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Como o Fluminense encaixou estratégia de Odair e segurou "imparável" Fla

Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

09/07/2020 04h00

Dizia Nelson Rodrigues que o "Fla-Flu surgiu quarenta minutos antes do nada". O clássico que decidiu a Taça Rio, na verdade, começou meses atrás, com disputas de bastidores sobre o retorno do Campeonato Carioca. E quando a diferença entre os dois times parecia a maior de todos os tempos em campo, o Fluminense de Odair Hellmann venceu o "imparável" Flamengo de Jorge Jesus e faturou o título sobre o arquirrival.

Em um dos mais "apocalípticos" jogos de toda a história do clássico, disputado em um Maracanã vazio e vizinho de um hospital de campanha durante a pandemia de coronavírus, a maior dos últimos 100 anos, o Flu alcançava exatos 306 minutos sem balançar as redes quando abriu o placar com Gilberto, de cabeça, e surpreendeu o ensurdecedor silêncio do antigo Maior do Mundo.

A estratégia do treinador do Tricolor para bater o Rubro-Negro do português, entretanto, se repetiu. Se a vitória não veio com o Internacional em 2019 o próprio Flu, na Taça Guanabara, desta vez, a equipe conseguiu encaixar as ideias de Odair e segurou o até então imparável Fla.

Em tempos de discursos táticos complicados e modernidades nem tão modernas assim, o Fluminense entrou em campo ciente de suas limitações e da superioridade técnica do rival. Para vencê-lo, explorou suas poucas fraquezas e se aplicou para marcar os craques do time que venceu o Brasil e a América em 2019 — e foi (bem) reforçado.

Sem espaço para craques do Fla

A começar pela defesa, que precisava segurar Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol. E conseguiu. A linha de zaga formada por Gilberto, Nino, Matheus Ferraz e Egídio fez sua melhor partida em 2020 e anulou o melhor ataque do país, que criou muito pouco. Além disso, os laterais fizeram grande partida também no ataque: o lateral-esquerdo iniciou a jogada do gol do lateral-direito, o único do Flu no jogo.

Gilberto marcou de novo sobre o Fla no título do Fluminense na Taça Rio - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Gilberto marcou de novo sobre o Fla no título do Fluminense na Taça Rio
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF


Além do gol de Pedro, que substituiu o uruguaio, o Fla só assustou em uma cabeçada do camisa 27, o "Mister Clássicos", que passou em branco na noite de ontem (8). Muriel, que seria herói no fim da noite, fez linda defesa.

Outra mexida feita por Odair Hellmann -- e bastante criticada -- foi no meio de campo. Em vez de um trio de meias por trás de um centroavante, o técnico escalou um tripé de volantes. A partir do clássico contra o Botafogo, Dodi voltou ao time na vaga de Wellington Silva, e fez mais uma boa partida, assim como Yago. Entre os dois, Hudson distribuiu bem o jogo e funcionou como um "tampão" de espaços por trás da dupla.

"Acho que a mudança tática que nós fizemos também deu muito certo. Fortalecemos o nosso meio campo e aí equilibramos entre as fases do jogo, entre a fase defensiva e ofensiva e, principalmente nesse momento, deu esse equilíbrio importante para a equipe ficar consistente dentro do campo e conseguir fazer as suas execuções táticas e coletivas, mas, principalmente, para que o jogador possa estar bem, confiante, para exercer a sua qualidade no campo de jogo", opinou Odair Hellmann, em entrevista à FluTV.

Dodi fez boa partida como 'terceiro volante' de Odair Hellmann no Fluminense - Lucas Merçon/Fluminense FC - Lucas Merçon/Fluminense FC
Dodi fez boa partida como 'terceiro volante' de Odair Hellmann no Fluminense
Imagem: Lucas Merçon/Fluminense FC


Ainda que não seja a mais plástica de vencer um jogo de futebol, a estratégia de Odair já dava indícios de sua eficiência nas outras partidas: foi o Fluminense o único a incomodar o Flamengo em 2020, utilizando oito homens atrás da linha da bola.

Bola nas costas da 'linha alta' do Fla

Sabendo que o Fla de Jesus joga com a defesa sempre adiantada, o Tricolor começou o jogo com mais posse de bola e ligado no costumeiro ímpeto inicial do Rubro-Negro. Controlando as ações e espaços no meio-campo também com o experiente Nenê, faltava uma bola.

