Executivo que brigou com Itair Machado recebeu R$ 817 mil do Cruzeiro
Resumo da notícia
- Divino Alves de Lima esteve por três meses no Cruzeiro durante a gestão de Wagner Pires
- Ele deixou o cargo após se irritar com as irregularidades cometidas pelo então executivo de futebol Itair Machado
- O ex-dirigente tinha remuneração de R$ 49 mil mensais e recebeu uma rescisão que contempla seis salários - R$ 294 mil
- Dois meses depois da saída, prestou novos serviços e faturou mais R$ 376.724,00 como comissão
- Divino Lima firmou três contratos com o Cruzeiro no período. Ao todo, recebeu R$ 817.724,00
Divino Alves de Lima esteve por três meses no Cruzeiro durante a gestão de Wagner Pires de Sá como vice-presidente executivo financeiro — ele deixou o cargo, em março de 2018, após se irritar com as irregularidades cometidas pelo então executivo de futebol Itair Machado. No período em que ficou no clube, tinha remunerações de R$ 49 mil mensais e recebeu uma rescisão que contempla seis salários — R$ 294 mil. Dois meses depois da saída, prestou novos serviços e faturou mais R$ 376.724,00 como comissão.
Divino Lima firmou três contratos com o Cruzeiro no período. Ao todo, recebeu R$ 817.724,00. Os valores foram diluídos nos contratos firmados por meio de sua empresa, a Dynamis Consultorias e Intermediações Ltda.
Ex-executivo do Banco BMG, o profissional de 63 anos, que tem 38 anos de mercado financeiro, explica os processos de entrada e saída da Toca da Raposa II.
"Teve a eleição no Cruzeiro, e algumas pessoas sugeriram o meu nome para o Wagner [Pires de Sá, ex-presidente]. Nunca passou pela minha cabeça trabalhar com financeiro de futebol. Mas eu disse que viria e exigia as seguintes condições: queria ganhar o que ganhava no BMG, mesmo no PJ. Eu criei a Dynamis para trabalhar pelo Cruzeiro, essa empresa não existia antes. Começamos a trabalhar. Eu saí de lá e fui para o Cruzeiro. Eu imaginei que seria fácil de tocar. Coloquei algumas condições para o Wagner, queria autonomia total na minha área", disse Divino Lima ao UOL Esporte.
"Quando chegou lá dentro, aquilo que tinha combinado com o Wagner, que me deu a palavra dele que eu teria autonomia total, começou a ter problemas. Isso é público. Eu tenho uma carta aqui, que não mandei para vazar, mas acabou vazando à imprensa. Eu saí com três meses e meio. Agora, pense bem. Eu deixei um banco depois de dez anos, bem remunerado, com um cargo bom, de respeitabilidade, e vou para o Cruzeiro para mexer também com o meu clube de coração. Eu fui para lá e algumas práticas não estavam ocorrendo bem, porque eu sou cartesiano, não flexibilizo com a verdade e a honestidade. Nós começamos a ter problema. Chegava coisa errada para pagar e eu não pagava. E todo dia tinha briga com o Itair [Machado, então vice-presidente de futebol]. Todo mundo é prova disso lá. Teve um dia que eu quase fui às vias de fato com ele lá, que eu disse que o jogaria do sétimo andar", acrescentou.
Frustrado com a passagem pelo clube, pediu ao então mandatário que fossem pagos 12 salários para deixar o cargo e se recolocar no mercado de trabalho. No entanto, acertou o recebimento de seis meses de vencimentos.
"Foi muito frustrante para mim, porque tinha outro projeto no Cruzeiro. Eu fui lá embaixo, coloquei minha carta de demissão para o Wagner e disse: 'você vai escolher, vai ficar comigo ou com o Itair?'. Eu disse que, com o Itair, eu não trabalharia não. Eu falei com ele: 'Wagner, você está com dificuldade de decidir, então eu vou decidir para você. Assine a minha saída'. Ele assinou, e pense. Eu saí de um banco, depois de dez anos de banco, fiquei lá por três meses e meio. A média que fiquei nos bancos em minha carreira era de seis anos. Eu tomei um susto, foi muito imediato. Eu propus que eles me pagassem por um ano de trabalho. Ele disse que acharia justo. Eu tenho esse documento que explica a minha saída e que me remunera mensalmente por no mínimo um ano. Aí é para justificar porque eu continuei recebendo do Cruzeiro", comentou Divino.
