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"Meu sonho é jogar o Brasileirão", diz destaque do Pré-Olímpico e do Alemão

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

05/07/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Matheus Cunha é apontado como o 'futuro 9' da seleção brasileira
  • Atacante de 21 anos joga no Hertha e é destaque na Bundesliga
  • Jogador fez a base no Coritiba e foi bem cedo para a Europa
  • Matheus já foi indicado ao Puskas e brilhou no Pré-Olímpico

Matheus Cunha disputa a Bundesliga há dois anos, já jogou Liga dos Campeões, foi indicado ao Prêmio Puskas de 2019 e brilhou com a camisa da seleção no Pré-Olímpico deste ano, competição garantiu ao futebol do Brasil uma vaga nas próximas Olimpíadas. Mas sabe qual é um dos maiores sonhos do atacante de apenas 21 anos que vem sendo apontado como 'futuro 9 da seleção'? Jogar o Campeonato Brasileiro.

Pode soar curioso, mas a vontade de Matheus faz todo sentido. Imagina só você jogar a base inteira pelo Coritiba sonhando com o dia em que enfrentaria o Athletico Paranaense com o Couto Pereira lotado... Mas isso não foi possível. Quis o destino que sua carreira profissional tivesse início apenas na Europa, mais especificamente na Suíça, onde ficou um ano antes de acertar com o RB Leipzig, um dos times mais poderosos do futebol alemão na atualidade. Hoje, o jovem atacante defende as cores do Hertha Berlin.

"Eu falo pra todo mundo que o meu sonho é jogar o Brasileirão também. Dentre outros sonhos, jogar o Brasileirão é um deles. Você passa a tua categoria de base toda treinando num clube do Brasil, eu, no Coritiba, vendo o Couto Pereira lotado, vendo jogo do Brasileirão, e você queria estar vivendo aquele momento, sem dúvida alguma", diz o sempre sorridente Matheus em entrevista exclusiva ao UOL Esporte - que pode ser conferida na íntegra no vídeo acima.

Brasileiro Matheus Cunha, então jogador do Sion, da Suíça, conversa com a mãe, a irmã e a namorada após a partida - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Matheus Cunha conversa com a mãe, a irmã e a namorada após jogo pelo Sion, da Suíça
Imagem: Arquivo pessoal

O plano inicial de Matheus, assim como quase todo jogador que faz a base no Brasil, era subir para o profissional ainda por aqui e só depois de um tempo pensar em Europa. Mas uma proposta da Suíça fez ele pensar bem sobre o assunto; e depois de algumas buscas no Google sobre o que deveria encontrar pela frente, resolveu arriscar.

"Meu sonho era começar a jogar no Coritiba e depois vir pra Europa, que eu acredito ser o sonho de muitos brasileiros, e o meu não era diferente. Sou grato pela forma que aconteceu. O Coritiba me abriu as portas", lembra.

"Eu queria ir pra Suíça por ser Europa. Eu não tinha conhecimento nenhum. Eu lembro que momentos antes de fechar a compra, eu entrava no Google e procurava os jogadores do time porque não acompanhava muito o Sion. Foi mais aquela coisa de o menino querer ir pra Europa", conta.

"O dia mais feliz da minha vida"

Brasileiro Matheus Cunha comemora gol na vitória do Hertha Berlin sobre o Union Berlin - Stuart Franklin/Getty Images - Stuart Franklin/Getty Images
Imagem: Stuart Franklin/Getty Images

Sabe todos esses momentos da carreira de Matheus Cunha citados logo no começo da matéria? Foram importantes, sem dúvida, mas nenhum deles se compara ao que aconteceu com ele no dia 22 de maio deste ano. Ou seria 23? Aqui cabe uma explicação. Seu time, o Hertha Berlin, entraria em campo diante do Union Berlin no segundo jogo do Campeonato Alemão depois da volta do futebol alemão pós-pandemia. Mas por um motivo mais do que especial, nem ele mesmo sabia se conseguiria estar ou não em campo: sua mulher estava prestes a parir.

