar a uma "coisa que ficaria boa para as duas partes".

"Não seria fora da realidade do Botafogo. Para falar a verdade, não sei qual é a realidade de momento. Mas sentaria para conversar e acertaria para ficar bom para os dois. Estou há muito tempo na Europa e, graças a Deus, consegui fazer um pezinho de meia bom. Sabemos que o jogador aposenta cedo então temos que pensar nesse outro lado também. Pode ter certeza que não vou voltar para o Brasil para pegar o dinheiro do Botafogo todo. Nunca vou fazer isso. Mas é uma coisa que ficaria boa para as duas partes. Não sei qual é o teto salarial do clube, tem a questão do clube empresa. Enfim, temos que pensar em algo bom para os dois".

Irmãos Rafael e Fábio conversam com Nelson Mufarrej, presidente do Botafogo - Reprodução Botafogo TV - Reprodução Botafogo TV
Irmãos Rafael e Fábio conversam com Nelson Mufarrej, presidente do Botafogo
Imagem: Reprodução Botafogo TV

Fábio quer vir também, mas não deve ser em 2021

Os gêmeos Rafael e Fábio não têm em comum apenas a fisionomia e as passagens por Fluminense e Manchester United. O lateral-esquerdo também é torcedor do Botafogo e sonha em, um dia, defender o Alvinegro. A situação dele, porém, é diferente. Ele, que atualmente está no Nantes, da França, sofreu uma grave lesão no joelho esquerdo na reta final do ano passado e, recuperado, há uma tendência de que o contrato seja renovado.

"Ele também tem o desejo de voltar ao Botafogo. Não sei se já em 2021. Ele teve uma lesão grave e perdeu a temporada toda. Foi bem grave, a mesma do Ronaldo na Inter de Milão. Ele já está bem, tá até perdendo de pouco no futevôlei [risos]. Ele quer ver como vai voltar e devem propor uma renovação aqui, pois dão muito valor quando um jogador se machuca com a camisa do clube. Ele vinha bem e deve renovar".

Conexão forte com irmão

A ligação entre os irmãos, por sinal, é bem forte e até bem pouco tempo, moravam juntos. Por essas coincidências do destino e do mundo da bola, depois da passagem pelo Tricolor carioca, foram juntos para o Manchester e hoje ambos atuam no futebol francês.

Gêmeos Fabio e Rafael foram aposta de Ferguson para o Manchester garimpados na base do Fluminense - AFP/PAUL ELLIS - AFP/PAUL ELLIS
Gêmeos Fabio e Rafael foram aposta de Ferguson para o Manchester garimpados na base do Fluminense
Imagem: AFP/PAUL ELLIS

Eles estiveram separados por cerca de cinco anos. Entre as temporadas de 2013/2014 e 2015/2016, Fábio defendeu o Cardiff City, do País de Gales. Quando retornou à Inglaterra, Rafael já havia se transferido para o Lyon. O reencontro aconteceu em 2018. Atualmente, eles não moram mais na mesma casa, mas foi assim durante muitos anos, o que faz Rafael até fazer comparações com "A Grande Família", antigo seriado da TV Globo.

"Morávamos juntos no Brasil, moramos juntos em Manchester... Para onde a gente vai estamos morando juntos. No começo, em Manchester, era família da esposa dele, família da minha esposa, família do irmão mais velho, meus pais... Pô, era muita gente [risos]. Era gostoso, mas também dava muita briga. Tipo "A Grande Família". Meu irmão mais velho é o Augustinho [risos]. Aí tivemos filhos e fomos mudando isso. Mora perto, mas não na mesma casa. No Brasil a gente ainda mora junto numa casa que é bem grande, cada um tem seu espaço e não dá briga"

Ao lembrar os passos que deram lado a lado, Rafael pontua ainda a chance de voltarem juntos ao Brasil, mas ressalta que isso depende das oportunidades.

"É engraçado, muita gente me fala isso. Na Inglaterra ele ficou dois anos a mais que eu, mas logo depois também veio para a França. Então, é engraçado e até brinco com ele que vim antes para verem que eu jogava bem e, depois, trouxeram ele [risos]. A gente tem uma boa sintonia e ajuda muito. E ainda tem isso de voltar ao Brasil junto. Esse é o nosso desejo, mas vamos ver as oportunidades".

