Agora técnico, Fabinho lembra lutas e saída "sem satisfação" do Corinthians
Em novembro do ano passado, uma goleada por 4 a 1 sofrida diante do Flamengo custou o cargo do técnico Fábio Carille no Corinthians. Além dele, outros profissionais do clube perderam os empregos em meio a uma restruturação. Um deles foi Fabinho, ex-volante com 247 partidas, 17 gols e seis títulos como jogador, e que há três anos trabalhava como auxiliar técnico. Aos 40 anos, ele ainda ressente a demissão.
"Foi uma surpresa muito grande. Mas acontece, faz parte, é o futebol. Você precisa separar a entidade do homem. Hoje tem alguém lá, amanhã vai estar outro, e a vida é isso. Eu saí de lá com um sentimento misto de tristeza e alegria. Eu não tinha problema com ninguém, presidente e diretor, tem alguns que eu conheço há mais de 20 anos. Mas não me deram satisfação nenhuma", diz o profissional, ao UOL Esporte.
"Saí de lá com sensação de dever cumprido. Eu vivi as dificuldades do clube e fui embora com quatro títulos em três anos. É algo que não vai acontecer sempre. As conquistas me marcaram mais que o resto. Quando você ganha dentro de campo e depois ganha fora é como devolver uma aposta que fizeram em você. Não tenho mágoa nenhuma."
Revelado pelo São Caetano, Fabinho defendeu o Corinthians entre 2001 e 2004 e entre 2008 e 2009. Voltou em 2017, quatro anos depois de pendurar as chuteiras, para trabalhar nas categorias de base. Subiu na mesma temporada para o time profissional, como assistente de Fábio Carille. Somou mais um Brasileiro e três Paulistas à galeria de taças: "É surreal participar da construção de uma equipe como essa. É uma experiência que guardo com muito carinho."
Já em 2020, meses após a demissão do Corinthians, Carille fechou com o Al-Ittihad, da Arábia Saudita. Fabinho não seguiu com ele.
"As pessoas sempre perguntam: 'pô, o Fábio foi para a Arábia, por que você não foi?'. Mas não é assim, eu era auxiliar do clube, não era da comissão técnica dele. Nunca falamos disso porque ele não tinha nenhuma responsabilidade de me levar, nem eu quero que ele carregue isso. Ele é meu irmão, nossa amizade vem antes de qualquer situação."
O último título da dupla foi o Campeonato Paulista de 2019.
Planos para o futuro: ao trabalho
Fabinho Félix agora está no mercado. Graduado pela CBF e depois de três anos de experiência como auxiliar, ele quer ser treinador. Antes da paralisação do futebol em razão da pandemia já estudava mercados e possibilidades: "Me preparei muito para isso e estou procurando uma oportunidade para voltar ao mercado como treinador, colocar em prática aquilo que tive oportunidade de aprender com o melhor dos últimos tempos [Carille]. Agora é esperar o futebol voltar à normalidade e retomar conversas."
Enquanto isso, o tempo é ocupado com organização de arquivos pessoais, leitura, descanso, estudo de treinos e processos da época de Corinthians e no desenvolvimento de ações para a "F5 Academy", centro esportivo para crianças que mantém em São Bernardo do Campo.
"A escola nasceu em 2016. Eu já estava na base do Corinthians e fazendo cursos da CBF, mas não tinha vínculo fixo e queria usar o que aprendia. Então comecei a desenhar o projeto, montei um time bom de quatro ex-atletas para coordenar o desenvolvimento esportivo das crianças e levo para teste num clube grande. Não sou empresário, mas abro as portas. Eu pedi muito por uma porta dos 13 aos 18 anos."
30% dos alunos da escolinha são participantes de um projeto social, com treinos financiados por empresários locais.
Versatilidade mesmo sem base
Fabinho tem uma trajetória incomum no futebol. Criado só pela mãe com três irmãos, vivenciou a pobreza e começou a trabalhar cedo, como ajudante de funilaria e flanelinha. Aos fins de semana, jogava futebol na várzea em troca de uma cesta básica. Ali, foi descoberto: "Para mim, essa cesta básica era a vitória. Mas com 18 anos Deus olhou para mim, enfrentei o São Caetano e chamei atenção. Sempre na raça. Nada para mim é fácil."
Sem formação nas categorias de base, Fabinho chegou direto para o profissional do São Caetano. E aos poucos ganhou espaço com o técnico Jair Picerni.
Tínhamos um time muito bom, às vezes eu ficava fora até de treinos. Então, fazia atividades separado em 1999, aí em 2000 começaram a faltar peças pontuais, jogadores mais experientes não queriam cumprir outra função, e eu acabava indo. Treinava de lateral, zagueiro, fora de posição, e isso acabou abrindo portas. Fui contratado pelo Corinthians jogando de lateral".
Baú do Instagram: carreira vitoriosa
Alguns dos episódios mais marcantes da carreira de Fabinho fora do Corinthians foram fora de posição. Em 2006, ele foi lateral-direito na campanha do Santos campeão paulista sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. No Toulouse terceiro colocado do Campeonato Francês em 2006/2007, atuou como ponta-direita. No Cruzeiro vice-campeão brasileiro de 2010, atuou em quase metade dos jogos como zagueiro.
Hoje, ele revisita a carreira que também teve duas passagens pelo Japão, duas temporadas no Bahia e uma nova aventura no São Caetano por meio do Instagram, com postagens que relembram páginas de jornais e vídeos de seus lances, além de fotos inéditas da carreira. Os filhos Samuel, de 12 anos, e Davi, 7, ajudam na tecnologia. Os dois são canhotos e querem jogar futebol, mas Fabinho (que também é pai da estudante de Psicologia Mayara, 19) não garante o sucesso em campo.
"Minha briga hoje é com o Fortnite (risos). "
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