Desde o começo do dia, Matheus Cunha precisou conviver com a ansiedade pelo nascimento do primeiro filho e a incerteza se estaria ou não em campo. Resultado: o bebê esperou, ele marcou um golaço na goleada por 4 a 0 e do estádio saiu correndo para, já no dia seguinte, 23, acompanhar o parto. Quer uma sequência de momentos melhor que essa?

"Acho que foi o melhor dia da minha vida, sem dúvida alguma. Logo depois que acabou o jogo, eu cheguei no hospital e fiquei naquela tensão de 'é agora', depois de ter feito o trabalho dentro de campo, estar tudo tranquilo, e, poxa, chegar no hospital e esperar que dê tudo certo. Fiquei muito grato a Deus por ter dado tudo certo. Acho que o dia 23 é o mais importante da minha vida", sorri Matheus, para depois 'corrigir a data': "Junta os dois. Esse 22 e meio está perfeito".

Já deixei avisado pra todo mundo: se acontecer qualquer coisa, me manda mensagem, alguém me avisa até no campo"

Foi do brasileiro o gol mais bonito da partida, o terceiro do Hertha. Mas ele quase não existiu... "Havia muita dúvida [se jogaria]. Ela [mulher] já estava sem saber se ia para o hospital, se não ia, se segurava ou se não se segurava. A gente treina de manhã, fica concentrado, vai para o hotel e, depois, para o jogo. Quando a gente foi para o campo de manhã, eu já falei: 'Olha, pode ser que seja hoje e eu já tô meio que preparado. Eu não sei se eu vou conseguir ir para o jogo, mas até então eu estou pronto'. Fui a todo o momento olhando celular: 'Caramba, é agora, não é agora'. Entrei no jogo, soube que ela já estava no hospital desde o meio-dia. Já deixei avisado pra todo mundo, pelo amor de Deus, mandei o número de todo mundo do clube. Se acontecer qualquer coisa manda mensagem, alguém me avisa até no campo e eu vou embora. Graças a Deus deu tudo certo, mas foi um momento de muita tensão".

Gol Puskas ou decisivo contra a Argentina?

No ano passado, Matheus Cunha foi inicialmente apresentado ao torcedor brasileiro ao ser indicado para o cobiçado Prêmio Puskas por uma pintura pelo RB Leipzig feita contra o Bayer Leverkusen, pelo Campeonato Alemão (veja acima). Até então, era o gol que ele considerava o mais importante de sua carreira até então. Mas aí veio uma Argentina pelo caminho, em um jogo mais do que decisivo, e a sua opinião mudou.

Pré-Olímpico: Matheus Cunha comemora seu gol na partida do Brasil contra a Argentina - REUTERS/Luisa Gonzalez - REUTERS/Luisa Gonzalez
Imagem: REUTERS/Luisa Gonzalez

"Vou te contar: me falam do gol do Puskas, mas não tem, não. Pra mim, de coração, o gol que eu mais gosto é contra a Argentina, naquele Pré-Olímpico", afirma. "É diferente. O pré-jogo é muito diferente. Você começa a imaginar tantos Brasil x Argentina que já tiveram, tantos craques que já jogaram, tanto peso na camisa amarela, na azul e branca. Quando chega no jogo, que você vê: 'Pô, é Brasil x Argentina'. Pode ser futebol de botão ou profissional que é Brasil x Argentina. A gente de maneira alguma quer perder pra eles e eles pra gente. No Pré-Olímpico, o lado amarelo foi melhor", comemora Matheus.

O atacante não nega, porém, que, levando em conta só a beleza dos lances, o gol Puskas leva mesmo a melhor. "Foi o gol mais bonito da minha carreira. Puskas são gols que você olha assim e fala: 'Meu Deus'. Nunca imagina que o seu vai estar lá", diz o brasileiro, que acabou ficando fora da final do prêmio - o húngaro Dániel Zsóri foi o vencedor com um golaço de bicicleta.

Me falam do gol Puskas, mas, de coração, o gol que eu mais gosto é contra a Argentina"

"Eu sempre sonhei em ver o meu nome em premiações mais importantes do futebol mundial. Quando eu vi, eu não acreditei, na verdade. 'Meu Deus do céu, caramba. Meu nome tá no Puskas'. O Leipzig fez documentários: 'Caramba, o Matheus tá no Puskas'. O Brasil começou a me conhecer um pouquinho mais. Foi dali que começaram as coisas, mas, sem dúvida, o Pré-Olímpico deu uma visibilidade ainda maior e acredito que foi o momento em que mais me conheceram, apesar de o ponto de partida ser o Puskas", opina.