Filho de caseiros, aproveitava sítio na ausência dos patrões

E se os anos de Europa deram a Rafael e Fábio uma situação financeira agradável, nem sempre foi assim. Filhos de caseiros de um sítio em Petrópolis, Região Serrana do Rio, a infância deles, segundo o próprio lateral-direito, "não foi das mais fáceis", mas marca que havia família em situação mais humilde.

"Foi infância difícil? Foi, mas não foi das mais difíceis, não. No Brasil tinha gente em situação bem pior. Meu pai e minha mãe eram caseiros e tinham que trabalhar muito para nos sustentar. Morava em um sítio e, quando os patrões não estavam em casa, tinha uma piscininha para eu pular. Tinha um campinho para jogar nossa bola. Acordava 5h30 da manhã para ir pra escola, outros nem essa oportunidade tinham".

Irmãos Fábio e Rafael, do Manchester United, comparecem a jantar do Unicef promovido pelo clube em Manchester (12/12/2011) - Paul Ellis/AFP - Paul Ellis/AFP
Imagem: Paul Ellis/AFP

A "piscininha para pular" e o "campinho para jogar" eram os locais de diversão dos pequenos irmãos, que aproveitavam o sítio na ausência dos patrões dos pais.

"Claro, hoje com certeza eles já sabem disso, mas na época era o maior segredo [risos]. Com certeza eles desconfiavam, mas acho que não se importavam, não. Em Petrópolis tem muito isso, né? Famílias que têm um sítio, mas que só vão no fim de semana. Meus pais eram caseiros e a genteaproveitava um pouco. Na casa deles, não, mas na parte externa a genteaproveitava".

"Lado bom" da paralisação: não ver mais o Fla vencer

Com bom humor, o "botafoguense chato" Rafael viu um lado bom na paralisação do futebol: pausa na boa fase pela qual o Flamengo passa. Sem os triunfos do time rubro-negro, ele também deixou momentaneamente de ser alvo das brincadeiras dos amigos que torcem para o time da Gávea.

O jogador coloca o Rubro-Negro e o Palmeiras como atuais times a serem batidos no Brasil, mas lembra o exemplo do Leicester, campeão Inglês na temporada 2015-2016, para salientar que se pode formar uma equipe competitiva sem grande poder financeiro.

"Única coisa boa foi não ter mais futebol. Flamengo estava ganhando tudo, não aguentava mais ver eles ganhando. Deu para todo mundo respirar um pouquinho e agora vamos voltar com outra coisa. Torcer para mudar tudo. Eu sou um botafoguense chato e sacaneio todo mundo. Então você imagina o que não estou sofrendo com meus amigos [risos]. Quando eles estavam mal eu zoava para caramba, então agora é o troco deles. Se for para o Botafogo, vou para disputar com tudo que é time. Flamengo é o time a ser batido. Palmeiras também. Mas futebol é dentro de campo. O Leicester é um bom exemplo em termos de estrutura. Não tem a grana dos demais, mas fez um bom time e foi campeão. Nem sempre o que é caro é bom. Tem muito bom jogador barato".

Mágoa com 'adeus' à seleção após Olimpíada

Rafael protege a bola de Marco Fabián na final masculina de futebol da Olimpíada de 2012, em Londres, entre Brasil e México - Jamie McDonald - FIFA/FIFA via Getty Images - Jamie McDonald - FIFA/FIFA via Getty Images
Rafael protege a bola de Marco Fabián na final masculina de futebol da Olimpíada de 2012, contra o México
Imagem: Jamie McDonald - FIFA/FIFA via Getty Images

O sorriso fácil e o tom leve de Rafael, porém, escondem uma mágoa. Medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres, Inglaterra, em 2012, ele demonstra não compreender as críticas que recebeu pela atuação na competição e, principalmente, o motivo de não ter sido mais lembrado para vestir a amarelinha.