Informado pela reportagem que recebeu seis meses de salários pela rescisão em vez de doze, conforme solicitado, Divino Lima corrigiu: "Eu nem lembrava, eu pedi um ano [de salários após a demissão], e ele [Wagner Pires de Sá] me deu seis meses. Eu deveria ter olhado antes de conversar contigo, mas o que está aí é o que está válido".
Depois de trabalhar por três meses e meio, portanto, ele recebeu o equivalente a nove meses de salários. Ao todo, foram embolsados R$ 441 mil por Divino Lima.
A sua saída, ocorrida por causa da briga com Itair Machado, foi explicada por meio de carta ao Conselho Deliberativo da seguinte forma:
"Caros companheiros de jornada, estou enviando esta mensagem para agradecer a todos pela forma cortês e carinhosa com que fui recebido no Maior Time de Minas. Desligo-me hoje do CEC com a frustração de não ter podido contribuir mais com a recuperação do nosso quase centenário clube. Não tive a habilidade necessária para conviver com o contraditório, pelo meu excesso de transparência, contundência e retidão! Procurei fazer sempre o que era melhor para o CEC, tenho a consciência tranquila com relação a isto! Peço a Deus que proteja a todos e que encha nosso time do coração com conquistas e glórias! Peço desculpas se em algum momento não consegui retribuir a vocês as gentilezas e o carinho que me distinguiram. Cuidem bem do nosso Cruzeiro, pois ele é maior que todos nós juntos!", escreveu.
Serviço após demissão
Dois meses mais tarde, o pedido de demissão já era passado. No entanto, Divino Lima foi novamente acionado para prestar um serviço à diretoria por meio de sua empresa, a Dynamis Consultorias. Foi ele quem acertou a antecipação de receitas de transmissão devidas pela TV Globo ao Cruzeiro. O acordo foi feito por meio do fundo de investimentos Polo Capital Management e previa comissão de 1% sobre o valor líquido ao ex-dirigente. Pelo negócio, a Dynamis Consultorias recebeu o valor líquido de R$ 376,7 mil do clube.
A antecipação de receitas com transmissões realizada pelo Cruzeiro resultou em uma receita 39% inferior àquela originalmente prevista. Além disso, dos R$ 70,357 milhões previstos de que o Cruzeiro abriu mão com a operação, R$ 37,437 milhões referem-se a receitas com vencimentos após 31 de dezembro de 2020, quando se encerraria o mandato de Wagner Pires de Sá inicialmente. O fato é classificado pela Lei do ProFut como ato de gestão temerária, passível inclusive de punição pessoal aos dirigentes.
Procurado para explicar a situação, Divino Lima informou: "Passaram-se uns dois meses, eu sou muito ruim de data, e ele me chamou de novo dizendo que o Cruzeiro estava ruim de grana. Ele pediu para eu tentar uma operação. E vou falar uma coisa, eu acho que o Wagner [Pires de Sá] foi usado, ele é um cara muito simples. Para mim, ele foi usado por um bandido, porque do outro lado tem bandido. Ele é um cara simples. Eu comecei a trabalhar em outro cargo, eu faço negócios. Se você tem uma demanda, eu tento encontrar quem possa suprir essa demanda. Eu vou atrás de ativos no mercado financeiro. Como eu tenho 63 anos e tenho muita credibilidade, eu falei que buscaria a operação. Eu tentei em dois fundos de investimento e não consegui. Eu cheguei ao fundo Polo Investimento. Eles começaram a analisar a operação".
"Ele me disse que pagaria 2% da operação. Isso é usual no mercado, comum no mercado. Fizemos um contrato em que ele se compromete a pagar 2% em 'success fee' [geralmente é usado no mercado como uma bonificação para clientes que consigam cumprir seus objetivos ao contratar um serviço]. O fundo não remunera. Eu saí da operação e deixei as duas pontas negociando. Eu tinha contrato firmado com o Cruzeiro. O fundo soltou a operação em três valores mensais. Eu recebi em três valores, a última com muito atraso, mas o que é irrelevante, porque o Wagner foi muito correto comigo", concluiu.
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