Ganhar é bom, mas ganhar da Argentina...

Matheus Cunha comemora segundo gol do Brasil contra a Argentina - LUISA GONZALEZ/REUTERS - LUISA GONZALEZ/REUTERS
Imagem: LUISA GONZALEZ/REUTERS

A clássica frase de Galvão Bueno pôde ser vivenciada por Matheus Cunha no começo deste ano, e em um momento em que a crise poderia se instalar na seleção olímpica. Afinal, um tropeço diante dos hermanos poderia custar a vaga nas Olimpíadas do Japão. Mas tudo deu certo tanto para o Brasil como para o atacante, que marcou dois na vitória por 3 a 0, um deles depois de chapelar o goleiro argentino. Quer melhor apresentação que essa?

"O Pré-Olímpico, pra mim, foi uma das minhas realizações. Eu tinha disputado o Torneio de Toulon, mas nunca tinha disputado um torneio pela seleção brasileira, vamos falar a segunda seleção, porque é logo após a primeira. E no momento, acredito que era pausa do Brasileiro, um período de férias, e estava todo mundo parado acompanhando o Pré-Olímpico. Então foi muito gratificante pela visibilidade que deu, e por estar jogando um campeonato daquele tamanho pela seleção brasileira. É um momento diferente. Eu sempre falo que o maior orgulho da minha carreira é estar jogando com a camisa da seleção. Quero aproveitar o máximo de tempo que eu tiver. E jogar aquele campeonato, da forma como acabou, quer queira, quer não, com o objetivo cumprido, foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha carreira", completa.

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Ida do 'ex-concorrente' Timo Werner para o Chelsea

Foi uma das coisas que mais me falaram que a minha contratação foi pra quando o Werner fosse embora, mas o Werner já tava pra ir embora há 10 anos [risos]. Ele já jogou 12 anos lá e tava dez anos pra ir embora. É muito bom jogador também e desejo o melhor pra ele, agora, mas arrependimento nenhum. Foi muito bom o momento que eu passei no Leipzig, até porque teve que mudar treinador, mudou diretor e eu também acho que isso pesou um pouco na minha decisão. O treinador que me comprou, eu tava jogando muito, fiz 10 gols na minha primeira temporada. Por mais que eu tivesse no banco, eu tava tendo os minutos, tava crescendo, tava melhorando. Eu estava muito feliz no momento. Foi, sem sombra de dúvidas, a decisão certa.

Volta do futebol na Alemanha

É difícil falar 100% seguro, por quê? Com toda situação que tava no mundo, você fica sempre com um pé atrás. Porém, eles passaram toda confiança possível pra que a gente se sentisse seguro. Há mais ou menos um mês, a gente tava fazendo muitos testes, acho que uma vez por semana. No período que antecedeu ao jogo, a semana anterior, a gente tava todo mundo concentrado. Então, por saber que todos os times estavam concentrados, por saber que a gente está sempre fazendo teste, e entrar em campo sabendo que tanto o seu time quanto o adversário está sem o vírus, sem dúvida alguma, passa uma tranquilidade muito grande.

Como é não abraçar companheiro após o gol? "Impossível"

Matheus Cunha e Ronaldinho Gaúcho - Arquivo pessoal/Matheus Cunha - Arquivo pessoal/Matheus Cunha
Imagem: Arquivo pessoal/Matheus Cunha

Impossível. É literalmente impossível. Por quê? Se eu faço uma falta no meu companheiro, eu estendo a mão pra levantá-lo. Então, eu digo: "Pô, por que se eu fiz com o meu companheiro eu não posso comemorar com o meu time?". Além de ter tantas ocasiões pelo futebol ser um esporte de contato, você sempre tem uma ocasião dentro da área, aquele empurra-empurra, então, é uma situação dentro de campo que você esquece totalmente, tenta ao máximo se prevenir. Às vezes bate alguma coisa pra lembrar, mas, na hora do gol, é muita emoção misturada. Por mais que a gente tente se lembrar, às vezes o jogo está muito pegado e você acaba entrando naquele clima de jogo e esquecendo um pouco.