E no ataque, os lançamentos nas costas dos zagueiros rubro-negros voltaram a aparecer, primeiro com os entrosados Evanílson e Marcos Paulo -- que enfim atuou por dentro no ataque e teve boa atuação.

Evanílson e Marcos Paulo voltaram a atuar juntos por dentro, e Fluminense foi mais perigoso no ataque - Lucas Merçon/Fluminense FC - Lucas Merçon/Fluminense FC
Evanílson e Marcos Paulo voltaram a atuar juntos por dentro, e Fluminense foi mais perigoso no ataque
Imagem: Lucas Merçon/Fluminense FC


Depois, com Fernando Pacheco e Caio Paulista, a velocidade foi a arma utilizada em triangulações rápidas.

"Nós fizemos um jogo taticamente perfeito, uma organização defensiva impecável. Só que hoje conseguimos além da organização defensiva, no momento que recuperamos essa posse, nós conseguimos sair através de triangulações curtas, dentro da nossa estratégia buscando espaço nas costas da linha do Flamengo que joga com essa linha alta. E as duas formas encaixaram muito bem", explicou o técnico após o título.

Foi assim que o Tricolor "bateu na trave" na semifinal da Taça Guanabara: reduziu o placar para 3 a 2 e fez mais dois gols, bem anulados pelo VAR. Ainda teve um polêmico pênalti não assinalado -- o árbitro de vídeo viu impedimento -- no próprio peruano.

Mas no Fla-Flu da final da Taça Rio, o jogo aéreo funcionou. Matheus Ferraz virou isca para a defesa, mas foi Gilberto quem se antecipou, bateu Diego Alves e marcou o gol que o Flu precisava.

Parte física atrapalha no segundo tempo

Odair Hellmann "foi à forra" contra Jorge Jesus e Fluminense bateu o Flamengo na Taça Rio - Lucas Mercon/Fluminense FC - Lucas Mercon/Fluminense FC
Odair Hellmann "foi à forra" contra Jorge Jesus e Fluminense bateu o Flamengo na Taça Rio
Imagem: Lucas Mercon/Fluminense FC


Com quase um mês a mais de treinamentos, o Flamengo visivelmente está à frente dos rivais na parte física. Assim, mesmo em um raríssimo dia de pouca inspiração do time de Jorge Jesus, o Rubro-Negro teve armas para chegar ao empate.

"Claro que no segundo tempo a equipe cansou, o que é normal e aqui o discurso não vai ser diferente agora porque nós vencemos. Ele seria igual se tivesse acontecido alguma coisa contrária. Preciso ressaltar que essa equipe tem oito sessões de treinamento e eu iria ressaltar se o resultado fosse ao contrário. Então, faço questão de fazê-lo aqui porque esse é o discurso real", destacou Odair.

A começar pelo banco recheado de opções, que o português utilizou para tentar mudar o jogo: saíram da reserva Pedro, Michael, Vitinho e Diego, mas foi o pulmão o grande aliado do Fla. A partir dos 20 minutos do segundo tempo, o Fluminense estava cansado e baixou ainda mais as linhas.

Após erros de passe, o Rubro-Negro conseguiu uma triangulação e Filipe Luís colocou a bola na cabeça do centroavante ex-Flu, fazendo a lei do ex vigorar no Maracanã. O Flamengo ainda tentou uma blitz final, mas Muriel salvou na melhor chance, de Bruno Henrique, antes de ser substituído.

Muriel é prestigiado e vira herói

Muriel parou cobrança de pênalti de Rafinha e deu o título da Taça Rio ao Fluminense - Mailson Santana/Fluminense FC - Mailson Santana/Fluminense FC
Muriel parou cobrança de pênalti de Rafinha e deu o título da Taça Rio ao Fluminense
Imagem: Mailson Santana/Fluminense FC


O 2020 de Muriel está longe de repetir o 2019 que vivenciou. Com muitas falhas e atuações que não inspiram confiança, o camisa 39 do Fluminense vê o reserva Marcos Felipe pintar como uma sombra. Mas se depender do Fla-Flu, o prestígio seguirá preservado.

Um dos líderes do elenco, o goleiro foi mantido e é titular absoluto do Tricolor. Contra o maior rival, mostrou o porquê: além de uma performance segura e de ter ido bem quando exigido, o irmão de Alisson pegou dois pênaltis e ainda viu Léo Pereira bater o seu para fora, vivendo seu dia de herói no maior clássico do Rio de Janeiro.

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