"É uma das maiores tristezas que eu tenho. Não fui mais para a seleção por causa das Olimpíadas. Isso é uma tristeza, porque eu sou medalhista olímpico, ganhamos a prata. Falaram que joguei mal demais. Eu fiz o primeiro gol da competição, fomos para a final, ganhamos todos os jogos. Joguei mal demais? Cara, nunca vi isso na minha vida. Dei mole no primeiro gol e nunca mais voltei. Fui um dos melhores laterais da Premiere League, com 15 pontos na frente do segundo colocado. Depois não fui convocado mais nenhuma vez, certamente por causa da Olimpíada. Brasil entra para ser campeão, mas ficamos em segundo, poxa. Depois de tudo isso, eu tenho amor pela seleção, pelo meu país, mas fiquei meio frustrado. Claro que gostaria de voltar à seleção, é o sonho de qualquer jogador".

Ferguson é "um pai no futebol"

Alex Ferguson cumprimenta Rafael após vitória do Manchester United sobre o City em 2011 - John Peters/Manchester United via Getty Images - John Peters/Manchester United via Getty Images
Imagem: John Peters/Manchester United via Getty Images

Rafael e Fábio chegaram ao Manchester United em 2008, ainda jovens, prestes a completarem 18 anos. À época, o lendário técnico Alex Ferguson era o comandante do time e um laço de afeto foi criado entre ele e o lateral-direito.

Ferguson chegou aos Red Devils em 1986 e se despediu em 2013, quando também deu adeus ao futebol. Com diversos títulos no currículo - foi o primeiro treinador de uma equipe inglesa a conquistar a tríplice coroa -, é considerado como um dos grandes treinadores da história do United e do futebol inglês.

"Trabalhar com ele foi fenomenal, um pai para mim no futebol. É uma lenda, fez o Manchester United chegar onde chegou. Será eterno. Eu tinha um relacionamento muito bom com ele. Fui lá dois anos atrás e ele mereceu muito bem. Fui ver um jogo e ele me convidou para o camarote dele, bebemos um vinho. Ele é uma pessoa sensacional e me ajudou muito".

Juninho Pernambucano teve ano de aprendizado no Lyon

Sylvinho e Juninho Pernambucano são apresentados no Lyon - Divulgação - Divulgação
Sylvinho e Juninho Pernambucano são apresentados no Lyon
Imagem: Divulgação

No Lyon, Rafael tem a oportunidade de trabalhar ao lado de Juninho Pernambucano, ídolo do Vasco e do próprio clube francês, onde fez história como jogador. Ele, atualmente, é diretor de futebol. O lateral-direito salienta a diferença no poderio financeiro em relação ao PSG, que conta, por exemplo, com Neymar, mas acredita no sucesso do "Reizinho".

"Projeto do Juninho é legal. Espero que ele consiga realizar o sonho dele, que é ganhar títulos pelo Lyon. Não vai ser fácil pelo poder financeiro e técnico do PSG. Mas é o que digo. Se as pessoas fizerem tudo certinho, um bom trabalho, não tem dinheiro, nem nada que possa atrapalhar. Ele teve o primeiro ano de aprendizado e, se mantiver a pegada, tem tudo para dar certo".

"Bruno Guimarães é fenômeno"

Uma das recentes revelações do futebol brasileiro, Bruno Guimarães foi anunciado em janeiro pelo Lyon, após uma negociação com o Athletico-PR que envolveu 20 milhões de euros, cerca de R$ 93 milhões, segundo cotação da época.

Bruno Guimarães durante partida do Lyon contra a Juventus pela Liga dos Campeões - Erwin Spek/Soccrates/Getty Images - Erwin Spek/Soccrates/Getty Images
Bruno Guimarães durante partida do Lyon contra a Juventus pela Liga dos Campeões
Imagem: Erwin Spek/Soccrates/Getty Images

Nos últimos anos, o volante se destacou não apenas com a camisa do Furacão, mas também com a da seleção de base, tendo participado, por exemplo, do pré-olímpico que aconteceu no início da temporada.

"Esse aí é um fenômeno. Gente boa demais e joga muita bola. Chegou para ficar na seleção brasileira, com toda certeza. Dedicado, quer muito vencer na carreira. Tem tudo para ser um dos grandes do nosso país e fazer vida longa com a camisa amarela".

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