Começo da carreira: "meu avô emprestava dinheiro"

É uma história legal. Sem dúvida alguma tem suas dificuldades, os seus percalços porque era muito complicado, até porque eu muito pequeno já ia jogar em Recife, e eu sou de João Pessoa. São situações que eu lembro com muito gosto de saber que sempre que eu tinha momento de treino, essas coisas, que eu tinha que ir e, muitas vezes, não tinha como, sempre teve colegas meus que jogavam no mesmo clube e eram da minha cidade que me davam carona. O meu avô me emprestava dinheiro pra eu pegar... não sei se você conhece, alternativo. Tem ônibus que fazem as cidades e esses carros, por ser muito próximo João Pessoa e Recife, eles passam o dia todo fazendo e mais barato do que ônibus. Então, às vezes pelo preço da passagem a gente conseguia ir e voltar. Já deixava avisado: "Olha, eu saio amanhã a tal hora. Espero onde?". "Na Caxangá". É um lugar onde os ônibus paravam. Eu acredito, sem dúvida alguma, esse foi o momento da minha carreira que foi de mais sacrifício pros meus pais, de mais dificuldade pra mim, mas é o que eu lembro com mais alegria porque por ser jovem também era uma diversão ter que pegar carro, ir treinar, voltar e depois estudar, que sempre foi muito cobrado por isso. Eram momentos de muita dificuldade. Eu passei uns três anos fazendo isso, que eu jogava no CT Barão de Recife e morava em João Pessoa. Se eu não me engano foi dos dez aos 13, dos 11 aos 13, dois ou três anos. Logo depois desse período, em que deu tudo certo, eu fui pro Coritiba.

Gratidão ao Coritiba: "espero que entendam"

Matheus Cunha em passagem pela base do Coritiba - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

É um clube que eu tenho muita gratidão, apesar de ter saído de uma forma que, na minha opinião, foi... não soube muito, eu só sei que eu fui vendido. Eles falam hoje que a torcida cobra muito, porque me deixaram sair e tudo isso, mas é uma parte da minha vida que eu só tenho gratidão, como eu falei. Espero que o Coritiba entenda e explique aos seus torcedores que por mais que eles pensaram que era um momento bom pro clube, naquele momento, foi um momento muito bom pra mim também. Quem sabe um dia a gente se encontre novamente.

Do Coritiba para a Suíça: "seria mais aproveitado"

O Coritiba queria muito que eu ficasse, pediu pra eu ficar, falou que queria me utilizar no profissional. Porém, você sabe também a situação que é no Brasil, são muitos craques, são muitos bons jogadores na categoria de base e, muitas vezes, os clubes não aproveitam da melhor forma possível. Então, com outros exemplos que eles erraram ao aproveitar, eu acreditei que, naquele momento, seria uma boa opção encontrar coisas novas, porque acreditava que seria mais aproveitado. Parando pra pensar, poderia ser uma história diferente, mas eu sou muito feliz da forma que foi e não ficaria pra tentar ver se me aproveitariam ou não porque sabe como é, principalmente clube no Brasil, tem que dar resultado muito rápido e o Coritiba, no tempo que eu tava lá, em alguns anos brigou pra não cair. Então, às vezes, eles não vão apostar num menino da base porque tem que dar resultado e, às vezes, podem até crucificá-lo. Foi uma decisão que, junto ao Coritiba, eu acredito que foi muito boa pra mim porque me abriu as portas e acredito que ajudou um pouco o Coritiba no que ele queria, no momento.

Saída do Leipzig para o Hertha: "queria jogar mais"

Brasileiro Matheus Cunha comemora gol pelo RB Leipzig, da Alemanha - Divulgação/RB Leipzig - Divulgação/RB Leipzig
Imagem: Divulgação/RB Leipzig

Sair de uma situação daquela pro Leipzig, onde por mais a situação de jogar no Leipzig, tá disputando Champions League, tá lá em cima na tabela, é muito convidativo, é muito gratificante tá naquele momento, só que pra um jogador jovem, por mais que você possa esperar, e tenha tempo pra esperar, eu queria no momento que eu tava aproveitando tão bem a seleção eu queria aproveitar também o meu clube. Então, foi basicamente essa decisão que passou por mim, no momento. Queria sim ter mais minutos, queria sim tá mostrando cada vez mais o meu futebol e melhorando. Eu sou daqueles que acreditam que quanto mais você joga, mais você melhora. Eu queria ter esses minutos pra mim. Queria mostrar o quanto eu sou capaz e posso. Então, foi basicamente essa a decisão. Além do mais, o Klinsmann, que o meu pai é muito fã, me ligou e eu falei: "Pô, pai, ele me ligou". E ele: "Não acredito, não. Um projeto desse tem que ir. O Leipzig é muito bom, mas não pode pensar duas vezes". Então, meu pai foi uma pessoa que pesou muito a contratação, até porque ele chegou pra mim, no momento, e falou: "Olha, meu filho. A gente pode, sem dúvida alguma, ficar no Leipzig e seria uma grande decisão, mas a gente não ter que ter medo de tentar. Você é muito novo. Por mais que a gente erre, a gente tem tempo e você tem que ir pra onde você acha que vão te dar o que você merece e o que você pode retribuir da melhor forma possível. Então, vamos tentar, vamos pro desafio. Você sempre gostou de desafio. Pequeno você já tava indo pra Recife onde quase ninguém iria sair da sua cidade pra outra tão pequeno assim e ter que voltar. Você gosta desse tipo de desafio e acredito que você vai desfrutar e vai dar tudo certo". Como foi.

O poliglota Matheus Cunha: "sempre fui cobrado"

Matheus Cunha brinca durante treino da seleção brasileira sub-23 na Colômbia - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Eu sempre fui muito cobrado na escola por estudar. O meu pai é professor de química, a minha tia é professora de português. Então, eu sempre tive muita cobrança. Desde pequeno, eu nunca gostei de ir pra aula de inglês. Eu odiava inglês. Como inglês eu não tive o básico, eu tive que aprender o francês. Quando você vai pra Europa, normalmente, a maioria das pessoas fala uma segunda língua, que é o inglês. Eu não tinha segunda língua. Além de tudo isso, eu era muito curioso. Eu falei: "Ah, aprender francês? Vou aprender essa língua que todo mundo me fala com ela. Acredito que vou aprender pelo quanto que sou curioso". Foi um momento em que comecei a buscar sozinho. Morava com o Sinval que é um ex-jogador que ficou lá. Ele também me ajudava, todos os companheiros me ajudavam. Tive um pouquinho de tempo, mas aprender aquilo que você gosta, que você tá se sentindo bem, sem dúvida alguma, é mais rápido do que qualquer outra coisa. As outras línguas, como eu te falei, como eu fugia da aula de inglês, eu tive que aprender um pouquinho espanhol porque eu tinha de decidir uma das duas pra fazer o Enem. Minha época de Enem era inglês ou espanhol. Então, eu: "Ah, vou pro espanhol. Não sei nada de inglês. Tem que ir pro espanhol". Aí, aprendi um pouquinho. Aquilo já me ajudou a jogar com outros sul-americanos, espanhóis. Então, aquilo já me ajudou pra que eu pudesse aprender o espanhol. Italiano eu tive treinadores italianos e por ser similar também acredito que eu enrolo legal. Por mais que eu queira, o inglês não deu pra fugir. Dá pra dar um enrolada também, principalmente quando eu vou pra Alemanha, porque o alemão pega e tive que correr pro inglês nesse momento.

Possibilidade de jogar por outra seleção: "zero"

Jamais. É zero possibilidade. Me perguntam isso. Pode até ser que tenha o passaporte português, assim, assim, assim. "E aí, como que fica?". Ou alguma outra seleção que chegue. O meu sonho é jogar uma Copa do Mundo, sem dúvida alguma. Como eu te falei, o meu maior orgulho da carreira é tá disputando algum jogo com a camisa amarela. Aquilo me dá uma satisfação, um sentimento de conseguir muito grande. Por mais carinho que eu tenha por muitas seleções, acredito que o Brasil, por tudo, não tem como pensar em outra, não. Mexe muito comigo.